Num mau arranque do ano letivo para [a educação] especial, confirma-se o pior dos cenários: faltam professores e técnicos para apoiar os alunos com necessidades. A Renascença encontrou um agrupamento de escolas de Mangualdade.
“Passado um mês, o cenário confirma-se e as indicações que tínhamos relativamente ao aumento do número de alunos e à manutenção do número de professores não serviram para colmatar as dificuldades que se verificam nas escolas. A nossa situação continua a ser bastante grave”, afirma (...) Ana Sezudo, da Associação Portuguesa de Deficientes.
A responsável diz que os alunos estão a receber menos tempo de apoio e que já há pais com medo de exigir mais.
“O tempo de apoio para estes alunos diminuiu drasticamente e chegamos a ter alunos com apenas meia hora de apoio semanal, o que nos parece insuficiente”, afirma, adiantando que as alternativas que existem “são os centros de recurso e instituições, que estão também em situação bastante complicadas”.
“Temos situações de pais que, na maior parte dos casos, têm bastante receio de falar, porque precisam que a escola ou aquele centro fique com os seus filhos e não podem ou querem exigir muito mais. As situações são bastante complicadas”, revela Ana Sezudo.
Um técnico para 97 alunos
O cenário de grandes dificuldades é comprovado, por exemplo, no agrupamento de escolas de Mangualde, onde há apenas um técnico e 13 professores para 97 alunos com necessidades educativas especiais.
A coordenadora Joaquina Gonçalves diz que com o trabalho em grupo se consegue atingir bons resultados, mas o mesmo não se pode dizer relativamente à falta de técnicos.
Há casos concretos de constrangimentos. "Nas unidades de autismo, em que os meninos não estão a beneficiar de terapia; na fisioterapia, temos uma menina com paralisia cerebral que lhe foi retirada a fisioterapia; um outro aluno com implante coclear foi-lhe retirada a terapia da fala”, relata a professora.
O diretor do agrupamento de Mangualde, Ângelo Figueiredo, recorda o espanto com que recebeu a notícia do corte de técnicos para este ano letivo.
“Durante os trabalhos de lançamento do ano lectivo, fazemos plano de actividades e isso vai para a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, a DGEstE. Aí pedimos, aluno a aluno, determinadas horas para apoio. Em agosto, levamos a ripada. Pode haver escolas em que um técnico chega e sobra!”, ironiza.
Fonte: RR
4 comentários:
Por vezes não consigo perceber estes rácios....13 professores para 97 alunos??? dá uma média de 7 alunos por professor. Será assim tão mau???
"Anónimo", em educação especial não se pode atender a rácios! O número de horas/docente/técnico a envolver com um ou mais alunos está sempre dependente do seu perfil de funcionalidade. Em teoria, o funcionamento de uma unidade de multideficiência requer a afetação de dois docentes para assegurar o seu pleno funcionamento. Se uma unidade contemplar apenas dois ou três alunos, o rácio é muito baixo!
Trata-se de um mero exemplo especulativo. Cada aluno com necessidades educativas especiais tem o seu perfil de funcionalidade e, em função disso, requer um conjunto de respostas e de recursos, incluindo os humanos.
Em síntese, não se pode criar um rácio de alunos com necessidades educativas especiais por aluno!
Caro João, compreendo e aceito plenamente as suas justificações, No entanto, e com base na minha experiência profissional ( quer no âmbito da rede pública e na privada, julgo IPSS) e tendo em conta também o perfil de funcionalidade dos alunos também poderei contrapor que possivelmente nem todos os alunos serão passiveis de apoio directo.
Mas como diz e bem, o contexto (que desconheço)será sempre determinante para aferir se o número de horas/docente/técnico é ou não suficiente.
Mas o ponto em que queria tocar é que, por vezes, não é o número de docentes/técnicos envolvidos que deverá estar em questão mas sim a sua organização/distribuição.
Nota: cada vez mais, parece me que a figura de prof. EE configura-se-á como a de um conselheiro, orientador, excepto é claro no que toca a alunos de unidades
Um grande bem haja
Aceito a perspetiva de que nem todos os alunos serão passiveis de apoio direto por parte de um docente de educação especial. Já contactei com casos desses. Daí eu ter salientado, no comentário anterior, que a afetação de recursos, materiais e humanos, depende do perfil de funcionalidade de cada aluno.
Contrariamente ao que afirma, e que já foi perspetivado no modelo anterior (Decreto-Lei n.º 319/91), considero que a função do docente de educação especial é sobretudo de cariz intervencionista com os alunos com necessidades educativas especiais na medida em que a componente letiva destes docentes é definida em função das determinações consignadas em cada PEI. O papel de suposto "conselheiro, orientador" foi praticamente excluído com o Decreto-Lei n.º 3/2008. Abraço
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