sábado, 1 de junho de 2013

Dia da Criança. Para mim “ser criança” é...

Hoje celebra-se o Dia da Criança em Portugal. Proposto, em 1950 em Moscovo pela Federação Democrática Internacional das Mulheres, o dia nasceu oficialmente a 20 de novembro de 1959 com a aprovação da “Declaração dos Direitos da Criança” para que todos os países do mundo passassem a estar mais atentos aos direitos das crianças, sobretudo as vítimas de discriminação, de doenças, de fome e de maus-tratos. O i falou com várias crianças, de diferentes condições sociais, para que estas explicassem através de um desenho o que é para elas “é ser criança”. Desde brincar com bonecas, correr na praia ou desejar um mundo melhor, as respostas são surpreendentes.


Leonor Kreye: “Os meninos só brincam às lutas e chateiam as meninas”

Com apenas 3 anos, Leonor vê tudo o que a rodeia e o mundo literalmente “às cores”. Da vergonha inicial perante a objectiva da máquina fotográfica, Leonor passa rapidamente ao ataque e traça no papel aquilo que para ela é “ser criança”. O desenho de uma cara no sol e a mãe pintada de cor-de-rosa expressam a visão de Leonor sobre aquilo que é ser ela própria. “Gosto de brincar às bonecas”, afirma a pequena Leonor entre um sorriso tímido e a vontade de correr para o mar. Quer apanhar a pomba, quer correr, quer ir para o colo da mãe e, entretanto, desenha mais um rabisco. Cascais é onde vive Leonor e a praia faz parte do seu mundo. Ir ao parque e andar de baloiço, andar no carrossel e brincar com a mãe são algumas das actividades que mais gosta de fazer, mas para ela “ser criança” também é “fazer amigos” e nisso ela é bastante clara. “Gosto de fazer amigos e de brincar com as meninas porque os meninos não sabem brincar, só brincam às lutas. Os meninos chateiam as meninas “, afirma.

Kaissa Costa: “Queria que as crianças fossem todas amigas”

Kaissa Costa gosta de desenhar e essa é para ela uma das melhores formas de comunicar. Crianças a brincar, a saltar à corda e a passear pelos jardins floridos é o que significa para ela “ser criança”, mas nem sempre as coisas correm a seu gosto. Apesar de gostar de brincar com outras crianças, Kaissa diz que às vezes não tem paciência porque elas “são chatas e porque há sempre uma que manda em tudo e em todos” e ela diz não gostar disso. Ainda assim, Kaissa diz entender que essas coisas aconteçam já que “as crianças são todas diferentes”. Embora não seja fácil para Kaissa ter de lidar com estes pequenos aborrecimentos, ela quis formular um desejo: “Acho que as crianças deviam ser todas felizes”. Para ela o mundo ideal seria aquele em que todas as crianças pudessem ser livres para brincar sem terem “preocupações”. Um mundo em que as crianças pudessem ser realmente crianças. Consciente da timidez da filha, a mãe de Kaissa, Cláudia, tentou ajudar a filha dando-lhe dicas e incentivando-a a falar. “Diz aquilo que me disseste esta manhã!”, insistiu. Kaissa lá terminou dizendo apenas: “Queria que o mundo fosse todo feito de chocolate e que todas as crianças fossem amigas umas das outras”. Para ela isto é “ser criança”. 

Para Bruno Vaz “ser criança é ser divertido”

Bruno é pequeno, mas como se diz em linguagem popular: “sabe a lição toda”. “Eu adoro ser criança porque não tenho de fazer nada e também porque recebo mais presentes”, afirma. Para ele, não há melhor coisa do que brincar. Jogar à bola e brincar à apanhada são as coisas que mais gosta de fazer. Para ele “ser criança” é “ser divertido”. Na Associação Cultural Moinho da Juventude, no bairro da Cova da Moura em Lisboa, onde passa uma boa parte do dia, Bruno aproveita para estudar, mas também ocupa uma boa parte do tempo a participar nas actividades que a associação organiza. “Gosto muito de estar aqui porque tenho muitos amigos”, diz.
Para ele “ser criança” é sê-lo em qualquer parte do mundo, mas há lugares onde essa condição tem um sabor especial. Em Portugal há poucos anos, Bruno recorda o passado vivido em Cabo Verde: “O que mais gostava de fazer lá era poder andar na rua sem chinelos. Aqui não posso porque está frio e também porque a minha mãe não me deixa”.

