quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Comunicar para antecipar problemas

Há várias estratégias para uma integração tranquila das crianças e jovens no meio escolar. A sociabilidade implica a definição de regras de conduta e castigos aplicados de forma coerente.
A relação entre alunos, a integração das crianças e jovens no espaço escolar, as regras de bom comportamento num meio "habitado" por gente de todas as idades, o castigar ou o não punir, a sociabilização num recinto onde se ensina e se aprende. Quais os aspectos a ter em atenção quando se fala em sociabilidade num ambiente de formação? Os vários caminhos indicam que o sucesso escolar anda de mão dada com a aprendizagem socioemocional dos alunos. Uma aprendizagem que "envolve um conjunto alargado de competências, nomeadamente saber regular as suas emoções para lidar com situações desafiantes, expressar os seus sentimentos de forma adequada, ser empático e ser capaz de adoptar a perspectiva do outro, estabelecer relações que se baseiam na reciprocidade e na cooperação, saber procurar ajuda quando é necessário, gerir e resolver problemas e conflitos e tomar decisões responsáveis".
Joana Cadima, investigadora ligada a vários projectos da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto em áreas relacionadas com a literacia, aprendizagem da leitura e escrita, risco sociocultural e transição do pré-escolar para o 1.º ciclo, sustenta que essas competências são cada vez mais valorizadas pelos professores. "Deste modo, faz sentido que a escola promova as aprendizagens académicas mas também que dê particular relevo às competências socioemocionais, através da implementação de diferentes estratégias", refere.
Dessas estratégias, há três grupos que se destacam. "O primeiro, e talvez aquele que é mais importante, consiste na criação de um clima de escola positivo, onde as normas e os valores prevalecentes apoiam o estabelecimento de relações positivas. Além disso, é importante que se criem oportunidades para os alunos ajudarem os outros e colaborarem entre si, quer a nível académico (por exemplo, através do trabalho de grupo), quer a nível da organização da sala (por exemplo, na arrumação e distribuição de material), quer ainda a nível da escola e do envolvimento em actividades que contribuam para a sua melhoria." Há ainda a questão da responsabilidade para que os alunos tomem decisões. "Quando os alunos participam genuinamente na vida escolar, nomeadamente na definição e aplicação das regras de comportamento na sala de aula ou na expressão da sua opinião, além de desenvolverem competências relevantes, sentem-se valorizados e mais motivados para o trabalho escolar."
A investigadora garante que os docentes têm um papel importante no processo de socialização e de desenvolvimento socioemocional dos alunos. "Mais do que reagir aos problemas, é importante que o professor implemente regularmente estratégias que promovam os comportamentos desejáveis e apoiem o desenvolvimento integrado de competências socioemocionais. Essas estratégias, além das que já referi anteriormente, deverão passar pelo estabelecimento de relações significativas entre os professores e os alunos, através das quais o professor estabelece expectativas positivas e comunica de forma clara os comportamentos que considera desejáveis (servindo de modelo). É ainda relevante a adopção de uma atitude proactiva, isto é, uma monitorização do que acontece na sala de tal ordem que antecipe eventuais problemas."
Troca de opiniões
O que fazer quando a socialização emperra e se torna um processo demasiado complicado? Cada caso é um caso, é preciso analisar as causas dos problemas, estudar as estratégias mais adequadas. "Podemos referir, contudo, que provavelmente as causas que estarão na origem dos problemas são complexas, pelo que a colaboração entre os pais, os professores e os técnicos é uma das estratégias mais relevantes". E o que fazer para que a integração dos filhos no mundo escolar seja um processo tranquilo? A comunicação é fundamental. "Um envolvimento activo na educação dos filhos, através do diálogo com os próprios filhos e de um contacto regular com a escola e com o professor, que possibilite a troca de opiniões, assim como o conhecimento por parte dos pais do modo do funcionamento e das regras da escola e da sua filosofia, podem contribuir para uma actuação convergente de todos os adultos envolvidos", defende Joana Cadima.
Castigar ou não castigar é uma parte importante da questão. Para Joana Cadima, que está a desenvolver o seu projecto de doutoramento centrado na qualidade das interacções entre professor e aluno no 1.º ciclo, os castigos podem ser ou não adequados. Tudo depende da forma como são concretizados. "Do mesmo modo que é importante estarem bem definidas as regras de conduta, também é essencial que sejam claras as consequências da sua infracção. Existem diferentes teorias, mas de uma forma geral, salienta-se a importância dos castigos serem aplicados de forma consistente e coerente." "Na escola, é importante que as consequências estejam definidas antecipadamente e que todos ajam em conformidade, para apoiar essa consistência. É de salientar, contudo, que mais importante do que ensinar o que não se deve fazer, é ensinar o que se deve. Apesar de ser imprescindível a definição de consequências claras, é essencial dar oportunidades reais para os alunos desenvolverem competências socioemocionais, o que só é possível quando os adultos ensinam, modelam e despendem tempo na sua promoção", realça.
"Os castigos têm de existir, não há dúvida nenhuma", defende Adriana Campos, mestre em Psicologia Escolar e psicóloga na EB 2,3 de Leça da Palmeira. "As regras da sociedade são essas e os castigos devem ser ajustados à idade", refere. E tudo começa em casa. A sociabilidade não pode ser desligada dos exemplos mais próximos. "Há falhas nessa matéria, a falta de regras em casa que se replica a nível da escola. Essa falha que começa no contexto familiar torna-se um ciclo vicioso. Não obedecem em casa e na escola também não", sustenta.
As penalizações têm de ser bem medidas e o factor da personalidade também tem de ser tido em conta. Adriana Campos recorda que há "muita agressividade" no espaço escolar e que, portanto, a família não se pode esquecer da sua função de colocar ordem nas coisas, de ajudar a lidar com o que corre mal. De qualquer forma, a psicóloga garante que há "bons trabalhos" desenvolvidos por professores na área da sociabilidade, que promovem a interacção e o bom relacionamento entre alunos e entre estudantes e docentes, principalmente ao nível da formação cívica. Adriana Campos aponta, no entanto, uma falha. "Os recreios são espaços muito vazios." Há espaços destinados às brincadeiras que permanecem "despidos".

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