No perfil geral de desempenho profissional do educador de infância e dos professores dos ensinos básicos e secundário (Decreto-Lei n.º 240/2001 de 30 de Agosto) consta que o professor “exerce a sua actividade profissional na escola, entendida como uma instituição educativa, à qual está socialmente cometida a responsabilidade específica de garantir a todos, numa perspectiva de escola inclusiva, um conjunto de aprendizagens de natureza diversa…”. O mesmo normativo acrescenta que o docente “ desenvolve estratégias pedagógicas diferenciadas, conducentes ao sucesso de cada aluno…”
No Estatuto da Carreira Docente (Decreto-Lei n.º 15/2007 de 19 de Janeiro), na secção dos Deveres, o legislador refere que os docentes devem “organizar e gerir o ensino-aprendizagem, adoptando estratégias de diferenciação pedagógica susceptíveis de responder às necessidades individuais dos alunos.”
No documento que define os apoios especializados a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário (Decreto-Lei n.º 3/2008) enfatiza-se que “é desígnio do Governo a promoção de uma escola democrática e inclusiva, orientada para o sucesso de todas as crianças e jovens.”
E pronto, em Portugal as coisas funcionam deste modo: o legislador legisla e o normativo regulamentar vira “paradogma” pedagógico com a maior naturalidade deste mundo! Sim, porque escola inclusiva, integração sociocultural e diferenciação pedagógica são conceitos tão banais que qualquer “turboformador” não sentirá dificuldade especial em os esmiuçar.
No entanto, o mistério adensa-se! Por que motivo persiste a contradição entre a retórica legislativa e a prática pedagógica? Qual a razão de tantos mestres “inclusivos” e tão poucas práticas diferenciadas?
O conceito de inclusão implica, antes de mais, rejeitar a exclusão de qualquer aluno da comunidade escolar. Por princípio, a escola pública não faz isso. Bem… parece que há para aí umas escolas muito preocupadas com os rankings que, por vezes, “monitorizam” com excessivo zelo a mobilidade dos seus “clientes”. Mas julga-se que são casos residuais…
Em tom crítico e quase pejorativo opõe-se a escola tradicional, integrativa e de sucesso para alguns à escola pós-moderna, inclusiva e promotora de sucesso para todos! Alguns críticos dizem que o professor “tradicionalista” ensina a muitos como se fossem um só na crença de que existe um aluno médio. Acrescentam ainda que face a públicos diferenciados a escola responde através de uma tentativa da redução da complexidade interna, procurando homogeneizar o público escolar.
Mas as dúvidas permanecem. Procurar ensinar a todos aquilo que está curricularmente previsto é homogeneizar? Utilizar uma experiência de aprendizagem devidamente validada é tentar reduzir a complexidade interna?
E quando um professor “não inclusivo” reclama que o currículo é definido pela tutela, tem critérios homogéneos, objectivos e conteúdos específicos e que ele próprio será “avaliado” em função dos resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais, a resposta dos “inclusivos” é categórica: o ensino diferenciado é a melhor resposta a uma educação baseada em padrões. E acrescentam: o ensino diferenciado permite que se use o tempo de forma mais eficiente, elimina o ensino de determinadas competências, no caso dos alunos que já as dominam, prepara mais actividades de aprendizagem para os que precisam de mais prática.
O professor “tradicionalista”, perplexo, ainda tenta argumentar com o elevado número de alunos por turma, com o número de turmas que lecciona, com a qualidade dos espaços de aprendizagem de uma escola que nunca foi pensada para ser uma organização diferenciada, com a falta ou escassez de terapeutas, psicólogos, trabalhadores sociais… Mas não adianta. Por ter ousado levantar a voz é submetido a um processo argumentativo e persuasivo a propósito do verbo diferenciar:
● Diferenciar não significa que cada um tenha de aprender segundo uma metodologia diferente;
● Diferenciar é ir experienciando várias abordagens de modo a que, no final da aula, todos os alunos (os predominantemente linguísticos, logicomatemáticos, espaciais, cinestésicos, musicais…) tenham sucesso;
No Estatuto da Carreira Docente (Decreto-Lei n.º 15/2007 de 19 de Janeiro), na secção dos Deveres, o legislador refere que os docentes devem “organizar e gerir o ensino-aprendizagem, adoptando estratégias de diferenciação pedagógica susceptíveis de responder às necessidades individuais dos alunos.”
No documento que define os apoios especializados a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário (Decreto-Lei n.º 3/2008) enfatiza-se que “é desígnio do Governo a promoção de uma escola democrática e inclusiva, orientada para o sucesso de todas as crianças e jovens.”
E pronto, em Portugal as coisas funcionam deste modo: o legislador legisla e o normativo regulamentar vira “paradogma” pedagógico com a maior naturalidade deste mundo! Sim, porque escola inclusiva, integração sociocultural e diferenciação pedagógica são conceitos tão banais que qualquer “turboformador” não sentirá dificuldade especial em os esmiuçar.
