Falar de emoções e de relação pedagógica associadas ao processo de ensino aprendizagem é cada vez mais comum, na medida em que a aquisição de conhecimento é feita de forma mais significativa e duradoura quando nos emocionamos e criamos laços com a comunidade em que aprendemos e estamos inseridos.
Na verdade, todos sabemos que para aprendermos temos de nos envolver emocionalmente, temos de dar significado e sentido às aprendizagens.
É neste sentido que considero que, ao contrário do que tem vindo a ser referido a propósito do VAP, o percurso realizado ao longo de um ciclo é essencial para que o aluno atinja sucesso em termos académicos e em termos socioemocionais.
Mais do que a preocupação em ajudar os meus alunos a aprender, procuro que se desenvolvam, envolvam e se sintam confortáveis em termos emocionais para que atinjam o expoente máximo das suas potencialidades num ambiente propício à aprendizagem e às relações saudáveis.
Uma escola sem afetos e sem emoções não pode construir cidadãos atentos a uma sociedade cada vez mais dependente da inteligência emocional para se construir como uma sociedade justa, atenta e disponível para ajudar os outros.
A relação entre o professor e o aluno é essencial ao processo de ensino-aprendizagem. Somos seres sociais que precisam dos outros e que precisam de se envolver para aprender e construir conhecimento.
Sabemos que a escola é um espaço que promove o crescimento dos alunos em termos académicos, as aprendizagens previstas nos currículos de cada uma das disciplinas mas, acima de tudo, deve ser um lugar de amadurecimento e crescimento afetivo e emocional.
O meu percurso como professora tem sido, naturalmente, feito de emoções e das relações que vou estabelecendo com os meus alunos. À semelhança do que acontece em muitas escolas, procuramos que o professor faça um acompanhamento da turma, em termos de ciclo, o que permite um trabalho mais personalizado e individualizado na medida em que o conhecimento que se constrói das potencialidades e fraquezas vai permitir que o trabalho a realizar seja mais efetivo e profícuo.
Este ano despedi-me de uma turma que acompanhei do 7º ao 9º ano nas disciplinas de português e inglês (à exceção do 8º ano de inglês). Os laços criados com a turma foram naturalmente fortes ao ponto de no último dia, à semelhança do que terá acontecido com muitos colegas, as emoções estarem “à flor-da-pele”. Associado a este momento de despedida, que implica uma mudança muito mais radical para eles do que para nós, temos o culminar de um ciclo em que dois anos foram atingidos por dois confinamentos obrigatórios. Quer queiramos quer não, existem consequências e, pessoalmente, preocupa-me muito, mais do que a componente curricular, as visitas de estudo que se deixaram de fazer…No meu caso, a preocupação vai muito além da componente curricular. A minha preocupação prende-se com as visitas de estudo que deixaram de fazer, com as peças de teatro a que deixaram de assistir, com as exposições que deixaram de visitar. Foram dois anos muito atípicos. Deixámos de fazer demasiadas coisas, descobrimos que as tecnologias digitais nos podem aproximar, mas concluímos que o abraço, a palmada nas costas, o olhar, o sorriso, fazem muito mais falta! do que nos passaria pela cabeça. Descobrimos aquilo que só se descobre quando se deixa de ter. A proximidade física! O estar ao lado de alguém e sentir com os cinco sentidos em pleno. Arriscaria chamar sexto sentido ao calor humano que só se sente lado-a-lado.
O meu apelo final vai exatamente no sentido de criarmos momentos de partilha, diálogo, momentos de proximidade que nos permitam recuperar o tempo perdido. Recuperar emoções. Recuperar relações. É isto que eu quero. Para a minha filha, para os meus sobrinhos, para os meus alunos.
Até lá, votos de boas férias!
Fonte: Aula Digital
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