Durante a visita de estudo que a nossa Associação fez a Salamanca (ver folhas informativas anteriores) uma das colegas da Universidade de Salamanca que nos recebeu e connosco debateu o sistema de Educação Especial e Inclusiva em vigor em Espanha, mostrou-nos um vídeo retirado do “youtube” que muito me impressionou (http://www.youtube.com/watch?v=02Q4f7T4vi0 - ver no final do texto). A história é simples de contar: numa movimentada rua de uma cidade indiana durante uma chuvada, cai uma árvore que fica a impedir a passagem. A árvore é enorme e vêem-se os gestos expressões de desânimo dos automobilistas perante aquela grande contrariedade. Espera-se que alguém venha resolver o assunto: telefona-se, protesta-se contra a imóvel e impassível árvore caída na rua. De súbito, do meio da confusão de trânsito e da chuva torrencial uma criança, aproxima-se da árvore e começa a tentar empurrá-la. Incrédulos e até meio trocistas os transeuntes olham. A criança não desiste e, primeiro uma, depois outra, depois muitas das pessoas que ali estavam abandonam o interior dos carros imobilizados e, debaixo de chuva, juntam-se ao menino que tinha iniciado o trabalho. O filme acaba com a árvore sendo removida por uma multidão feliz por ter encontrado pelas suas forças uma solução para um problema que parecia insolúvel. A ligação que esta pequena história tem com a Educação Inclusiva é muito próxima por três razões:
1. Antes de mais porque a Educação Inclusiva é uma reforma educacional e, como tal, (tal como a árvore) não pode ser levada a cabo por pessoas isoladas. Nem mesmo por super-mulheres ou super-homens que tentam tudo resolver com a sua força e determinação. A árvore é demasiado pesada para ser movida por um ou por muito poucos: precisamos do compromisso de muitos.
2. Depois, porque desenvolver a Educação Inclusiva é fazer qualquer coisa. Não só conceber, enunciar princípios, enumerar o que seria preciso, eventualmente verberar a insuficiência de recursos ou a falta de atitudes adequadas. Desenvolver práticas inclusivas na escola é uma prática e, como tal, implica que cada um saia do abrigo seco do seu automóvel para se juntar aos que estão à chuva, àqueles que correm o risco de retirar a árvore.
3. Finalmente, as reformas não são sempre feitas por aqueles intervenientes que seriam os mais indicados, os que teriam mais responsabilidades ou mais preparação para as empreender. Tal como no vídeo, são por vezes os mais fracos, os menos preparados, aqueles de quem se esperaria menos empenho e capacidade que, muitas vezes, iniciam e suportam os processos de inovação. Se esperamos que sejam os “mais indicados” a tomar a iniciativa podemos ficar indefinidamente à espera que algo aconteça. Neste vídeo foi a pessoa com menos força que iniciou o processo e, talvez sem ela, a árvore tivesse ficado à espera que um aparatoso, demorado e custoso carro de bombeiros, a viesse remover.
Os professores de Educação Especial são profissionais que muitas vezes desencadeiam as reformas e as modificações nas escolas que conduzem a que elas possam ser acolhedoras e eficazes para alunos com dificuldades. Mas mesmo quando não são eles a desencadear este processo, precisamos que estejam atentos para ver quem toma a iniciativa de “empurrar a árvore” e, logo, logo, se juntem a quem não se conforme com a rua entupida.
David Rodrigues
Presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial (PIN-ANDEE)
In: Editorial da 1ª newsletter de Abril PIN-ANDEE
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