No entanto, o mistério adensa-se! Por que motivo persiste a contradição entre a retórica legislativa e a prática pedagógica? Qual a razão de tantos mestres “inclusivos” e tão poucas práticas diferenciadas?
O conceito de inclusão implica, antes de mais, rejeitar a exclusão de qualquer aluno da comunidade escolar. Por princípio, a escola pública não faz isso. Bem… parece que há para aí umas escolas muito preocupadas com os rankings que, por vezes, “monitorizam” com excessivo zelo a mobilidade dos seus “clientes”. Mas julga-se que são casos residuais…
Em tom crítico e quase pejorativo opõe-se a escola tradicional, integrativa e de sucesso para alguns à escola pós-moderna, inclusiva e promotora de sucesso para todos! Alguns críticos dizem que o professor “tradicionalista” ensina a muitos como se fossem um só na crença de que existe um aluno médio. Acrescentam ainda que face a públicos diferenciados a escola responde através de uma tentativa da redução da complexidade interna, procurando homogeneizar o público escolar.
Mas as dúvidas permanecem. Procurar ensinar a todos aquilo que está curricularmente previsto é homogeneizar? Utilizar uma experiência de aprendizagem devidamente validada é tentar reduzir a complexidade interna?
E quando um professor “não inclusivo” reclama que o currículo é definido pela tutela, tem critérios homogéneos, objectivos e conteúdos específicos e que ele próprio será “avaliado” em função dos resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais, a resposta dos “inclusivos” é categórica: o ensino diferenciado é a melhor resposta a uma educação baseada em padrões. E acrescentam: o ensino diferenciado permite que se use o tempo de forma mais eficiente, elimina o ensino de determinadas competências, no caso dos alunos que já as dominam, prepara mais actividades de aprendizagem para os que precisam de mais prática.
O professor “tradicionalista”, perplexo, ainda tenta argumentar com o elevado número de alunos por turma, com o número de turmas que lecciona, com a qualidade dos espaços de aprendizagem de uma escola que nunca foi pensada para ser uma organização diferenciada, com a falta ou escassez de terapeutas, psicólogos, trabalhadores sociais… Mas não adianta. Por ter ousado levantar a voz é submetido a um processo argumentativo e persuasivo a propósito do verbo diferenciar:
● Diferenciar não significa que cada um tenha de aprender segundo uma metodologia diferente;
● Diferenciar é ir experienciando várias abordagens de modo a que, no final da aula, todos os alunos (os predominantemente linguísticos, logicomatemáticos, espaciais, cinestésicos, musicais…) tenham sucesso;
● Diferenciar é mediar, supervisionar, satisfazer;
● Diferenciar é alterar o ritmo, fornecer listas de projectos, dar a escolher em função dos interesses dos aprendentes;
● Diferenciar é alterar o ritmo, fornecer listas de projectos, dar a escolher em função dos interesses dos aprendentes;
● Diferenciar é planear tendo em conta o tipo de inteligência do aluno, as suas capacidades cognitivas, o estilo de aprendizagem, factores socioeconómicos e familiares, a disponibilidade, o sexo, as influências culturais e étnicas;
● Diferenciar é prever os pontos de fuga, pontos em que o currículo se ramifica e vários alunos “saltam fora” do ritmo de ensino e das actividades normais, porque as suas necessidades de aprendizagem diferem das necessidades da maioria dos colegas;
● Não diferenciar significa excluir alunos através da prática pedagógica.
A última afirmação, sobretudo, deixou o “velho” professor com os níveis de auto-estima muito perto do zero. Já nem ouviu o seu interlocutor proferir a máxima das máximas:
“Diferentes modos de aprender implicam diferentes modos de ensinar”.
E foi-se embora, tartamudeando:
“Pois… mas esquece-se de um pormenor: por mais criativa e adequada que seja a experiência de aprendizagem proporcionada ao aluno, se ele não dominar os pré-requisitos fundamentais, se não estudar e se não tiver vontade, jamais terá sucesso: não há nenhum aluno que leia se não souber ler; não há nenhum aluno que leia se não ler; não há nenhum aluno que leia se não quiser ler.”
A última afirmação, sobretudo, deixou o “velho” professor com os níveis de auto-estima muito perto do zero. Já nem ouviu o seu interlocutor proferir a máxima das máximas:
“Diferentes modos de aprender implicam diferentes modos de ensinar”.
E foi-se embora, tartamudeando:
“Pois… mas esquece-se de um pormenor: por mais criativa e adequada que seja a experiência de aprendizagem proporcionada ao aluno, se ele não dominar os pré-requisitos fundamentais, se não estudar e se não tiver vontade, jamais terá sucesso: não há nenhum aluno que leia se não souber ler; não há nenhum aluno que leia se não ler; não há nenhum aluno que leia se não quiser ler.”
Fernando Cardoso
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