Carla Vieira Faria, fundadora do site www.ajudas.com, refere que a sociedade portuguesa tem ainda muito a aprender sobre reabilitação e ajudas técnicas a pessoas com deficiências.
Carla Vieira Faria é especializada em desenvolvimento web acessível e formadora na área. É também investigadora e técnica de reabilitação ao nível das tecnologias e fundou o www.ajudas.com há cinco anos. Um site com muita informação acessível a todas as pessoas, aos cidadãos portadores de deficiência. Um portal sobre reabilitação e ajudas técnicas, que promove iniciativas solidárias. E é o único portal nacional e mundial a oferecer brinquedos e computadores adaptados a crianças jovens e adultos com deficiência.
Privilegia-se a parceria. "Em Portugal, existe a cultura de cada um fazer por si e isso é o que tentamos demonstrar que não resulta" - revela. Dedica-se a desenvolver soluções universais e acessíveis a todos. Tem, por isso, uma empresa que desenvolve tecnologia para equipamentos móveis, para que a informação esteja sempre disponível. Rigor, bons conhecimentos, saber quais os constrangimentos no acesso à informação. Tudo é importante para construir sites acessíveis a deficientes. "Cada pessoa pode ter necessidades muito diferentes e, infelizmente, em Portugal não se trabalha para um conjunto de pessoas. Pensa-se num caso e faz-se para esse caso" - alerta Carla Vieira Faria.
Educare: A sociedade tem consciência das dificuldades de quem vive num universo de reabilitação?
CVF: A nossa sociedade tem muito que aprender acerca destes assuntos. Já se sentem evoluções desde que temos a Secretaria de Estado e o novo INR, antigo SNRIPD, Instituto Nacional para a Reabilitação. Estes organismos são muito importantes para que se fale, se debata e se discutam assuntos de deficiência, reabilitação, integração de pessoas com deficiência, seniores, etc. O INR, em particular, é hoje um organismo mais ágil, dinâmico e que já é muito mais conhecido do que o que era. Foi um bom e importante passo para que a sociedade em que vivemos esteja mais actualizada acerca destes temas que, no fundo, são a nossa realidade pois estamos num país que está a envelhecer. E que infelizmente continua a ter inúmeros casos de nascimentos de crianças com deficiência, para além das doenças como Alzheimer, Parkinson, etc., tão frequentes hoje em dia.
E: O que é necessário mudar para compreender os problemas da mobilidade condicionada e das próprias deficiências?
CVF: É necessário promover mais informação. Mas esta informação carece de rigor. Infelizmente notamos que, muitas vezes, se abordam as questões pela rama, não se aprofundam temas, nem se tem um discurso claro e objectivo. Isso penaliza quem quer saber e acaba por não esclarecer.
E: Hoje em dia, há soluções tecnológicas suficientes para pessoas com deficiência?
CVF: Nunca há tudo. Cada pessoa pode ter necessidades muito diferentes e, infelizmente, em Portugal não se trabalha para um conjunto de pessoas. Pensa-se num caso e faz-se para esse caso. Isto é contra o que defendo. Hoje temos de pensar de forma mais profissional, não resolver problemas no agora. Temos de planear, pensar que temos de conceber soluções para pessoas muito diferentes. É isso que fazemos no ajudas.com. É isso que faço na minha vida e promovo na minha empresa.
E: Que cuidados se deve ter na construção de sites que sejam acessíveis a portadores de deficiência?
CVF: Ser rigoroso, conhecer o que são, de facto, os constrangimentos no acesso à informação e o que os provoca, ter largos e bons conhecimentos de programação, não se acomodar a "pacotes pré-feitos", pensar no backoffice e fazer sites que possam ser actualizados por pessoas com deficiência ou baixa literacia tecnológica, saber o que são e utilizar tecnologias de apoio.
E: A nível pedagógico, há material tecnológico disponível para um público com características especiais? O que falta fazer?
CVF: Existe muito pouco e o que existe, como o que eu e o meu marido, Pedro Ivo Faria, fizemos e foi largamente premiado - recebemos, ao todo, 14 prémios nacionais e internacionais -, não foi divulgado nem apoiado por nenhuma instituição ou organismo nacional. Hoje em dia, o software pouco se vende, apesar de continuarmos com muito pedidos diários, como é o exemplo do Pocket Voice - que devido à existência de outros produtos mais complexos e pouco user-friendly voltou a ser muito solicitado.
E: O que a levou a "mergulhar" nesse mundo da reabilitação e das soluções tecnológicas a pensar nas pessoas com deficiência?
CVF: Questões pessoais, profissionais e o forte desejo que sempre tive de fazer por todos e para todos!
Entrevista orientada por Sara R. Oliveira. Para ler toda a entrevista, clicar Educare.
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