domingo, 7 de junho de 2020

Um terço dos estudantes continua a entrar no secundário com negativa a Matemática

Em sete anos, o número de estudantes que acabam o 9.º ano e passam para o ensino secundário com negativa a Matemática aumentou dez pontos percentuais: 33% dos alunos entram no 10.º ano sem terem tido aproveitamento à disciplina. Este resultado significa uma excepção num cenário de melhoria dos resultados do 3.º ciclo que é revelado por um relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).

A Matemática é, de longe, a disciplina em que mais alunos completam o 3.º ciclo com nota negativa. Nas matérias que surgem em seguida nessa lista, Inglês e Físico-Química, apenas 9% dos estudantes chegam ao final do ciclo sem aproveitamento. Estes números constam de um relatório recentemente publicado sobre os resultados escolares por disciplina entre 2011/2012 e 2017/2018.

A percentagem de alunos que passam do 9.º para o 10.º ano com negativa a Matemática já era de 33% num outro relatório da DGEEC divulgado há dois anos. O documento mais recente mostra que o cenário não só não se inverteu como, quando é analisado a médio prazo, tem vindo a agudizar-se. A percentagem de alunos que chegam ao ensino secundário com negativa a Matemática aumenta 10 pontos percentuais ao longo do período de sete anos lectivos que são incluídos nesta análise. Em 2011/12 eram 23%.

“Há muitos alunos que chegam ao final do 3.º ciclo tendo já ‘desistido’ da Matemática”, ilustra Lurdes Figueiral, presidente da Associação de Professores de Matemática (APM). Alguns estudantes assumem que vão ter má nota na disciplina, não só pela dificuldade que nela encontram, mas também por uma “visão cultural de que isto é normal”: “Os pais já tiveram más notas a Matemática e naturalizam os maus resultados dos filhos.” Para a APM, o cenário só se vai inverter quando “houver coragem de dizer que é preciso fazer coisas diferentes” no ensino da Matemática.

A visão da Sociedade Portuguesa da Matemática (SPM) é oposta. O relatório da DGEEC mostra resultados “positivos” na disciplina e só há um número elevado de alunos a concluir o 9.º ano com negativa por culpa do “facilitismo”, diz Filipe Oliveira, presidente daquele organismo. “Está a tornar-se cada vez mais fácil transitar de ano, uma constatação que é compatível com as orientações implícitas para se evitarem retenções.”

Prossegue o mesmo responsável: “Quando analisada, nos Conselhos de Turma, a situação dos alunos com um número de classificações negativas que os impediriam de transitar de ano, muito raramente se altera uma classificação negativa a Matemática, sendo essas classificações pela sua própria natureza um pouco mais inflexíveis e objectivas.”

De acordo com as regras em vigor, um aluno não transita de ano se tiver negativa cumulativamente a Matemática, Português e uma terceira disciplina ou a quatro disciplinas, se nenhuma delas for Português ou Matemática. 

Ou seja, para a SPM não só não é necessário fazer mudanças como as que defende a APM, como os resultados da disciplina nos últimos anos exigem que o Ministério da Educação “inflicta o caminho” das mudanças iniciadas quando revogou que Programa e Metas Curriculares, aprovadas no Governo de Nuno Crato, e das alterações que estão a ser preparadas no âmbito do Grupo de Trabalho da Matemática.

Este cenário a Matemática contrasta com o que acontece na generalidade das disciplinas do 9.º ano, nas quais a percentagem de alunos que passa de ano com negativa tem-se mantido estável ou até melhorado ligeiramente no período analisado. Por isso, o Ministério da Educação sublinha “a melhoria gradual dos resultados” revelada pelo relatório, mas reconhece que em algumas disciplinas, “nomeadamente a Matemática”, persistem “níveis de insucesso preocupantes”. Estes resultados justificam “o trabalho de promoção do sucesso escolar, de reorganização curricular e de diversificação das estratégias de ensino-aprendizagem” que a tutela tem vindo a promover nos últimos anos, faz saber o gabinete de Tiago Brandão Rodrigues. 

A DGEEC revela outros dados sobre a Matemática no 3.º ciclo. A nota média no final do 9.º ano é de 3 valores (numa escala até 5). É a mais baixa de todas as disciplinas e não teve melhorias nos sete anos avaliados. O número de alunos com classificações mais elevadas (4 e 5) aumentou quatro pontos percentuais neste período, fixando-se nos 28%. É também a percentagem mais baixa de entre as matérias do 3.º ciclo.

Além disso, é a disciplina onde os alunos têm mais dificuldades em levantar uma negativa. Só 30% dos alunos que chumbam no 9.º ano (ou seja, que ficam retidos nesse ano) com negativa a esta disciplina chegam à positiva no ano lectivo seguinte (depois de repetirem toda a matéria). A Português, 88% conseguem-no.

Já dos que passam para o secundário com negativa a Matemática, apenas 18% conseguem no 10.º melhorar a sua situação.

O Português destaca-se pela positiva na análise da DGEEC, com o número de estudantes que conclui o 9.º ano com nota negativa a ter caído mais de 50%. Em 2012/12, 7% dos alunos passavam o 10.º ano com negativa à língua materna. Em 2017/18 eram apenas 3%.

O cenário global revelado pelo documento é de melhoria dos resultados dos alunos do 3.º ciclo. As notas médias têm vindo a subir. Por exemplo, os alunos tinham, em média, 3,1 valores de classificação final a Português em 2011/12. No final do período analisado as notas subiram 0,2 pontos. É também esta a melhoria conseguida em Físico-Química (média de 3,4 em 2017/18) e Inglês e História, ambas com classificação média de 3,5 no ano lectivo para o qual há dados mais recentes.

Este cenário de aumento da nota média e de diminuição do número de negativas é transversal aos três anos do 3.º ciclo, e também ao 2.º ciclo, para o qual a DGEEC publicou também recentemente um estudo sobre resultados escolares por disciplina.

Resultados melhoraram no 2º ciclo

Ao contrário do que aconteceu no 9.º ano, os resultados na Matemática melhoraram no 6.º ano, ao longo dos últimos sete anos lectivos para os quais existem dados. É isso que revela um relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC). Apesar da evolução, a disciplina tem os piores indicadores ao longo do 2.º ciclo do ensino básico.

O número de alunos que passa do 6.º para o 7.º ano com negativa a Matemática diminuiu três pontos percentuais no período analisado por este documento. Esse indicador fixava-se em 2017/2018 (o último ano analisado) nos 14%. Esta continua, porém, a ser a disciplina com pior resultado neste nível do ensino básico. Segue-se o Inglês: 9% dos estudantes que concluíram o 2.º ciclo entraram no seguinte sem aproveitamento a Matemática.

Nos diferentes indicadores publicados pela DGEEC acontece algo semelhante ao verificado na percentagem de estudantes que passam de ano com negativa. Ou seja, os resultados da Matemática melhoram, mas continuam a ser os mais fracos de todo o 2.º ciclo. Nesta disciplina estão as notas mais baixas do 6.º ano – a par de Português. Os alunos concluem o ano com uma nota média de 3,4 (numa escala até 5), o que significa um aumento de 0,2 pontos entre 2011/12 e 2017/18.

O indicador para os melhores alunos – ou seja, aqueles que têm classificações de 4 e 5 – também evolui positivamente. A percentagem dos alunos com notas mais elevadas cresceu de 34 para 40% na Matemática. É o mesmo que Português, mas distante do que acontece em Ciências Naturais (51%) ou História e Geografia de Portugal (47%).

Fonte: Público

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