sábado, 1 de junho de 2013

Ser conservador na educação



Há duas formas de ser conservador: ser tradicionalista porque sim, ou querer conservar princípios e valores que são inalteráveis e independentes de circunstâncias, modas ou dos tempos. Defender valores absolutos que, por definição, são alheios ao relativismo dos acontecimentos.

Defender o que quer que seja porque sempre foi assim, porque é assim e porque foi esta a moda que venceu e prevaleceu em determinado momento ou lugar é batota. Não vale. Não é argumento, congela qualquer raciocínio ou debate e atraiçoa o verdadeiro conservadorismo. Ser conservador não é isso; ser conservador é ver, através da lupa dos valores, o que deve ser mudado e o que deve ser alterado. É ser dinâmico em tudo, menos nas nossas crenças. Claro que aquilo que "sempre foi assim" merece respeito, mas não é dogma. O único dogma de um conservador é os seus princípios serem baseados em coisas muito pouco relativas, como a moral ou os princípios.

Na educação este equívoco pulula de discussão em discussão, de escola em escola e de casa em casa. Ou temos progressistas, que normalmente se opõem à tradição exactamente pela mesma razão que leva os conservadores a defenderem a tradição: "porque sempre foi assim"; ou temos os conservadores segundo os quais "no meu tempo é que era". A falta de argumentos e de valores absolutos que ajudem a traçar um rumo é, nesta área, mato.

Nas escolas, por exemplo, temos a polémica dos exames. Dizem alguns que os exames não são mais do que um retorno "à escola do antigamente"; dizem outros que dantes é que era e que saber de cor e salteado as serras, os rios e as estações de caminho-de-ferro não fez mal nenhum a ninguém, antes pelo contrário. Sobre os exames ninguém fala. Nem conservadores nem progressistas. Qual é a necessidade de exames? Porque é que é importante que crianças de nove anos façam exames? Qual deve ser o grau de dificuldade dos exames? Devem estas provas ser eliminatórias ou devem apenas contar para uma média ponderada? E como é que se avalia o sistema na ausência de exames? Não é este o debate. O debate limita-se a argumentos sobre ser do "antigamente" ou não ser do "antigamente".

Ser conservador na educação é ter como orientação-base a liberdade de escolha, a liberdade de ensino e a diversidade na oferta e, em paralelo, criar mecanismos de avaliação para ir corrigindo o sistema de forma que ele consiga, perante qualquer circunstância, servir toda a gente com justiça, equidade e excelência. Ser conservador na educação não é defender a tradição porque sim, é defender valores como a liberdade e a justiça. E é, antes de tudo, combater o centralismo paternalista do Estado - como era antigamente -, que a esquerda tanto defende. A polémica da máquina de calcular, por exemplo, não entra para esta discussão: é apenas uma questão científica e não doutrinal.

Em relação à educação familiar o equívoco mantém-se. Há quem ache que ser conservador é ser rigoroso, exigir disciplina e impor autoridade. É como o exame do antigamente: "Levei muitas sovas e não me fez mal nenhum." Do outro lado temos o extremo: não há regras. Quanto menos regras mais livres e felizes são os meus filhos: "O meu pai era um tirano e eu não quero isso para os meus filhos." É esquizofrénico.

Mas ser conservador na educação, também em casa, quer dizer que a educação que damos aos nossos filhos é orientada por valores. Valores como a liberdade ou o respeito pela individualidade de cada um (seja criança seja adolescente). Em defesa da moral, mas não forçosamente dos costumes. Os costumes são muitas vezes contrários aos valores de um conservador. E os valores são a única coisa que um conservador tem o dever de conservar.
Inês Teotónio Pereira

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