terça-feira, 3 de maio de 2011

Azul e Amarelo

No (excelente) simpósio que a ANDEE organizou em Águeda com a colaboração da Câmara Municipal local (em 30 de Abril de 2011), originou-se uma interessantíssima discussão sobre a relação entre os CRI (Centros de Recursos para a Inclusão) e as Escolas Regulares. É um tema que merece uma atenção muito particular porque frequentemente esta relação é encarada como obviamente benigna. O termo “obviamente” é usado (obviamente) de forma estimuladora… Pareceria óbvio que as escolas regulares, quando incluem alunos com dificuldades, necessitariam de usar competências que estavam sediadas nas instituições que se responsabilizavam pela educação destes alunos. Assim, estabelecer esta parceria parece de tão bom senso, tão complementar que talvez nem pareça ter muita discussão. Mas tem. E muita. Senão vejamos:
1. Sabemos que os professores das escolas regulares precisam de técnicos dos CRI’s. Mas será que o contrário também é verdade? Os técnicos dos CRI’s têm que aprender alguma coisa na escola regular ou vêm só “prestar serviços”? Conhecemos muitas situações em que existe um desconforto nas escolas pelo facto dos técnicos oriundos dos CRI’s seguirem modelos de intervenção demasiado clínicos e terem dificuldade em se integrarem na dinâmica da escola. Sem esta inclusão na vida da escola, a intervenção destes técnicos fica muito comprometida por não abarcar os contextos reais em que as crianças são educadas.
2. Por outro lado, questiona-se quem deve gerir estes recursos suplementares à escola. Se não houver uma articulação planeada e um diálogo efectivo entre os CRI’s e as Escolas, podemos correr o risco de haver uma política de recursos dos CRI’S que não serve às escolas. Ora parece que os recursos dos CRI’s são predominantemente para as escolas e deverão ser as escolas que em função das necessidades educativas dos seus alunos prevêem e estão na primeira linha de gestão dos recursos existentes. Para isto é preciso continuar a aprofundar uma relação “entre iguais” e não de gestores e clientes.
3. Por fim, precisamos que os recursos não sejam cortados. Diz-se que todas as escolas têm um psicólogo: só que algumas têm um psicólogo 2 horas por semana (2 horas?). Sabemos das restrições inaceitáveis que estão a ser feitas para a contratação de técnicos de Psicomotricidade e de Serviço Social. Se continuamos a cortar os recursos, qualquer dia temos de mudar o nome aos Centros…
Lembrei-me que quando se pinta, junta-se o azul e o amarelo para dar verde. Basta esta junção mecânica de duas cores para originar uma terceira. Mas isto só se passa nas cores: juntar uma escola com um CRI não origina necessariamente algo de diferente e sobretudo de desejável. Pensar assim demonstra um pensamento mecanicista e divorciado da realidade. Precisamos que continuar a intervir nas mudanças que cada uma destas estruturas tem de fazer para poder educar todos com a qualidade a que têm direito.
David Rodrigues
Presidente da Pin-ANDEE
Editorial da Newsletter de Maio de 2011 (1ª Quinzena)

2 comentários:

Atena disse...

Muitíssimo pertinentes todas estas questões. Tenho esperança que todas estas ideias sejam descutidas com assertividade, clareza, sem subterfugios, nem jogos de interesses à mistura... O objectivo destas parcerias DEVE centra-se nas crianças e no que de melhor se lhes possa proporcionar.
Abraço

Ofélia disse...

Excelente imagem.