Dois em cada dez portugueses sofrem de perturbações psiquiátricas e o país revela "um padrão atípico, em termos europeus", de prevalência destas doenças, com números que se aproximam dos dos Estados Unidos, o país com a maior taxa de população com doenças mentais no mundo.
As conclusões são do primeiro estudo que faz o retrato da saúde mental em Portugal e que se insere na iniciativa mundial dos estudos epidemiológicos da Organização Mundial de Saúde (OMS), coordenada pela universidade norte-americana de Harvard e que envolve outros 23 países. Os seus autores descrevem-na como a "maior base de dados do mundo" na área, com mais de 100 mil pessoas entrevistadas.
O estudo português, cujos resultados preliminares tinham já sido apresentados em Março mas sem incluírem a comparação com todo o universo dos países observados, revelou que 22,9 por cento dos 3849 entrevistados sofrem de perturbações psiquiátricas, aproximando-se dos 26,3 por cento dos EUA.
Países do Sul da Europa com os quais Portugal normalmente se compara têm taxas bem mais baixas - Espanha fica-se pelos 9,2 por cento e Itália pelos 8,2 por cento - e mesmo os países nórdicos, onde a prevalência destas doenças é elevada, estão abaixo dos números nacionais.
Segundo o coordenador do estudo português, Caldas de Almeida, no topo dos problemas estão as perturbações de ansiedade, com 16,5 por cento, as perturbações depressivas, com 7,9 por cento, as perturbações de controlo dos impulsos (3,5) e as perturbações relacionadas com o álcool (1,6). Os mais afectados são as mulheres e os jovens dos 18 aos 24 anos e, dentro destes dois grupos, especialmente aqueles que estejam separados, viúvos e divorciados ou tenham níveis de literacia baixos e médios.
Ao nível do acesso aos serviços de saúde, o estudo constatou que existem "coisas boas e más". Segundo Caldas de Almeida, "os cuidados primários e de clínica geral têm uma acessibilidade muito boa em termos europeus, enquanto os serviços especializados já não têm uma performance tão boa", disse em declarações à agência Lusa.
Para além de medir a prevalência das doenças mentais, o estudo também tem como objectivo medir "o impacto destas doenças na produtividade de um país, em termos de incapacidade, de faltas ao trabalho e de doenças físicas".
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