quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Burnout: quando o trabalho se transforma em doença

Não são só os alunos que sofrem de burnout. Os professores também:. “O burnout dos professores é uma das causas do burnout nos alunos”, frisa João Marôco. 

O fenómeno tem sido investigado nos docentes, que “estão cada vez mais expostos a factores de stress”, refere o autor deste estudo e professor universitário.

Renato Albuquerque ainda gosta da profissão mas este professor de 53 anos confessa já não investir o que devia por não se sentir recompensado. Diz sentir “uma grande instabilidade” devido a todas as medidas que vão sendo tomadas pelo Ministério da Educação. “As salas estão cada vez mais cheias de alunos, e depois pedem para explicar [a matéria] várias vezes. À terceira, já perdi a paciência”, revela o professor do ensino secundário.

De acordo com Rui Gomes, professor na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, este é um sinal de burnout. “A mudança no estatuto da carreira docente contribuiu para o aparecimento do burnout nos professores”, afirma. Estes deixam de olhar para os alunos como pessoas, tratando-os como objetos, clarifica.Outra das características do burnout é o absentismo: “o professor deixa de dar aulas”, aponta João Marôco.

Foi o que aconteceu com Maria Abranches. Devido à indisciplina de um dos alunos, esta professora do 1.º ciclo ficou um mês em casa de baixa a tomar anti-depressivos. “A indisciplina continua a ser um dos maiores precursores de burnout nos professores”, refere Rui Gomes.

Outra das causas é a falta de envolvimento dos pais no ensino. Maria pode confirmá-lo: “A criança fazia o que queria e os pais não queriam saber”. “Tinha todos os dias, à porta da escola, a polícia por causa da indisciplina do menino. Ficava numa grande ansiedade e com palpitações”, continua a professora de 41 anos. A situação que vivia acabou por se refletir na sua saúde – uma úlcera no estômago. “Além disso, não me podiam dizer nada na escola que eu desatava a chorar”, acrescenta. 

Se não fosse o apoio do marido e dos pais, e a obrigação que sentia de não poder falhar em relação aos filhos, Maria não teria recuperado. A rede social de apoio é “extremamente importante na atenuação do burnout”, conclui João Marôco.

Por Vanessa Batista

O texto pode ser consultado na íntegra em Público online.

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