domingo, 17 de julho de 2016

Trader invisual segue o som dos movimentos cambiais

Tacteando o caminho com um bastão branco, Vishal Agrawal, de 29 anos, chega à sua mesa de negociação cambial no quinto andar do escritório do Standard Chartered no distrito financeiro de Bombaim todos os dias por volta das 8 da manhã.

Enquanto os seus outros oito colegas, para procederem às negociações, acompanham monitores que piscam sem parar, Agrawal ouve os movimentos dos preços no terminal de trading através de um software especial de reconhecimento de voz que transmite as informações a um aparelho ligado ao seu ouvido esquerdo.

"Escuto os movimentos e faço as negociações", conta Agrawal, cego há nove anos, que começou como trader de mercados emergentes em Setembro de 2013. "Não acho que seja mais difícil negociar, apesar da minha deficiência visual, pois tenho a ajuda da tecnologia."

Ele está a sair-se tão bem como muitos dos seus colegas e tem a possibilidade de crescer mais na empresa, comenta por seu lado Gopikrishnan MS, chefe de Agrawal e director em Bombaim do departamento de câmbio, taxas e crédito para a região da Ásia Meridional, por conta do Standard Chartered. Os limites de trading de Agrawal aumentaram regularmente desde que ele começou, refere Gopikrishnan, sem dar mais detalhes devido à política da empresa. Mas este é um sinal de que Agrawal é bom no que faz.

A Índia tem mais cegos que qualquer outro país do mundo, com 5,4 milhões, e os deficientes visuais costumam ser estigmatizados pelos empregadores, que temem que a deficiência os impeça de trabalhar convenientemente, pelo que não os contratam, explica Bhushan Punani, secretário executivo da Associação de Pessoas Invisuais da Índia. Casos de sucesso como o de Agrawal "são poucos e esporádicos", acrescenta.

"Enquanto não acabar o estigma que a sociedade atribui aos cegos, sair-se bem profissionalmente é uma batalha difícil para eles", sublinha Punani.

O Standard Chartered quer ser o empregador preferido por profissionais com deficiências no sector bancário e contratou algumas pessoas com deficiência visual para ocuparem cargos seniores em todo o mundo, segundo um porta-voz em Bombaim, sem especificar o total. Além disso, o banco contratou pessoas com deficiência para cargos iniciantes de vendas em nove países, salientou.

Outros traders

Existe apenas um punhado de profissionais cegos conhecidos do sector financeiro mundial. Wall Street tem pelo menos duas mulheres cegas: Laura Sloate, que ajudou a fundar a Sloate Weisman Murray & Co. e que gere o fundo Strong Value; e Lauren Oplinger, que trabalha com a venda de títulos municipais no JPMorgan Chase & Co. em Nova Iorque.

Um gestor de recursos cego da BlueCrest Capital Management, Ashish Goyal, que trabalhou anteriormente como gestor de carteiras do JPMorgan em Londres, foi mentor de Agrawal quando este procurava emprego.

"Eu disse-lhe [a Vishal] que ele só tinha de encontrar uma pessoa disposta a apostar nele", contou Goyal. "Depois de encontrarmos alguém que nos dá uma oportunidade, o fundamental é o conhecimento. E o desempenho é o que mais importa, independentemente de se ter uma deficiência", contou ao telefone, directamente de Londres.

Fonte: Jornal de Negócios por indicação de Livresco

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