Estão a aumentar os casos de crianças e jovens em risco nas famílias mais ricas. A denúncia é da presidente da Comissão Ocidental de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Sintra. "Temos processos transversais a todos os estratos sociais, mas há cada vez mais casos oriundos dos mais elevados", diz Teresa Villas. A denúncia foi feita durante a apresentação dos relatórios das duas CPCJ de Sintra, a ocidental, que abrange a zona mais rural, e a oriental, que abrange as duas cidades de Agualva-Cacém e Queluz.
"Quanto mais elevada é a classe social, mais complicado é o nosso trabalho, porque esta gente tem uma influência política enorme, alguns até são de concelhias de partidos, outros são advogados que nos enfrentam ou têm sempre um escritório a representá- -los", diz.
Apesar de não poder entrar em pormenores, Teresa Villas diz tratar-se de famílias "que saem nas revistas cor-de-rosa", que vivem em zonas como a Quinta da Beloura, as quintas de Sintra ou o Casal da Granja.
A denúncia é corroborada por Helena Vitória, responsável pela CPCJ Oriental. "Não temos tantos, mas há casos sinalizados no Belas Clube de Campo, por exemplo, onde há maior resistência e todo um saber para contornar as coisas. São famílias que vêm às reuniões com advogados, e embora alguns tentem olhar para o que se passa com a criança, já houve advogados com uma postura ética extremamente má."
Segundo esta técnica, as situações ocorrem em famílias ditas normais e envolvem "maus tratos psicológicos e conflitos familiares como casos de violência doméstica".
Ao contrário das famílias mais pobres, que "são visíveis e deixam--se expor, estas não. Sabem resguardar-se, têm pediatra e psicólogo privado, encomendam os relatórios, pagam o que for preciso e chegam a ameaçar as comissões", acrescenta Teresa Villas.
A situação é do conhecimento da Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, que diz estar a acompanhar o problema. "É um fenómeno transversal, mas é um problema muito sério em que vamos ter de pensar, porque há um conjunto de pessoas e instituições que acham que a lei não se aplica às crianças e jovens que pertencem a determinadas camadas da população", admite Maria de Fátima Duarte.
Em declarações ao DN, a representante da Comissão Nacional avança que "há situações gravíssimas em que as CPCJ pedem a colaboração a colégios particulares que se recusam terminantemente a dar qualquer tipo de informação". "Muitas vezes até escondem, o que coloca as crianças em situações de perigo ainda maior", lamenta.
Além disso, revela, há pressões directas sobre a comissão. "Quando não conseguem resolver as coisas ao nível das CPCJ recorrem à Comissão Nacional porque não querem a intervenção sobre as suas crianças e acham que por pertencerem a uma elite o sistema de protecção não funciona com elas. Chegam a pedir relatórios a psicólogos e pedopsiquiatras, o que dificulta o trabalho, mas não impede a protecção. Quando as famílias não colaboram os casos são remetidos para tribunal", assegura a mesma fonte.
Contactado pelo DN, o presidente da Comissão não quis comentar o assunto, remetendo qualquer análise para a apresentação do relatório nacional em Junho.
As duas CPCJ de Sintra registaram mais 1152 casos em 2009, valor que a somar aos casos transitados e reabertos soma 2814 casos em curso.
"A maior parte ocorre em famílias nucleares, com pai e mãe, ambos a trabalhar, e em famílias sem problemas sociais que não vive dos subsídios. O discurso dos pais separados e com dificuldades serve apenas para tranquilizar consciências", adianta Teresa Villas.
1 comentário:
Preocupante!Já que essa famílias não se misturam tanto como as de classe social mais baixa.Conseguindo esconder esses problemas,e as crianças sofrem sem ninguém saber.Sei de um caso,em que se começou a ouvir a criança de 3 anos a dizer à mãe na rua,em pânico:Não grites mamã,não grites!A mãe disfarçou,mas o certo é que esse episódio se repetiu já mais vezes.Diz a mãe que grita para não bater,mas será que isto não é violência?Pois a criança parece entrar em pânico sempre que se levanta a voz...tomando atenção,ouvem-se os gritos principalmente à noite,aquando o regresso a casa dos pais e das crianças.Família dita normal,pai mãe,2 filhos,cão e gato.Fico triste,muito mesmo...há que denunciar,mas como?Abraço.
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