quinta-feira, 13 de maio de 2021

O papel dos pais na orientação de carreira

Cruzar a escola, tal como ela está organizada atualmente, com as competências exigidas aos profissionais do seculo XXI deixa-me inquieta e apreensiva. Um ensino que continua colado ao despejo de informação e à memorização de conhecimentos não está a promover o desenvolvimento das competências mais valorizadas no mercado de trabalho presente e futuro. Onde estão os projetos que poderiam ajudar os jovens a saberem planear, a serem capazes de assumir compromissos, a serem curiosos, a confiarem em si próprios, a cooperarem com os outros, a serem empreendedores e abertos à mudança? Não há tempo para promover competências porque, no ensino, continua a imperar a lógica de que “há muita matéria para dar, pois o programa é extenso”. Esta dissonância leva-me muitas vezes a questionar: O que estará a falhar? Confesso que esta inquietude é mais gritante porque também sou parte da escola, dado que é nela que trabalho e, por isso, não posso ignorar nem descartar responsabilidade no processo.

Cruzar a escola descrita com dinâmicas familiares habituais que não promovem a autonomia, a resolução de conflitos e a comunicação assertiva dos mais novos, aumenta ainda mais o meu desassossego. Pequenas dificuldades dos filhos levam os pais de imediato à escola, pois os mais pequenos, mesmo já sendo crescidos, são percecionados como criaturas indefesas, que não dispõem de recursos internos nem externos a que possam recorrer. Os pais são os únicos que os podem salvar da maldade do mundo e, por isso, saem das suas vidas, a correr esbaforidos, para irem imediatamente “apagar o fogo” que resultou de alguma situação mal resolvida no contexto escolar.

Decorrente do descrito, temos, não por ordem do acaso, mas como fruto das circunstâncias, muitos adolescentes que, ao terminarem o ensino básico, nem sequer estão muito preocupados com a resposta à questão: “O que fazer, agora que o 9.º ano está quase a finalizar?” Se alguns pais andam preocupados com esta questão, outros remetem a responsabilidade da decisão para filhos pouco amadurecidos. “A decisão é dele, ele é que tem de saber o que quer.”

Na verdade, a decisão deve ser deles, mas os pais têm um papel muito importante nesse processo de decisão, devendo ser aliados na construção dos projetos de vida dos filhos. Como? Norteando-os no processo de autoconhecimento, promovendo o acesso a determinadas experiências de exploração, ajudando-os a perceber quem são, o que gostam, como é a sua personalidade, que atividades lhes dão prazer, o que os motiva. Incentivá-los a explorar as ofertas formativas e o mundo das profissões é também muito relevante e importante no processo de escolha. A reflexão orientada pelos pais, tendo por pilar uma comunicação assente no afeto, pode ser determinante para os filhos identificarem interesses, competências e valores, dimensões igualmente valiosas no processo de decisão.

Os pais conhecem os filhos melhor que ninguém e, por isso, são detentores de informações muito importantes que, geridas de forma adequada, podem ser preciosas. Não devem forçar decisões que procurem colmatar o que o passado não lhes permitiu concretizar; devem, antes, fornecer pistas que ajudem os filhos a pensar de uma forma livre, sem pressões. Resta ainda acrescentar que os adolescentes têm, frequentemente, dificuldade no processo de tomada de decisão, pois o seu cérebro está ainda em processo de amadurecimento, nomeadamente a zona do córtex pré-frontal, que é a zona responsável por este processo. Face ao exposto, os pais têm obrigatoriamente de assumir o papel de copilotos, pois, tal como na aviação, o copiloto tem um papel muito importante na qualidade da viagem. Os psicólogos das escolas são também importantes ajudas a que podem recorrer, para tornar o voo mais tranquilo e seguro.

Fonte: Educare

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