quinta-feira, 6 de maio de 2010

Estão a aumentar os casos de violência contra crianças em famílias ricas



Estão a aumentar os casos de crianças e jovens em risco nas famílias mais ricas. A denúncia é da presidente da Comissão Ocidental de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Sintra. "Temos processos transversais a todos os estratos sociais, mas há cada vez mais casos oriundos dos mais elevados", diz Teresa Villas. A denúncia foi feita durante a apresentação dos relatórios das duas CPCJ de Sintra, a ocidental, que abrange a zona mais rural, e a oriental, que abrange as duas cidades de Agualva-Cacém e Queluz.
"Quanto mais elevada é a classe social, mais complicado é o nosso trabalho, porque esta gente tem uma influência política enorme, alguns até são de concelhias de partidos, outros são advogados que nos enfrentam ou têm sempre um escritório a representá- -los", diz.
Apesar de não poder entrar em pormenores, Teresa Villas diz tratar-se de famílias "que saem nas revistas cor-de-rosa", que vivem em zonas como a Quinta da Beloura, as quintas de Sintra ou o Casal da Granja.
A denúncia é corroborada por Helena Vitória, responsável pela CPCJ Oriental. "Não temos tantos, mas há casos sinalizados no Belas Clube de Campo, por exemplo, onde há maior resistência e todo um saber para contornar as coisas. São famílias que vêm às reuniões com advogados, e embora alguns tentem olhar para o que se passa com a criança, já houve advogados com uma postura ética extremamente má."
Segundo esta técnica, as situações ocorrem em famílias ditas normais e envolvem "maus tratos psicológicos e conflitos familiares como casos de violência doméstica".
Ao contrário das famílias mais pobres, que "são visíveis e deixam--se expor, estas não. Sabem resguardar-se, têm pediatra e psicólogo privado, encomendam os relatórios, pagam o que for preciso e chegam a ameaçar as comissões", acrescenta Teresa Villas.
A situação é do conhecimento da Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco, que diz estar a acompanhar o problema. "É um fenómeno transversal, mas é um problema muito sério em que vamos ter de pensar, porque há um conjunto de pessoas e instituições que acham que a lei não se aplica às crianças e jovens que pertencem a determinadas camadas da população", admite Maria de Fátima Duarte.
Em declarações ao DN, a representante da Comissão Nacional avança que "há situações gravíssimas em que as CPCJ pedem a colaboração a colégios particulares que se recusam terminantemente a dar qualquer tipo de informação". "Muitas vezes até escondem, o que coloca as crianças em situações de perigo ainda maior", lamenta.
Além disso, revela, há pressões directas sobre a comissão. "Quando não conseguem resolver as coisas ao nível das CPCJ recorrem à Comissão Nacional porque não querem a intervenção sobre as suas crianças e acham que por pertencerem a uma elite o sistema de protecção não funciona com elas. Chegam a pedir relatórios a psicólogos e pedopsiquiatras, o que dificulta o trabalho, mas não impede a protecção. Quando as famílias não colaboram os casos são remetidos para tribunal", assegura a mesma fonte.
Contactado pelo DN, o presidente da Comissão não quis comentar o assunto, remetendo qualquer análise para a apresentação do relatório nacional em Junho.
As duas CPCJ de Sintra registaram mais 1152 casos em 2009, valor que a somar aos casos transitados e reabertos soma 2814 casos em curso.
"A maior parte ocorre em famílias nucleares, com pai e mãe, ambos a trabalhar, e em famílias sem problemas sociais que não vive dos subsídios. O discurso dos pais separados e com dificuldades serve apenas para tranquilizar consciências", adianta Teresa Villas.

1 comentário:

Dulce Bregas disse...

Preocupante!Já que essa famílias não se misturam tanto como as de classe social mais baixa.Conseguindo esconder esses problemas,e as crianças sofrem sem ninguém saber.Sei de um caso,em que se começou a ouvir a criança de 3 anos a dizer à mãe na rua,em pânico:Não grites mamã,não grites!A mãe disfarçou,mas o certo é que esse episódio se repetiu já mais vezes.Diz a mãe que grita para não bater,mas será que isto não é violência?Pois a criança parece entrar em pânico sempre que se levanta a voz...tomando atenção,ouvem-se os gritos principalmente à noite,aquando o regresso a casa dos pais e das crianças.Família dita normal,pai mãe,2 filhos,cão e gato.Fico triste,muito mesmo...há que denunciar,mas como?Abraço.