Shadow schooling é o fenómeno vulgarmente conhecido como “explicações”. Em Portugal, este fenómeno tem vindo a crescer a um ritmo exponencial. Dados do PISA relativos a explicações de matemática mostram que em 2012, 35% dos alunos inquiridos afirmava ter apoio fora da escola e vários estudos académicos confirmam uma tendência crescente deste fenómeno.
A expansão das explicações está muitas vezes relacionada com a necessidade dos pais de colocarem os seus filhos numa corrida competitiva desde cedo onde se acredita, sem evidência, que as boas notas são a garantia de sucessos futuros. Este aspeto está relacionado com aquilo a que o sociólogo britânico Ronald Dore, chamou “The diploma disease” onde a escola é mais o sitio onde se adquirem diplomas e qualificações, e muito pouco o sitio onde se aprende e se educa. Nestas condições, quando os diplomas assumem um papel fundamental na vida profissional futura dos alunos, não podemos estranhar o crescimento de mecanismos paralelos às escolas que permitam melhorar a vantagem competitiva de alguns na luta feroz pelo sucesso profissional.
E neste contexto, o papel da escola permanece incerto e a qualidade da educação é posta em causa numa sociedade em que diplomas e resultados se acumulam e são o foco principal.
A escola terá que ir muito além das notas e dos exames, porque é indispensável educar para a gestão de emoções, para a cidadania responsável, para a criatividade, para o pensamento crítico, autonomia, proatividade e maturidade. As crianças de hoje são os adultos do futuro e precisamos que cresçam com inteligência emocional, com criatividade, com capacidade de interação em equipa. A questão é que estas competências, cada vez menos se aprendem nas escolas porque os testes, os exames são o mais importante. Em casa e nas famílias, o tempo é cada vez mais escasso, e mais uma vez os testes são importantes, o futuro profissional é importante, e lá estamos de novo nas notas… Traduzindo Dore (1980) “a menos que os padrões de recrutamento sejam alterados para que as escolas possam ser aliviadas da difícil tarefa de tentar balancear a educação das crianças com a sua rotulagem e ordenação, melhorar a qualidade da educação parece ser uma tarefa impossível”.
E porque a escola é muito mais do que o ranking das notas, a Escola Amiga da Criança, um projeto da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), da Leya e do Psicólogo Eduardo Sá, promove um trabalho de equipa entre pais, alunos e professores, para que juntos concebam e concretizem ideias extraordinárias para um desenvolvimento mais feliz da criança. Uma Escola Amiga da Criança faz-se com todos os pais e com todos os professores, em benefício de todas as crianças, incentivando desta forma a uma escola que educa e é feliz. Esta iniciativa pretende estimular as comunidades educativas e a sociedade em geral a olharem de forma renovada e inspirada para os aspetos fundamentais do desenvolvimento dos alunos.
O governo Português criou um documento neste sentido definindo o perfil do aluno para o século XXI onde encarrega as escolas destas funções. Contudo não lhes aliviou a tarefa de rotular e ordenar alunos. Terá nas palavras de Dore, pedido às escolas o impossível?
Professora Catedrática na Católica Porto Business School, da Universidade Católica Portuguesa, entidade parceira do projeto Escola Amiga da Criança.
Fonte: Observador
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