terça-feira, 3 de novembro de 2020

Processar emoções, lidar com a ansiedade

O mundo mudou, a vida também, a pandemia deixará marcas. Após o confinamento, com o regresso faseado e progressivo às rotinas, a Ordem dos Psicólogos (OP) lançou o documento Covid-19. Desconfinamento – Regressar a (algumas) rotinas habituais com recomendações para pais e professores. Mudar comportamentos, alterar hábitos para proteção de todos, respeitar regras de distanciamento social, etiqueta respiratória, higienização das mãos e espaços. Usar máscara. São muitas mudanças em pouco tempo.
“É natural que predominem ainda sentimentos de incerteza relativos à exposição ao vírus. Contudo, gradualmente, de acordo com o plano apresentado será possível recuperar algumas atividades quotidianas, em segurança, se cumpridas com rigor as recomendações da Direção-Geral da Saúde e demais entidades com responsabilidade”, lê-se no documento. Desconfinar não significa o fim da pandemia e os números recentes da doença mostram que não é possível baixar a guarda. “O comportamento do vírus depende, em grande parte, do comportamento de cada um de nós. Continuamos a precisar de ser perseverantes, pacientes e resilientes. Dada a complexidade e a incerteza associadas à pandemia, será necessário adaptarmo-nos constantemente”. Como não há solução rápida, é necessário cuidado e atenção.

As medidas e restrições estão em constante mudança, agora é obrigatório usar máscara na rua, mediante certas circunstâncias. Os conselhos da OP pretendem facilitar a adaptação e promover o bem-estar e a saúde psicológica da comunidade. Os receios vêm de vários lados, da necessidade de andar em transportes públicos, de estar em espaços fechados como uma sala de aulas, de nem todos adotarem comportamentos de proteção. Há desejos também. A vontade de passar mais tempo fora de casa e de regressar a uma rotina mais próxima da habitual. O equilíbrio é essencial.

Os alunos regressaram à escola com vontade de recuperar o tempo perdido e os professores têm de perceber que a saudade é natural e que todos precisam de processar o complexo período de isolamento. “Estas emoções precisarão de tempo e espaço para serem partilhadas”. É necessário reconhecer que a produtividade e o envolvimento dos alunos, numa fase inicial, podem estar mais adormecidos. “É possível que sinta que tem de conhecer novamente os seus alunos, para poder adaptar a forma como ensina ao seu ritmo de aprendizagem, capacidade de concentração e motivação atual para a aprendizagem”, sublinha a OP. 

Envolver, comunicar, criar boas práticas
Fazer uma revisão dos materiais, ferramentas e experiências que tiveram bons resultados no ensino à distância no sentido de criar boas práticas, que podem ser partilhadas e trabalhadas em rede com os restantes profissionais da escola, é uma boa estratégia. Definir regras e práticas de convivência saudável para esta nova fase é igualmente importante, bem como envolver os alunos no planeamento de diversas atividades. 

“Pode ser útil dar conta das mudanças que existiram nos espaços físicos da escola para manter o distanciamento físico e dos novos procedimentos de higienização, apelando à contribuição de todos para manterem comportamentos seguros e cuidarem uns dos outros. Tal como ajuda a pensar sobre formas criativas de conviver e expressar afetos, mantendo os comportamentos de proteção”, recomenda a OP.

Os professores devem reforçar os canais de comunicação para que os alunos partilhem dúvidas, preocupações, receios. A ponte com o psicólogo da escola, com o diretor de turma, com os pais e encarregados de educação, é essencial no regresso às rotinas. É fundamental atenção aos sinais de alerta relacionados com a saúde psicológica, até porque há alunos que perderam familiares e pessoas próximas durante o período de isolamento. As alianças estabelecidas com os encarregados de educação devem ser mantidas e reforçadas para possibilitar respostas robustas e atempadas.

Os pais devem reconhecer e identificar receios e sentimentos de ansiedade em si próprios e nos filhos para encontrarem “formas saudáveis de lidar com eles, sem cair em exageros”. Por um lado, é preciso saber lidar com o que se perde, ou seja, a partilha de mais refeições, mais tempos para brincar, conviver e fazer atividades em conjunto. Por outro, é necessário valorizar o que se ganha, o regresso à escola, reencontrar amigos, colegas, professores.

“Sintam e transmitam confiança na escola. É preciso confiar que todas as medidas e ações possíveis estão a ser tomadas para tornar as escolas espaços seguros para o regresso das crianças e jovens. Se os pais transmitirem esta segurança, será mais fácil para as crianças e jovens enfrentarem os receios que possam sentir”, sustenta a OP.

Os pais devem estar preparados para lidar com alguma ansiedade motivada pela separação, sobretudo em relação aos filhos mais novos. Voltar à escola pode ser um momento stressante. “Esta é uma situação natural e que não deve gerar preocupação excessiva. Os pais/cuidadores devem reconhecer e validar a ansiedade que a criança sente face à situação”. Durante o período de adaptação, os pais devem tentar manter rotinas que “gerem segurança e tranquilidade à criança, sobretudo à hora de adormecer”.

Fonte: Educare

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