Aristóteles, em Ética a Nicómaco, definiu aquilo que é para mim a essência mais importante do conceito de inteligência emocional, exemplificando-a da seguinte forma: — “Qualquer um pode ficar furioso, isso é fácil. Mas ficar furioso com a pessoa correcta, na intensidade correcta, no momento correcto, pelo motivo correcto e da forma correcta, isso não é fácil.”
Este conceito parece aliás que faz parte das nossas vidas desde sempre, estando espelhado e multiplicado naquela secção de crescimento pessoal e bem-estar hoje altamente procurada nas nossas livrarias. Tudo porque a nossa sociedade atingiu níveis grotescos de ansiedade e de frustração fazendo com que se vivam 48 horas em apenas 24 horas. Mas na realidade este conceito de inteligência que mergulha bem fundo nas nossas emoções só surgiu em 1995 pela mão do jornalista e psicólogo Daniel Goleman.
O impacto do best seller Inteligência Emocional de Goleman foi tão revolucionário e poderoso que a revista Time surpreendeu o mundo em 1995 com uma capa em que referia que não é o nosso QI que nos vai garantir o êxito. O melhor indicador para o sucesso é na realidade o QE, o quociente emocional, redefinindo assim totalmente o que significa “ser-se inteligente”.
Hoje está aliás demonstrado que o coeficiente intelectual comparado com as outras inteligências contribui apenas com 20% para os fatores determinantes de êxito, o que me coloca sérias dúvidas em relação à forma como continuamos a ensinar nas nossas escolas os adultos do futuro. Mas afinal o que é a inteligência emocional e por que razão já é ensinada como disciplina obrigatória nas escolas do Reino Unido, de Malta e das Ilhas Canárias em Espanha?
A inteligência emocional refere-se à capacidade que uma pessoa tem para reconhecer e identificar as suas próprias emoções e as dos outros, relacionando-se assim com a nossa capacidade para controlar essas emoções nas nossas relações interpessoais. Esta inteligência pode-se aprender e treinar, estando demonstrado que está altamente relacionada com o êxito profissional e/ou académico, com menores níveis de stress, com a capacidade para lidarmos melhor com as frustrações e pressões, com maiores níveis de autoeficácia e, por fim, com maiores níveis de empatia. A empatia é aliás a característica mais deliciosa deste conceito porque nos faz aprender a colocar-nos na pele do outro. Se a liderança empática fosse uma característica obrigatória daqueles que são os grandes decisores mundiais talvez os problemas do nosso mundo estivessem resolvidos.
Perante isto, e passado mais de 20 anos em que finalmente damos um valor inestimável às sensações que fluem pelo nosso córtex pré-frontal, surge nas escolas do Reino Unido, de Malta e das Ilhas Canárias a disciplina de educação emocional. Semanalmente existe uma aula de 90 minutos que oferece as ferramentas necessárias para gerir conflitos, adversidades e situações inesperadas, 90 minutos que podem ajudar a melhorar os índices de fracasso escolar e a assimilação de conhecimentos.
Perante este cenário a OCDE colocou em 2019 na rota das suas linhas estratégicas em matéria de educação a inclusão da educação emocional como disciplina a avaliar nas escolas para além da matemática, da geografia e de outras matérias. As imprescindíveis mudanças tecnológicas e sociais que enfrentamos obrigam-nos a repensar a educação como fonte de integração e assimilação de transformação permanente. Para as nossas crianças saberem navegar na incerteza permanente o The Future and Education on Skills da OCDE diz-nos que que os adultos do futuro precisam de desenvolver as características intimamente relacionadas com a inteligência emocional, tais como a curiosidade, a imaginação, a resiliência, a tolerância e o autocontrolo.
Espero sinceramente que o nosso país também saiba acompanhar este progresso o mais rápido possível, incluindo a reformulação da educação do futuro nas suas prioridades e fazendo as disciplinas exatas fluírem melhor através daquilo que as faz comunicar com o mundo: as emoções. De que nos serve um génio que não consegue comunicar a sua genialidade? Para que serve o conhecimento se ele não for capaz de causar impacto em multidões?
Com tudo isto é fácil percebermos que a chave que abre a porta da felicidade é a mesma chave mestra que abre o cérebro das nossas emoções. É na realidade o córtex pré-frontal do êxito, da tolerância, da empatia e do amor o que explica que queiramos formar melhor aqueles que serão os decisores dos dias do futuro.
Mafalda G. Moutinho
Fonte: Público
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