segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

“Vou contar até 10”: estratégias de regulação emocional para lidar com as “birras”

Regular as emoções e manter o nosso comportamento organizado em situações emocionalmente desafiantes nem sempre é tarefa fácil, muito menos na infância! Nesta fase as crianças ainda estão a desenvolver a capacidade de regulação emocional, que não é autónoma, e a aprender junto dos adultos cuidadores estratégias para o fazerem de forma mais eficaz. Esta competência desempenha um papel crucial para um desenvolvimento socioemocional adequado. Contudo, ajudar as crianças a organizar as suas emoções quando experienciam “birras” pode ser muito desafiante para os pais, que relatam frequente e continuamente dificuldades em conter estas explosões emocionais e os comportamentos que lhes estão associados. Neste sentido, apresentam-se dez estratégias concretas para lidar com birras.

Valide o sentimento: a criança, quando chora por estar frustrada, não precisa de sentir mais nenhuma emoção negativa, ou seja, devemos evitar envergonhá-la ou causar medo. Em vez de dizer que “não existe um motivo para chorar”, poderá alterar o discurso para “Eu sei que te sentes chateado e não tem mal, todos nos sentimos assim por vezes”. Isto não significa que está a ceder à birra, mas sim que está a ensinar a aceitar e a lidar com aquilo que é, involuntariamente, sentido;

Evite dramatizar a situação: como dito anteriormente, importa validar as emoções, mas é importante que não coloque mais carga negativa na situação. Por exemplo, deverá reformular um discurso em que enfatize de forma negativa a situação (ex.: “O teu brinquedo partiu-se e isso é mesmo triste”) para, em alternativa, focar-se numa resposta mais empática à frustração sentida (“Sei como gostavas do teu brinquedo que se partiu”);

Permita que a criança viva a zanga, mas com segurança na relação: num momento de birra, torna-se difícil manter a calma para qualquer um dos envolvidos. No entanto, se o adulto também fizer birra (gritando, punindo ou ignorando), não haverá uma aprendizagem funcional, por parte da criança. Neste sentido, explique que não aprecia aquele comportamento, mas que está ali para a auxiliar. Seja um porto de abrigo em momentos de angústia. É importante que o seu filho não sinta que está sozinho em momentos difíceis, em que o comportamento se intensifica. Isso só iria aumentar a tensão e, em consequência, piorar a situação;

Explique que não compreende aquela linguagem: é importante demonstrar apoio, fornecendo alternativas à expressão da zanga e frustração. Uma estratégia funcional poderá passar por explicar ao seu filho que não o consegue compreender, enquanto o ouve a chorar — isto incentivará a criança a controlar-se progressivamente, de forma a conseguir expressar o que quer. Desta forma, é transmitida a mensagem de que apenas conseguirá obter o que pretende quando adotar um discurso funcional;

Adapte o seu tom de voz: enquanto o adulto tentar falar mais alto para se fazer ouvir, maior será o incentivo para o tom da conversa subir. Desta forma, adaptarmos o nosso tom de voz à criança e à situação desencadeará três funções: acalmar, fornecer um melhor modelo de regulação emocional e, por último, demonstrar à criança que não nos irá conseguir ouvir neste tom baixo, se insistir em perpetuar os gritos;

Converse sobre o assunto: quando o nível de maturidade da criança o permite, aconselha-se a questioná-la sobre que tipo de emoção está a sentir. Posteriormente, poderão pensar em conjunto sobre o que espoletou aquele momento e quais são as estratégias para o prevenir;

Pensem em conjunto nas várias soluções para o problema: este momento de aprendizagem mútua transmite a mensagem de que se preocupa com o problema que a criança tem em mãos e que a quer ajudar. Assim, o objetivo não é só que solucionem a situação, mas que se crie um momento para que a criança pense sobre o que aconteceu e sinta que, com auxílio, está a criar ferramentas para futuramente o enfrentar de forma autónoma e funcional.

Acalmar o corpo, para depois acalmar a mente: quando estamos nervosos, a frequência cardíaca aumenta e os músculos contraem-se. Assim, por exemplo, será vantajoso andar um pouco com a criança — isto libertará a tensão e permitirá relaxar o tónus muscular. Outras estratégias de respiração e relaxamento poderão funcionar, nomeadamente o conhecido exercício da “montanha da respiração”. Ressalva-se que só depois de acalmar a birra é que a criança vai ter condições para o executar;

Ensine a redirecionar as emoções negativas: outra solução eficaz poderá ser gritar para uma almofada ou apertar um peluche atribuído para o efeito — isto permitirá à criança compreender que pode sentir e expressar as suas emoções negativas, mas que não as pode redirecionar para qualquer pessoa, como os pais ou pares;

Reforce as atitudes adequadas: importar explicar que não apreciamos uma birra, mas também é importante que a criança tenha exemplos concretos do que gostamos e aceitamos. Por exemplo, num momento em que a criança consiga tolerar a frustração de forma organizada, será fundamental reforçar verbalmente essa atitude. Além do objetivo pretendido, esta ação também potenciará melhorias na autoestima.

Mas, mais importante do que cessar uma explosão emocional no momento, é primordial ensinar melhores formas de lidar com as emoções no futuro. Só assim, fruto de persistência, calma e amor, é que poderemos criar adultos responsivos e sensíveis às suas necessidades e às do outro.

Eva Pires

Fonte: Público por indicação de Livresco

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