Nesta altura em que os professores estão de férias, vão pensando nas velhas estratégias de sempre e em novas maneiras de inovarem e motivarem não só os alunos, mas também eles próprios.
Uma das janelas de oportunidade é identificar o futuro que já aconteceu — tal como referia Peter Drucker a propósito das organizações empresariais ou sociais —, encontrar os sinais que fazem tendências e teorizar sobre as práticas que se têm vindo a utilizar durante estes dois anos de pandemia e mesmo já antes dos confinamentos. Esta é uma tarefa útil em todos os tempos e este que vivemos, não é excepção.
Na educação, como em qualquer outra área, a observação da realidade e dos dados que temos é de extrema importância para preparar o futuro, prever inovação e potenciar a criatividade. Acumular dados e estatísticas apenas por gosto de nada serve. Transformar dados em informação que possa ser utilizada para solucionar problemas, ou permitir novas abordagens, é trabalho útil e que não deve ser menosprezado. São vários os exemplos que podemos ter desde a interpretação do último Censos, para saber que população escolar vamos enfrentar nos próximos anos, até à necessidade de processos mais ou menos sistematizados e ajustados a grupos de população, passando por ambiguidades e incongruências e ainda pelos sucessos ou fracassos esperados com a continuidade de determinados procedimentos.
Em tempo de férias escolares é importante observar como os alunos, de qualquer grau de ensino, aprendem. A tal aprendizagem do currículo oculto, tão falado aqui há uns bons anos. O que os motiva, de que falam, quais os canais por onde procuram informação, que conhecimentos afinal demonstram ter e como os relacionam.
É interessante reconhecer que a televisão deixou de ser fonte de entretenimento para os mais novos, e muito menos de conhecimento. Quanto muito, a televisão funciona como canal de transmissão de conhecimento que se procura na Internet. Qualquer smartphone ou no máximo um tablet ou computador funciona como fonte de informação, de conhecimento e ainda de consulta de informação útil no momento. Séries, filmes, documentários e jogos são estratégias de aprendizagens de línguas estrangeiras, de história, de ciência, de exemplos de vida e de superação.
Reconhecer que a tecnologia veio substituir muitos procedimentos e cálculos necessários para se aprender determinadas matérias, é permitir que muitos outros em que se insiste ainda hoje estão igualmente obsoletos. Como exemplo temos a técnica da tinta-da-china, que tantas dores de cabeça deu a alguns e que deixou de fazer qualquer sentido o seu ensinamento há já uns anos, e ainda muitos cálculos matemáticos que aplicações e programas de computador fazem hoje com um simples click. Quantas outras aprendizagens não continuarão desajustadas e desprovidas de qualquer utilidade?
Sabemos que muitos de nós, se não mesmo a maioria, continuamos a aprender pela vida fora. O século XX foi prodigioso em mostrar-nos que constantemente precisamos de nos actualizar e aprender novos conhecimentos. Para tal, é preciso cultivar a humildade, a curiosidade, o trabalho em equipa, a criatividade e inovação e de nos conhecermos a nós próprios. A humildade para sabermos que estamos continuamente a aprender e que há outros que sabem mais do que nós, como sejam os nossos alunos, e que ganhamos imenso se aprendermos com eles.
A curiosidade para persistir na aprendizagem, com gosto e gozo: fruição do conhecimento que nos leva a uma vida melhor. O trabalho em equipa: ter como certo que a diversidade nos completa e que em equipa superamos a nossa riqueza individual e a soma do potencial de todos: vamos mais longe.
A criatividade e inovação para melhorar procedimentos, instrumentos, análise, estratégias e outros pontos de vista, para viver com maior bem-estar e felicidade.
Conhecermo-nos a nós próprios para sabermos os nossos pontos fortes e potenciá-los à excelência e as nossas limitações, para encontrar parceiros de equipa que nos completem. Na educação, quais são as tendências nos dias de hoje? Como aprendem os nossos alunos? A questão não é como queremos que eles aprendam, mas sim observar o modo como aprendem. Nada de novo. Qualquer professor percebe que isto tem de ser observado e feito, se queremos ter resultados. E os resultados são, antes de mais dos alunos.
Querermos resultados significa que queremos que os alunos adquiram conhecimentos e que mostrem que o adquirem, que aprendem. Na era em que a aprendizagem ao longo da vida está na ordem do dia, ensinar como aprender, em qualquer área, deve ser a prioridade. Que dados na educação e para a educação nos mostram o futuro que já aconteceu?
Fonte: Público
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