A indisciplina nas escolas é uma das preocupações apontada pela esmagadora maioria dos professores que responderam a uma consulta promovida pela Federação Nacional da Educação (FNE), a que a Renascença teve acesso.
Mais de metade dos inquiridos considera que o comportamento dos alunos tem vindo a agravar-se. Três em cada quatro tiveram dificuldades em lidar com a indisciplina na sala de aula e apontam como um dos maiores problemas a incapacidade dos estudantes em cumprir as regras.
“Quando perguntado sobre os comportamentos dos alunos que mais os preocupam, aquilo que identificam de forma destacada aparece a incapacidade de os alunos em seguirem e cumprirem regras, seguida de conversas em sala de aula, na organização do trabalho, a distração com telemóveis, a violência entre alunos, uma assiduidade irregular, abusos verbais”, diz à Renascença o secretário-geral da FNE, Pedro Barreiros.
Professores reprovam smartphones na escola
Os professores associam muitos dos casos de indisciplina à utilização de smartphones no recreio, conclui o inquérito.
A esmagadora maioria dos inquiridos defende que os alunos de todos os níveis do ensino básico não deveriam utilizar estes aparelhos fora da sala de aula.
“Quando perguntado sobre os smartphones, são mais aqueles que estão preocupados com o recreio do que com o contexto de sala de aula. Porque, na sala de aula, ainda consigo controlar, enquanto lá fora, não controlo nada. Aquelas zangas e a violência entre alunos, muitas vezes têm como origem aquilo que acabaram de ver no TikTok ou no Facebook ou no Instagram ou num comentário no WhatsApp”, relata Pedro Barreiros.
De acordo com as novas orientações do Governo, a proibição do uso de smartphones abrange os alunos só até ao 6.º ano. A medida entra em vigor já no próximo ano letivo.
"Só 34% concordam com manuais digitais"
Esta consulta da FNE aos professores revela, também, que mais de metade dos inquiridos são contra a introdução dos manuais digitais.
“Só 34% é que concordam com a utilização desta ferramenta. Isto significa que há uma valorização do livro, há uma valorização do papel, da leitura e deste material em suporte de papel, comparado com o suporte digital”, sublinha Pedro Barreiros, em declarações à Renascença.
Os professores consideram que a remuneração não está ao nível das qualificações exigidas e mais de metade admite dificuldades financeiras associadas à profissão.
O secretário-geral da FNE explica que a remuneração dos docentes é uma constante conta de subtrair, devido a gastos com despesas de deslocação ou aquisição de materiais, “que nem sequer são dedutíveis em IRS”.
“O professor que compra o computador, que compra dicionários, que compra livros para estar informado, porque está em formação contínua, isto significa que os custos que tem para ser bom professor têm de ser compensados por parte do Governo”, defende Pedro Barreiros.
Este inquérito indica que são os mais novos, com menos de 30 anos, os mais satisfeitos por dar aulas. Mas com o avançar da idade e com mais tempo de serviço, o entusiasmo diminui, resultando que, de acordo com esta consulta da FNE, quase 60% dos professores gostassem de mudar de profissão.
Professores atolados em burocracia
Sobre o que consideram ser mais grave no exercício da sua atividade, a quase totalidade dos professores aponta a burocracia, que consideram ter aumentado.
“O tempo que foi gasto - e aqui a palavra gasto é bem aplicada - em tarefas meramente burocráticas, que nada acrescentam ao processo de ensino-aprendizagem, cresceu na ordem dos 45%, face ao ano anterior”, assinala Pedro Barreiros.
De acordo com este inquérito realizado pela FNE, cerca de metade dos professores considera que, no último ano letivo, os alunos foram prejudicados pela falta de docentes.
Responderam a este inquérito 4.638 professores, um número recorde. É uma iniciativa que a FNE realiza desde 2021.
Fonte: RR por indicação de Livresco
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