As crianças que sofrem de negligência parental não se percepcionam como vítimas e defendem quem as maltrata. Um estudo realizado no Norte de Portugal conclui que a negligência é a forma mais frequente de vitimação.
A investigação conduzida por Patrícia Rodrigues, no âmbito do mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina do Porto, incidiu numa amostra de 60 crianças, sinalizadas por comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Risco do Interior norte do país.
O objectivo era perceber o funcionamento da criança negligenciada em contexto escolar e familiar e aceder à percepção que tem sobre a sua própria situação. Para isso, foram realizadas entrevistas aos menores, aos progenitores e aos professores.
As crianças tendem a desculpabilizar os pais, procurando até protegê-los da crítica social, omitindo as agressões mais graves. "Não se percepcionam como vítimas nem consideram as famílias disfuncionais, porque essa é a única realidade que conhecem. Sentem culpa e gostariam de ser perfeitos para serem mais merecedores de afecto", descreve Patrícia Rodrigues. Mas, por vezes, há gestos, olhares e outros sinais não verbais que desmentem a fantasia do "pai herói" que as crianças querem manter e torna-se evidente a dor.
Por seu lado, os pais não se consideram agressores, justificando-se com o argumento de que as crianças são "difíceis, nervosas ou impulsivas" e que é preciso uma mão firme para que cresçam e se preparem para vida, apurou a psicóloga da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco de Ribeira da Pena.
São evidentes os padrões trangeracionais de maus-tratos. Pais que reproduzem as agressões, as humilhações, a negligência e o abandono que sofreram na infância. Segundo a investigadora, "não sentem ter a responsabilidade de cuidar e proteger os filhos" e muitos não possuem sequer a maturidade necessária ao cumprimento das responsabilidades parentais.
Os professores descrevem estas crianças como tendo dificuldades de aprendizagem e comportamentos agressivos. São frequentemente hostilizadas pelos colegas porque chegam à escola sujas, sem material e portadoras do estigma de crianças problemáticas. Das entrevistas que realizou às crianças, Patrícia Rodrigues detectou, ainda, presença de sintomatologia depressiva e ansiosa.
As idades de maior fragilidade são os 6/7 anos, quando as crianças entram na escola, e pelos 11/12 anos, no início da pré-adolescência. São fases críticas de transição para as quais os pais não parecem estar preparados para lidar.
Os dados revelam que a maioria das situações de vitimação refere-se a negligência, isto é, maus-tratos passivos expressos na falta de cuidados básicos, seja alimentação insuficiente ou incorrecta, vestuário inadequado ao clima ou não fornecimento de material e condições para estudar, exemplifica a técnica.
A grande maioria (78%) das famílias vive em zonas rurais - "o que não significa que a vitimação também não ocorra em meios urbanos", ressalva Patrícia Rodrigues - e aufere rendimentos muito baixos (menos de 300 euros/mês).
Verifica-se também a preponderância de agregados familiares pequenos (dois a quatro elementos), contrariando as conclusões de outros estudos que apontam as famílias numerosas como o contexto privilegiado de maus-tratos infantis.
A investigação conduzida por Patrícia Rodrigues, no âmbito do mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina do Porto, incidiu numa amostra de 60 crianças, sinalizadas por comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Risco do Interior norte do país.
O objectivo era perceber o funcionamento da criança negligenciada em contexto escolar e familiar e aceder à percepção que tem sobre a sua própria situação. Para isso, foram realizadas entrevistas aos menores, aos progenitores e aos professores.
As crianças tendem a desculpabilizar os pais, procurando até protegê-los da crítica social, omitindo as agressões mais graves. "Não se percepcionam como vítimas nem consideram as famílias disfuncionais, porque essa é a única realidade que conhecem. Sentem culpa e gostariam de ser perfeitos para serem mais merecedores de afecto", descreve Patrícia Rodrigues. Mas, por vezes, há gestos, olhares e outros sinais não verbais que desmentem a fantasia do "pai herói" que as crianças querem manter e torna-se evidente a dor.
Por seu lado, os pais não se consideram agressores, justificando-se com o argumento de que as crianças são "difíceis, nervosas ou impulsivas" e que é preciso uma mão firme para que cresçam e se preparem para vida, apurou a psicóloga da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco de Ribeira da Pena.
São evidentes os padrões trangeracionais de maus-tratos. Pais que reproduzem as agressões, as humilhações, a negligência e o abandono que sofreram na infância. Segundo a investigadora, "não sentem ter a responsabilidade de cuidar e proteger os filhos" e muitos não possuem sequer a maturidade necessária ao cumprimento das responsabilidades parentais.
Os professores descrevem estas crianças como tendo dificuldades de aprendizagem e comportamentos agressivos. São frequentemente hostilizadas pelos colegas porque chegam à escola sujas, sem material e portadoras do estigma de crianças problemáticas. Das entrevistas que realizou às crianças, Patrícia Rodrigues detectou, ainda, presença de sintomatologia depressiva e ansiosa.
As idades de maior fragilidade são os 6/7 anos, quando as crianças entram na escola, e pelos 11/12 anos, no início da pré-adolescência. São fases críticas de transição para as quais os pais não parecem estar preparados para lidar.
Os dados revelam que a maioria das situações de vitimação refere-se a negligência, isto é, maus-tratos passivos expressos na falta de cuidados básicos, seja alimentação insuficiente ou incorrecta, vestuário inadequado ao clima ou não fornecimento de material e condições para estudar, exemplifica a técnica.
A grande maioria (78%) das famílias vive em zonas rurais - "o que não significa que a vitimação também não ocorra em meios urbanos", ressalva Patrícia Rodrigues - e aufere rendimentos muito baixos (menos de 300 euros/mês).
Verifica-se também a preponderância de agregados familiares pequenos (dois a quatro elementos), contrariando as conclusões de outros estudos que apontam as famílias numerosas como o contexto privilegiado de maus-tratos infantis.
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