Suelly Andrade. “Gosto de ser criança, mas há muitas que são maltratadas”

Suelly Andrade gosta de ser criança, mas diz que prefere “ser bebé”, embora não consiga explicar o motivo. Ainda assim, não dispensa aquilo que a idade tem para lhe oferecer. Entre uma gargalhada e outra vai murmurando as palavras: “Gosto de brincar às escondidas, à apanhada e de jogar à macaca”, mas insiste: “gosto mais de ser bebé”. Além de brincar, Suelly não descura os estudos e, por isso, aproveita o tempo livre que passa na Associação Cultural Moinho da Juventude para fazer os trabalhos de casa e estudar. “Gosto de estudar para aprender mais”, sublinha assumindo uma postura mais séria, pois sabe que isso é essencial para garantir o seu futuro. Para Suelly “ser criança” é poder “fazer tudo aquilo que quisermos”, embora tenha noção de que nem todas as crianças têm a sorte de ter uma vida normal. No seu desenho, Suelly recria um mundo de fantasia, próprio das crianças, mas ela sabe que nem sempre é assim. Nos programas televisivos a que assiste Suelly depara-se com realidades difíceis. “Às vezes fico triste porque sei que há crianças que são maltratadas. Há pais que abandonam os filhos e que às vezes nem lhes dão comida. Muitas crianças morrem”, afirma enquanto baixa os olhos para a folha de papel. 

“Gosto de ser criança e adoro brincar”, diz Cheila Ventura

Cheila vem acompanhada pela irmã, Carina, e pela prima, Catarina. De regresso de um passeio organizado pela escola, o cansaço faz-se notar e a timidez ganha terreno. Mergulhada no desenho, Cheila guarda as palavras para o fim. “Gosto de ser criança e adoro brincar”, afirma ela depois de terminar o desenho. Um pouco envergonhada, vai sorrindo entre as perguntas. “Gosto de brincar à apanhada, às bonecas e às escondidas”, afirma. Perante as provocações da mãe vai ficando mais à vontade e os sorrisos dão lugar às gargalhadas. “Ser criança é uma diversão”, atira. A certa altura chega mesmo a provocar a mãe, dizendo em tom de brincadeira: “O bom de sermos crianças é que podemos fazer coisas que os adultos não podem”.
Depois de alguns minutos de conversa, Cheila deixa transparecer a sua faceta solidária dizendo que sabe que “há crianças que não são muito felizes e que passam por dificuldades” e que quando vê uma amiga mais em baixo tenta sempre ajudar. “Quando vejo alguma amiga triste vou ter com ela e tento ajudar naquilo que for preciso”, remata a jovem.

Carina Ventura. “Para mim ser criança é ser elegante”

Carina diz que “ser criança” é “ser elegante”. Além disso, acrescenta que “ser criança” é também “brincar e ser inteligente na escola”. Ao contrário da irmã, Carina é faladora e enquanto desenha solta algumas notas musicais. Ao contrário da irmã, a vergonha é algo que não lhe assiste, de todo. “Às vezes brinco à ginástica, outras às bonecas. Gosto de andar de patins e de dançar”, diz ela. Em jeito de provocação e entre valentes gargalhadas, Carina lança algumas piadas: “As crianças podem fazer muitas coisas que os adultos não podem. Os adultos não podem saltar à corda e fazer o pino porque não têm idade”, afirma ela causando um riso geral. Em casa da prima Catarina são habituais os concursos de dança. As três colocam-se em frente ao espelho e adoram reproduzir as coreografias de músicas de artistas famosos. “Fechamo-nos no quarto e passamos muito tempo a fazer concursos de danças”, conta Carina. No entanto, ela lembra que nem sempre é assim, que o mundo das crianças não é feito só de sorrisos e de brincadeira. Carina sabe que há crianças que nem sempre conseguem esboçar um sorriso devido às adversidades da vida, mas garante que nesses casos tenta sempre ajudar “os que estão mais tristes”. 

Para Catarina Vítor só as crianças “podem divertir-se

Catarina diz que ser criança “é divertido” e que o que mais gosta de fazer é “jogar à bola, jogar no computador, andar de patins, dançar e brincar com bonecas”. Nos intervalos da escola, há muito espaço para a diversão e Catarina diz que ocupa o tempo livre entre as aulas com algumas das suas brincadeiras preferidas. “Brincar à apanhada, a fazer o pino e a saltar à corda” é o que mais gosto de fazer. Para Catarina, só as crianças “podem divertir-se”, aos adultos restam todas as outras tarefas. No entanto, ela sabe que enquanto criança também lhe cabem algumas obrigações, entre elas, estudar, o que para ela não parece uma tarefa difícil: “Também gosto muito de estudar”, afirma. Sobre o seu comportamento, Catarina é terminante: “Não sou reguila”, diz ela. No entanto perante a desconfiança do pai, revela: “Porto-me bem... às vezes!”, provocando alguns risos e comentários entre os familiares.

Por Cláudia Reis

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