Caso os professores com um menor impacto nas notas dos seus alunos conseguissem ter um efeito semelhante ao dos seus colegas com melhor desempenho, as classificações dos estudantes podiam progredir significativamente. É isso que mostra um estudo que um grupo de investigadores da Nova School of Business and Economics (SBE) e do University College London fez para o think tank Edulog e que é apresentado esta quarta-feira. Este resultado positivo é superior na Matemática, na qual, no ensino secundário, a percentagem de “negativas” podia descer de 70% para 23%.
Os professores foram divididos em percentis de acordo com o resultado que conseguem atingir no VAP – Valor Acrescentado do Professor, uma medida criada para este estudo para avaliar o impacto de cada docente no desempenho dos seus alunos. Os investigadores concluem que, se todos os docentes que estão no percentil 10 – ou seja, entre os 10% com menos efeito nas notas – passassem a ter o desempenho dos colegas do percentil 90 – isto é, os 10% com mais impacto – havia uma melhoria substancial dos resultados dos estudantes.
Este efeito positivo é mais nítido na Matemática, uma das duas disciplinas analisadas – a outra é Português. O impacto é mais elevado quanto mais velhos são os alunos. No ensino secundário, se todos os professores do percentil 10 tivessem o impacto dos docentes do percentil 90, dois terços dos alunos que agora têm negativa passavam a ter positiva – a percentagem de notas negativas caía de 70% para 23%. No mesmo sentido, o número de estudantes com classificação máxima passava de zero para 17%.
Já no 3.º ciclo, a melhoria do desempenho dos professores levava a uma descida do número de negativas de 63% para 22%, ao passo que a percentagem de notas 20 subia para 18%, partindo também de zero. O efeito dos docentes também é positivo, embora com menos intensidade, no 2.º ciclo: uma melhoria no VAP poderia fazer cair a percentagem de alunos com nota inferior a 3 de 50% para 19%.
A VAP calcula-se medindo o desempenho de um aluno numa prova nacional antes de ter aulas com um determinado professor e novamente, numa outra prova nacional, após ter trabalhado com esse docente. A metodologia usada permite isolar os efeitos de outros factores que influenciam as aprendizagens, como a formação dos pais, o nível de rendimento familiar ou factores ligados à própria escola. Os resultados “confirmam a importância” destas variáveis no desempenho escolar, mas mostram também um “impacto relevante” dos próprios docentes nos resultados dos estudantes, lê-se no documento.
“Existe, portanto, um potencial de melhoria das aprendizagens em função do professor”, apontam ainda os investigadores no estudo que é divulgado esta quarta-feira pelo Edulog.
Os professores e as escolas “precisam de instrumentos que lhes permitam conhecer o efeito que o seu trabalho tem nos resultados dos alunos”, acrescenta Isabel Alçada, antiga ministra da Educação (2009-2011), que integra o conselho consultivo deste think tank da Fundação Belmiro de Azevedo. “Vale a pena apoiar o professor para que possam ir mais longe”, sustenta.
O estudo “O impacto do professor nas aprendizagens dos alunos” foi desenvolvido por cinco investigadores da Nova SBE, entre os quais Carmo Seabra, que foi titular da pasta da Educação entre 2004 e 2005, o catedrático Luís Catela Nunes e a investigadora principal Ana Balcão Reis, aos quais se juntou Pedro Carneiro, do University College de Londres.
Os investigadores avaliaram os resultados do 2.º e 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário ao longo de uma década – 2007/2008 e 2017/2018. Os dados dizem respeito apenas a escolas públicas, as únicas que estão reflectidas nas bases de dados oficiais que são usadas.
Desempenho dos alunos a Português
Além de Matemática, também são analisados os desempenhos dos alunos a Português e as conclusões são semelhantes. Ao nível do ensino secundário, se todos os professores que estão no percentil 10 passassem a ter um efeito na aprendizagem dos seus alunos semelhante ao dos professores do percentil 90, a percentagem de estudantes com nota negativa poderia passar de 63% para 18%. Já a proporção de alunos com nota máxima passaria de zero para 4%.
No 3.º ciclo, a melhoria no desempenho dos professores permitiria reduzir a percentagem de alunos com notas negativas de 48% para 10%, ao passo que o número de alunos com nota máxima subiria para 9%.
Por último, se todos os professores de Português do 2.º ciclo que estão entre os 10% com menor impacto nas notas dos alunos passassem a ter um efeito semelhante aos dos seus colegas do percentil mais elevado, as notas negativas baixariam de 31% para 6%. A percentagem de alunos com 5 subia de zero para 10%.
O estudo não se debruça sobre características específicas dos professores que têm maior e menor impacto nos resultados dos seus alunos. Mas mostra que há professores com efeitos diferentes no desempenho dos estudantes.
Os docentes “que têm maior impacto no aumento da probabilidade de ter uma nota positiva não têm necessariamente maior impacto na probabilidade de obter uma nota mais alta”. Ou seja, alguns são mais eficazes a consegui-los fazer chegar à “positiva” e outros criam melhores condições para que os alunos possam chegar à nota máxima.
Fonte: Público
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