quarta-feira, 18 de julho de 2018

Ensinar matemática a crianças autistas é o LEMA de Isabel

Chama-se Learning Environment on Mathematics for Autistic Children (LEMA) e é exatamente o que a tradução literal indica: um ambiente digital que pretende ensinar matemática a crianças com autismo. Foi concebido por Isabel Santos no âmbito da tese de doutoramento na área de Multimédia em Educação, pela Universidade de Aveiro, e contou com o apoio dos investigadores do projecto Geometrix. Constitui-se como uma plataforma online de livre acesso complementar ao ensino escolar.

Licenciada em Educação Básica e mestre em Ciências da Educação, na área de especialização de Educação Especial, Isabel sentiu vontade de criar um projeto digital para crianças com necessidades educativas especiais quando ainda frequentava o mestrado. “Concebi o LPMAT, com atividades de Português e Matemática para crianças com necessidades especiais, desde cegueira, surdez, deficiência mental e motora e com Perturbação do Espetro do Autismo (PEA)”, explica (...). No entanto, devido ao “elevado volume de trabalho” — uma vez que o projeto abrangia duas áreas científicas —, teve de optar por uma delas.

Foi por estar “mais familiarizada com a matemática” e ter contacto com a Linha Temática Geometrix — “uma linha de investigação que pertence ao Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações (CIDMA) da Universidade de Aveiro” — que Isabel decidiu dedicar-se apenas aos números.

Nasceu então o LEMA, uma plataforma com 32 classes de atividades subdivididas em níveis de dificuldade que podem ser personalizadas de acordo com o perfil do aluno. “O tutor cria uma conta no LEMA e, se não conhecer a plataforma, pode, ele mesmo, realizar as atividades. Depois de conhecer as atividades, seleciona as mais adequadas ao perfil funcional do seu aluno”, explica Isabel.

A personalização dos exercícios é a resposta ao “alargado espetro de autismo”. A criadora da plataforma explica que, geralmente, a PEA se caracteriza por “dificuldades na comunicação e interação social e padrões repetitivos de comportamentos e atividades”, mas, ainda assim, um aluno pode ter “um alto ou um baixo desempenho escolar, é muito heterogéneo.” A personalização das atividades permite, então, um teste mais adequado às capacidades e necessidades dos alunos.

As atividades abrangem quatro áreas — geometria e medida, números e operação, organização e tratamento de dados e álgebra — e estão pensadas de forma a permitir a compreensão imediata do exercício e dos conceitos matemáticos inerentes. “O LEMA fornece informações em várias representações: texto, áudio, vídeo e imagem. As atividades têm interfaces simples, integram poucos elementos no ecrã e as instruções são diretas e simples, porque muitas vezes os alunos com PEA têm dificuldade na interpretação de enunciados”, refere a criadora da plataforma.

No final dos exercícios, o LEMA fornece feedback de reforço ao aluno, uma vez que desvenda conceitos e explicações, e ao tutor, permitindo que tenha acesso aos resultados do aluno (ou alunos, uma vez que podem ser associadas várias contas de aluno a uma conta de tutor).

Aplicabilidade alargada a mais idades e necessidades

Apesar de ter sido concebido para crianças com autismo, a plataforma está preparada para crianças com outro tipo de necessidades educativas especiais. Isabel refere que “vários professores de Educação Especial consideram que o LEMA também se ajusta a crianças com défice cognitivo”. Esta flexibilidade verifica-se igualmente em relação à idade dos utilizadores: foi desenhado para crianças entre os seis e os 12 anos, mas pode ser adequado para pessoas que pertençam a outras faixas etárias, porque “nem sempre a idade cronológica corresponde à idade cognitiva”, afirma a criadora.

Atualmente, “o LEMA está pronto a ser usado”, mas para chegar ao produto final foi necessário realizar vários testes. Numa primeira fase, Isabel testou a viabilidade da plataforma apenas com quatro alunos e sentiu necessidade de reajustar alguns aspetos. Já a segunda versão foi testada com 23 professores que usaram o LEMA com os seus alunos e “o feedback foi bastante positivo”, refere. Ainda assim, foram feitas alterações e foi só à terceira que o LEMA ficou definitivamente concluído.

“O LEMA está no bom caminho, permite o desenvolvimento de capacidades matemáticas — nomeadamente o raciocínio matemático —, mas também permite o desenvolvimento de outras competências, como a leitura, a interação entre pares e a gestão das emoções no confronto com feedbacks”, realça.

A plataforma valeu um prémio a Isabel no concurso EDF Oracle E-Accessibility Scholarship do Fórum Europeu da Pessoa com Deficiência. “O meu projeto preenchia os requisitos de candidatura: era concebido por uma pessoa com deficiência, era na área das tecnologias digitais e apoiava alunos com necessidades especiais”, conta. Concorreu, venceu e em setembro vai levar o LEMA ao Parlamento Europeu e trazer o prémio para casa.

1 comentário:

Anónimo disse...


E estes desgraçados agora vão para onde?
Acabam-se as salas de ensino estruturado…

Vão ficar nos centros de apoio à aprendizagem juntos com os multideficientes?

Mas atenção, o Manual diz que cada agrupamento apenas tem direito apenas a um centro de apoio à aprendizagem… Vai ser dos 6 aos 18 anos…


Isto vai ser uma açorda do caraças…

Acho que sim…. todos para a sala a tempo inteiro… tudo ao molho e fé em deus
Não vai haver pedagogia diferenciada que resista….