Se quiser dar um novo salto quântico no aumento do sucesso escolar, Portugal precisa de ainda mais e melhores políticas públicas educativas dirigidas aos mais necessitados, mesmo que à custa de “boas” políticas universais.
As estatísticas nacionais da Educação mostram enormes e consistentes melhorias nos últimos dez a 15 anos, fruto de boas políticas públicas educativas, do Ministério da Educação e das autarquias, mas também de um maior envolvimento da Sociedade Civil e, claro está, do correspondente esforço dos professores e assistentes operacionais, pais e alunos.
Feito este esforço maior, somos levados a crer que, com as políticas públicas implementadas, é uma questão de tempo até convergirmos ainda mais para os patamares europeus em todas as idades e ciclos de escolaridade. Mas será que vai ser mesmo assim?
Muito recentemente, numa reunião com professores numa escola no interior do Alentejo, quando se falava de insucesso escolar, um dos grandes problemas identificados eram os alunos de etnia cigana, sobretudo no 1.º ciclo – uma vez que muitos destes jovens “desaparecem” a partir daí, sobretudo as raparigas. E registei uma certa atitude de impotência e resignação em relação aos recursos da escola para atacar esse problema local. Mais uma vez, este diagnóstico era idêntico ao de muitas outras escolas em que tenho estado na região do Alentejo e Beira Interior.
Na tentativa de resposta a estes professores, referi que o insucesso escolar em Portugal hoje em dia era constituído sobretudo por um conjunto de “ilhas” – isto é, segmentos de alunos – que tinham de ter uma forte abordagem focada e dirigida da parte das escolas. E, para tentar “normalizar” um pouco o sentimento daqueles professores, dei depois três exemplos concretos, observáveis noutras regiões do país: (1) as escolas de insucesso com forte peso de alunos imigrantes, sobretudo na região da Grande Lisboa e do Algarve – vide Atlas EPIS da Educação 2017; (2) as escolas de insucesso com níveis de violência muito acima do padrão médio, sobretudo nas periferias urbanas, muitas vezes coincidentes com as escolas de imigração; (3) as escolas de insucesso das comunidades piscatórias, que existem de Norte a Sul do país e abarcam ainda os Açores. Estes são exemplos que a EPIS conhece bem e em relação aos quais continua a investir, em programas no terreno, mas também no apoio a projetos de investigação centrados nestas problemáticas.
Nesse dia, no regresso do Alentejo, não consegui deixar de pensar que todas estas “ilhas” de insucesso escolar, que são resilientes à melhoria global dos indicadores em Portugal, só desaparecerão com um importante – para não dizer enorme – novo impulso focado e dirigido, que tem de ser lançado e liderado pelo Ministério da Educação. Um impulso que inclua duas dimensões críticas: (1) recursos humanos e materiais que permitam fazer a diferença entre um antes e um depois e (2) metodologias testadas que permitam maximizar a eficácia e eficiência destes recursos no terreno.
Temos em Portugal talento e conhecimento suficientes na área da Educação e da Promoção da Inclusão Social para garantir esta empreitada. São necessários os recursos. Mas esses aparecerão se houver políticas públicas ainda mais dirigidas e focadas nas áreas que referi, entre outras. Será isso uma realidade em 2020, no novo ciclo político que se avizinha? Tudo dependerá da Paixão pela Educação de quem for o primeiro-ministro.
Diogo Simões Pereira
Director-geral da Associação EPIS – Empresários Pela Inclusão Social
Fonte: Público
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