A associação RYE France (Recherche sur le Ioga dans l’Éducation) surgiu há precisamente 40 anos pela mão de Micheline Flak, professora de ioga e professora de Inglês num colégio em Paris. Há cinco anos, a associação foi reconhecida pelo Ministério da Educação de França e entrou no programa curricular. Neste momento, em Paris, está a ser desenvolvida uma programação especial para comemorar os 40 anos desta associação que há 10 anos foi fundada no nosso país, no Porto, com o nome Associação RYE Portugal (Recherche sur le Ioga dans l’Éducation) que tem trabalhado junto de professores e educadores. Porque acredita que o ioga faz todo o sentido no contexto escolar, na educação.
As técnicas utilizadas são variadas, inspiradas no ioga imemorial, e pretendem, essencialmente, o equilíbrio dos alunos para que estejam mais presentes nas aulas e desenvolvam o gosto pela aprendizagem. “Claro que os professores que se formam no RYE também aprendem pedagogias inovadoras, descobrem toda uma outra possibilidade de ensinarem, e também encontram uma outra energia”, revela Teresa Messeder, da associação RYE Portugal. “Quando sentem que os alunos estão cansados, ou agitados, ou desinteressados, os professores utilizam um exercício, dos muitos que aprenderam, e sabem quando e como os aplicar, poderão ser três minutos, mas isso chega para que as atitudes mudem”, acrescenta.
A concentração é privilegiada neste ioga que pensa na educação e que dá ferramentas que podem ser utilizadas pelos professores dentro da sala de aulas em função das turmas que têm à sua frente. Exercícios respiratórios, de dois a quatro minutos, melhoram a oxigenação e facilitam a concentração e a atenção. Os alunos ficam mais despertos, mais disponíveis. Teresa Messeder garante que há alunos, sobretudo ao final da tarde, que já pedem aos professores que façam essas técnicas de relaxamento.
Relaxar alunos, mantê-los focados, aumentar o gosto pela aprendizagem, ter alunos mais felizes. “Os professores assim sabem que há outras formas, outras hipóteses, de enfrentarem os problemas de indisciplinas atuais e de se aproximarem de certos alunos mais difíceis. Quando eles, por vezes, menos esperam, o professor atento, sempre atento, propõe um exercício novo no momento justo, em que os mais frágeis até esquecem os seus medos. O professor é para eles como um mágico, pois traz sempre uma novidade junto a uma aprendizagem que eles não vão esquecer”, refere.
Um professor pode fazer milagres
O ioga para a educação tem seis pontos de trabalho que são a base das formações RYE. Criar uma boa relação entre alunos e professores. Preparar as articulações para melhor trabalharem. Desenvolver a consciência da boa postura para melhor aprenderem. Aprender a respirar melhor. Relaxar o corpo e a mente e, desta forma, a aprendizagem é bem acolhida. Concentrar a atenção para memorizar.
Ser professor é uma enorme responsabilidade. Teresa Messeder refere que é importante modificar atitudes para uma vida mais serena. O docente deve fazer escolhas acertadas, organizar a vida no trabalho e em casa. Não se pode dispersar, deve preparar as suas coisas com antecedência, não deixar tudo para o último minuto. Tem de organizar o seu tempo para chegar a horas. Fazer introspeção e perguntar-se a si próprio “quem sou eu?”. Fazer exercícios de concentração, manter a mente serena. E colocar a pergunta sem medo da resposta: gosto de ser professor?
“Definir as nossas escolhas na vida em função das nossas aptidões pode ser um erro. Quando se escolhe ser professor ou professora é por sentir essa vocação? Ou porque é um emprego a que se concorre porque com os estudos que fizeram têm aptidões para concorrerem a esse trabalho?”, questiona. “Um professor(a) que tem aptidões para o ser, mas se não gosta do que faz, se não consegue lidar com os alunos, então que se retire, para evitar males maiores para si e para os outros. Se continuar, mais cedo ou mais tarde vai começar a entrar num estado de stress, na rampa descendente que já não consegue controlar.” “O burnout não será uma das consequências de um trabalho que não se gosta de fazer?”, pergunta.
Professores mais tranquilos, alunos mais confiantes. Para ser professor é preciso ter alma de professor. Estar de corpo, mente e espírito. Tudo isso chega aos alunos. Teresa Messeder avisa, no entanto, que os problemas dos alunos não são apenas os problemas da escola. “Muitos dos alunos, desde crianças até grandes, vão para a escola com dois pesos: as mochilas nas costas e problemas familiares e outros na cabeça. Mas um professor atento e conhecedor dos seus alunos, e com a sua autenticidade, faz milagres”, afirma.
A responsável defende que a introdução do Ioga RYE em contexto escolar faz todo o sentido. “E seria importante também criar sessões de ioga para todo o pessoal escolar”. Em abril começa mais um ciclo de formações RYE para professores de diferentes níveis de ensino, professores de ioga, pais, psicoterapeutas, educadores, especialistas em psicomotricidade.
“O Acolhimento dos Alunos e a Relação com os Outros” é o primeiro workshop que terá lugar nos dias 14 e 15 de abril. Uma formação que propõe exercícios para o corpo e para a voz, de forma a dar confiança aos alunos e criar dinâmicas favoráveis ao estudo. “O Corpo na Aprendizagem” é o segundo, nos dias 12 e 13 de maio, para ensinar a estimular capacidades de aprendizagem e motivação apoiando-se na relação corpo e mente. Depois, em setembro, nos dias 29 e 30, abordam-se emoções e a criatividade numa oficina que pretende ensinar técnicas oriundas do ioga que permitem equilibrar as emoções, favorecer a autoestima, e estimular a expressão da criatividade. Em 17 e 18 de novembro, abordam-se práticas para serem aplicadas na sala de aula, a diferentes idades e contextos, tendo em conta o desenvolvimento físico, psicoafetivo e cognitivo dos alunos.
Fonte: Educare por indicação de Livresco
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