terça-feira, 27 de abril de 2010

Café pode tratar crianças com hiperactividade


A ciência começa a reconhecer no café bebido com moderação um meio de prevenir doenças neuro-degenerativas, mas agora há quem queira testar as propriedades desta bebida para tratar crianças com hiperatividade e défice de atenção.

Um grupo criado em 2001 no Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra, que tem vindo a estudar o efeito da cafeína como normalizador do funcionamento do sistema nervoso central, tenciona iniciar em Outubro um estudo de natureza clínica nas denominadas doenças do humor, e com crianças.

A população alvo escolhida é de crianças entre os nove e os 14 anos que apresentem défice de atenção e hiperactividade, aos quais normalmente se associam problemas escolares.

Estes investigadores julgam ter já descoberto “o alvo molecular que é actuado pela cafeína, que é o receptor da adenosina A2A”, o que pode abrir caminho ao desenvolvimento de fármacos mais selectivos, capazes de tratar aquele que é considerado “o maior problema de saúde do mundo ocidental”.

Em cooperação com investigadores de Barcelona, Espanha, que possuem larga experiência na avaliação deste tipo de crianças, o grupo liderado por Rodrigo Cunha está apenas dependente da aprovação das comissões de ética para dar início a esta nova linha de estudo.O investigador explicou que serão administradas "cápsulas com uma libertação controlada de cafeína" para impedir ou diminuir a probabilidade de ocorrência de efeitos tóxicos nas crianças.

Testes em fases

Testes em voluntários não portadores da doença mostraram - segundo Rodrigo Cunha - que a administração dessa formulação “é inócua em termos de consequências para a saúde dos indivíduos”.

Dados recolhidos pelos investigadores em modelos animais “mostram a eficácia consistente da cafeína em défice de atenção e hiperactividade”.

“Queremos fazer com todo o cuidado a introdução desta nova ideia e testar a sua aplicabilidade e eficácia, e fá-lo-emos de modo faseado. Grupos crescentes de crianças serão incluídos para testar o benefício do consumo de pequenas doses de cafeína”, salientou.

Fármacos selectivos

Para Rodrigo Cunha, este tipo de estudos “abre portas para que se venha a desenvolver fármacos mais selectivos e mais potentes do que a própria cafeína, que com doses muito mais baixas imitem o que de bom faz a cafeína sem eventuais problemas associados à toxicidade pelo consumo excessivo”.

A escolha das crianças para se submeterem ao estudo teve em atenção o facto de não fazer parte dos seus hábitos o consumo da cafeína, e assim se poder conseguir um maior rigor científico nos resultados da aplicação de doses controladas de cafeína.

Doenças psiquiátricas

“Estamos ainda numa fase experimental, mas surpreendentemente muito promissora”, observou, frisando que da sua equipa fazem parte 15 investigadores que se dedicam a tempo inteiro a estudar os efeitos da cafeína no sistema nervoso central.

Há linhas de investigação paralelas “que evoluem mais em doenças do âmbito psiquiátrico e outras em doenças do âmbito neurológico, e o que é gratificante verificar é que os mecanismos subjacentes a estas acções normalizadoras parecem ser semelhantes nas várias patologias”, concluiu Rodrigo Cunha.

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