quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Vamos à escola

Inicio do novo ano lectivo. Uma atenção muito especial ao sistema de Ensino, à escola pública.

O início das actividades não promete tranquilidade às escolas. As notícias ainda são poucas. O que já se sabe, é uma desgraça.
O número de alunos por turma é um exagero, um autêntico desatino. 
Turmas com 30, a caminho dos 40 alunos, intolerável. À margem de todas as normas educativas e pedagógicas. 
As crianças de agora não são submissas como eram noutros tempos. Desafiam os professores, trazem aprendizagens das televisões e de outras vidas. Já não aprendem pela voz repreensiva e castigadora dos professores.
E os professores não dão aula de cana comprida na mão para chegar à cabeça do aluno distraído, nem régua ou palmatória pedagógica e punidora, como nos tempos do medo.
O ano lectivo começa mal e vai correr muito mal.
Os alunos com necessidades educativas entram na escola sem o necessário acompanhamento, sem professores de aproximação e de apoio, perdidos em turmas gordas. 
As características destes alunos não se coadunam com a organização do ano lectivo que, em parte, já se conhece. São alunos que precisam de contacto, de confiança, da empatia do professor. São mais lentos nas aprendizagens. Numa turma de sala cheia, perdem-se na confusão, despersonalizados em ambientes de menos afecto.
Para alunos com necessidades educativas há orientações internacionais que o Estado português assinou e se comprometeu cumprir, aprovadas na Assembleia da República e assinadas pelo Presidente da República. 
A Declaração de Salamanca foi assinada para ser cumprida. Os alunos com necessidades educativas têm direitos. Há ainda o Decreto-lei 3 de 2008, a Convenção da ONU, para cumprir, com respeito.
Com mais respeito que as determinações da Troika.
O que vem da Troika, o governo cumpre, põe-se de cócoras, faz cortes nas despesas de Educação para dar os bancos.
Os pais têm o direito, o dever de exigir o cumprimento dos normativos legais.
Vai ser, está a ser um ano de maus tratos para os professores. 
São muitos os que ficaram de fora por uma política trituradora da escola pública. 
Muitos professores ficaram de fora, muitos milhares a acrescentar ao mundo dos desempregados. Os que aguentaram, ficam submetidos a um contrato que não respeita quem trabalha. Um ano escolar longo, excessivamente centrado no trabalho burocrático, que tira tempo à preparação de aulas, à correcção de trabalhos escolares. 
Com vencimentos baixos, sugados por cortes, por impostos, por viagens longas.
Professores obrigados a fazer muitos quilómetros por dia. 
Caso já conhecido. Um grupo vai de Montalegre para Viana do Castelo, 150 quilómetros para cada lado, 300 ao fim do dia. Resultado de zonas pedagógicas desenhadas ao calha, extensas de muitos quilómetros. Deixam filhos entregues aos avós, para andarem horas nas estradas. Deixam a casa pelas seis da manhã para voltarem pelas nove ou dez da noite. Deixam filhos para voltarem a ver à noite, depois de um regresso cansativo. Com vencimentos que ficam pendurados nas portagens de uma rede de estradas feita para sacar dinheiro a quem é obrigado a circular para trabalhar.
Depois são as lamentações que a população está a envelhecer, que não há crianças para repor a população que envelhece. 
Com esta vida é imprudente, inconsciente constituir família, aventurar-se a ter filhos.
Nesta situação de desumanidade, de afronta, de prepotência burocrática, sem respeito por alunos, por pais, por professores, sem respeito pelo futuro das crianças, assistimos a um ministro da Educação com sorriso formatado para as televisões a justificar suas reformas, que ninguém compreende, que ninguém sabe para onde levam a escola, os alunos, o futuro da Nação. 
Um ministro que entra por portas escondidas nas traseiras das escolas, sem coragem para enfrentar colegas de profissão, que não se dobram aos ditames da austeridade.
Um ministro que esqueceu o que antes dizia em comentários nas televisões, onde com frequência aparecia, debitando sentenças simpáticas, agora obediente às orientações da Troika. Por vezes acompanhado por Passos Coelho, que de ensino e de política de Educação nada sabe.
Manuel Miranda
Recebido por correio eletrónico. Foi respeitada a ortografia utilizada pelo autor.

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