terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Jovem autista acaba curso de Medicina e quer especializar-se em neurocirurgia

Enã Rezende tem 26 anos e cumpriu um sonho no dia 15 de janeiro: licenciou-se em Medicina. Há 20 anos, uma professora tinha dito que ele não aprenderia a ler. "Eu dizia para mim: tenho que vencer na vida e mostrar que está todo mundo errado. Sempre soube que teria de lutar mais que os outros para conquistar meus objetivos", contou Enã à BBC Brasil. 

Em criança, Enã foi mal diagnosticado. Disseram-lhe que tinha psicose infantil, algo em que a sua mãe, Érica Rezende, nunca acreditou. "Na colação de grau dele, fiquei em choque, sem expressar muita emoção, porque estava me lembrando de tudo o que vivemos desde que ele era pequeno", recordou ao site. Érica tirou psicologia, e desde cedo se certificou que o filho era apoiado. Enã também sofreu dificuldades de fala. "Uma das primeiras coisas que percebemos foi a dificuldade na fala. Ele não articulava bem as palavras. Além disso, ele também tinha dificuldades de compreensão e não conseguia olhar nos olhos. Em contrapartida, tudo o que eu ensinava, ele aprendia na primeira vez", conta a mãe, que tem agora 46 anos. O filho só foi diagnosticado com síndrome de Asperger, uma perturbação do espectro do autismo, quando tinha 19 anos e a família se deparou com o diagnóstico de autismo feito à irmã de Enã.

O jovem médico também teve que lidar com o bullying de que foi vítima, e perdeu o pai aos sete anos. Ele morreu na sequência de um acidente de carro, com um traumatismo cranioencefálico. Desde a morte do pai, em criança, Enã começou a demonstrar interesse pelo corpo humano e como este funcionava. Cresceu e, em 2012, começou a tirar o curso de Medicina na Universidade de Cuiabá. Nunca reprovou em nenhuma cadeira. Um dia, Enã divulgou que era autista nas redes sociais e foi vítima de comentários preconceituosos. Porém, também foi contactado por médicos que eram autistas. 

O jovem deverá especializar-se em neurocirurgia a partir de 2020, depois de cumprir serviço militar como médico. E relatou à BBC Brasil o que pensou no dia em que se licenciou: "Fiquei um pouco nervoso na hora, mas depois foi um alívio. É importante lembrar que tenho uma grande responsabilidade pela frente por ser médico, sendo autista ou não."

Fonte: Sábado

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