Centenas de escolas começaram o ano lectivo sem um psicólogo colocado, para apoiar os alunos. A estimativa é da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), que explica que estes profissionais são normalmente colocados através de um concurso especial autorizado pelo Ministério da Educação (ME), ao abrigo do combate ao insucesso e abandono escolar.
Mas o concurso está atrasado, uma situação "particularmente grave", depois de o ME ter anunciado, na terça-feira, as metas da Educação para 2015 em que se pretende reduzir o insucesso e o abandono, aponta Albino Almeida, presidente da Confap.
"A ministra fala do aumento do trabalho com as famílias, na redução do insucesso e abandono escolar, que são tarefas feitas pelos psicólogos e depois o concurso para a sua colocação está atrasado", critica o dirigente. De acordo com alguns psicólogos e com a Confap, o atraso na colocação destes profissionais deve-se à falta de verbas. "É mais uma consequência da contenção de custos", refere o representante dos pais.
As famílias têm denunciado esta falha à Confap. "Recebemos vários pedidos de pais de Braga para que pelo menos os psicólogos que tinham projectos no ano passado continuem este ano", confirma Albino Almeida.
Uma das psicólogas que ainda não sabe se ficará na escola onde deu apoio aos alunos nos últimos três anos é Inês Faria. A responsável pela comissão de educação do Sindicato Nacional dos Psicólogos era a única psicóloga no agrupamento onde estava a trabalhar.
A ausência de um especialista na escola, que tem alunos do jardim-de-infância até ao 12.º ano, faz com que Inês Faria continue a receber telefonemas a pedir a sua intervenção. "Mas não posso ajudar porque oficialmente não estou a trabalhar."
Até que a situação se resolva, os professores não podem referenciar novos casos ou pedir a continuidade do acompanhamento dos alunos, explica Inês Faria. "Até a psicóloga do centro de saúde já me ligou para acompanhar um caso, mas não posso porque não estou a trabalhar", acrescenta.
Maria (nome fictício) também trabalha em escolas há quatro anos. "Sempre concorri em Agosto e em Setembro já estava colocada na escola". "Esta já era uma situação precária: não temos carreira e não somos aumentados e agora o concurso não abriu e ninguém explicou porquê", aponta. Na escola onde estava a dar apoio na zona de Lisboa, Maria fazia "avaliação psicológica, programas de educação sexual e de prevenção de bullying". "Estava envolvida em muitos projectos e agora a escola já me estava a bater à porta", explica.
Alguns psicólogos da zona de Lisboa admitem enviar uma carta aos partidos políticos para discutir os atrasos na sua colocação e a precariedade da carreira. "Desde 1997 que não entram psicólogos para os quadros das escolas", diz Inês Faria. O sindicato não tem ainda nenhuma acção prevista.
DN online
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