sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ESTRATÉGIAS DE MODIFICAÇÃO COMPORTAMENTAL NA SALA DE AULA E DESORDEM DE DÉFICE DE ATENÇÃO COM HIPERACTIVIDADE (DDAH)

O professor assume um papel fundamental na vida escolar do seu aluno. É dado a ele a possibilidade de reconhecer a dificuldade que o aluno enfrenta na rotina escolar. Muito se tem falado do aluno hiperativo, contudo percebe-se que há uma confusão a respeito do conceito da hiperatividade, sendo apontado como hiperativo qualquer comportamento que fuja ao esperado em relação ao aluno, comportado, educado, participativo e com bom rendimento.

De acordo com Sosin (2006, p.13) a formação dos docentes está a ter progressos significativos na disseminação da informação, mas ainda existe uma falta de reconhecimento significativa da DDAH na sala de aula. Ainda o mesmo autor afirma que os professores de turma e de educação especial dizem frequentemente aos pais que os seus filhos são ‘aluados’, desatentos, irrequietos e que não fazem os trabalhos de casa, mas que na realidade são inteligentes e poderiam realizar os trabalhos se esforçassem um pouco.

Há uma generalização que pode influenciar negativamente a participação do aluno na aula. Por outro lado, muitos alunos hiperativos já diagnosticados ou não, sofrem com a falta de informação e adequação do trabalho docente, para que possa integrar-se e mesmo ser incluído na rotina de sala de aula. Sosin (2006, p.55) afirma que «os alunos com DDAH numa turma podem ser uma bênção e uma desgraça para o professor».

Esses alunos podem ser uma bênção pelo facto de poderem ser as pessoas mais originais, criativas e fascinantes. Tanto os professores como os restantes alunos serão contagiados pelo seu enorme entusiasmo. Estes alunos arranjam novas abordagens para exercícios atribuídos e têm as ideias mais extraordinárias. Podem ser divertidos, inovadores, talentosos, ousados, sensíveis e compreensivos. Também podem ser uma desgraça na sala de aula por perturbar os melhores planos do professor, pode parecer roubar-lhe mais tempo e dedicação do que os outros alunos. Está sempre a perder coisas, esquece-se de levar os livros para casa ou trazer os trabalhos de casa para a escola; o interior das pastas, mochilas e cadernos é uma verdadeira desgraça.

A desordem por défice de atenção e hiperatividade também tem um lado positivo, ainda que o mundo da escola nem sempre seja o melhor lugar para ele se revelar em todo o seu esplendor. A pessoa com DDAH é diferente, enquanto a escola requer conformidade. Infelizmente, muitas pessoas com DDAH só descobrem os seus verdadeiros talentos e florescem depois de saírem da escola.

Segundo Vasquez (1997) o objetivo de qualquer terapia comportamental consiste em reduzir de forma eficaz a frequência de comportamentos inadequados e aumentar a frequência de comportamentos desejados. As estratégias de modificação de comportamento habitualmente mais utilizadas têm por objetivo atrair respostas adequadas, isto é, aumentar as possibilidades de que um comportamento desejável se repita e, desta forma, diminuir a probabilidade de aparecimento de comportamentos inadequados, levando-os mesmo à extinção. É necessário ter presente que um comportamento inadequado só se extingue quando é substituído por um comportamento socialmente aceitável.

Segundo Garcia (2001, p.100) «quando se trata de reduzir e controlar comportamento das crianças hiperativas na escola, é imprescindível que os docentes implicados adotem atitudes favoráveis e positivas, e concebam um sistema de aprendizagem escolar que tenha em conta as capacidades, as destrezas e as limitações apresentadas por tais crianças».

De acordo com Sosin (2006), o melhor professor para o aluno com DDAH é aquele que consegue criar uma estrutura previsível (por exemplo, os trabalhos de casa devem estar sempre indicados no quadro; os últimos cinco minutos da aula devem ser utilizados para explicar o próximo exercício). O professor precisa de ser flexível, de mudar de estilo quando nota algum interesse por parte do aluno ou quando se apercebe de alguma dificuldade de compreensão.

Segundo Postic (1995, p.15), o aluno precisa compreender o sentido da mensagem que lhe é dirigida pelo professor, é preciso que ele perceba a tarefa que lhe é exigida. Quando o professor faz uma pergunta, o aluno interpreta-a, atribuindo-lhe uma intenção, e procura saber o que é que se espera dele. É preciso que ele compreenda não só o sentido da mensagem mas também o que é que o professor pretende dele.

Os principais obstáculos para implementar estratégias comportamentais em sala de aula são o tempo do professor e a sua atitude em relação às estratégias. Primeiramente o professor deverá conhecer o transtorno e diferenciá-lo de má educação ou preguiça. Além disso, este deverá ter disponibilidade para equilibrar as necessidades das outras crianças com a atenção requisitada por uma criança DDAH (idem).

É importante que o professor perceba a criança com DDAH como uma pessoa que tem potencial, que poderá ou não se desenvolver, e reconheça a sua responsabilidade sobre o resultado final desse processo. O professor ideal terá mais equilíbrio e criatividade para criar alternativas e avaliar quais obtiveram melhor funcionamento prático. Deverá saber aproveitar os interesses da criança, criando situações quotidianas que a motivem e oferecer feedback consistente, imediatamente após o comportamento da criança (Pitta, 2007).

O manejo de uma criança com DDAH em sala de aula não é uma tarefa fácil. O estilo de trabalho do professor, as características pessoais, tem importante impacto sobre o comportamento em classe e sobre o desempenho académico de crianças com DDAH. Os professores entusiasmados e dinâmicos têm maior facilidade para aumentar a participação destas crianças. Além disso, a utilização de sistemas de fichas, incluindo custo de resposta, pode auxiliar no desenvolvimento e manutenção do comportamento adequado e do desempenho académico (Barkley, 1998).

Autora: Neusa Rosa Andrade 
Universidade Jean Piaget de Cabo Verde

2 comentários:

Unknown disse...

Olá! Percebo esta problemática uma vez que fui diagnosticado há pouco tempo com ADHD, subtipo inatento. Nos adultos, e no meu caso, a hiperatividade é um sintoma ausente, destacando-se a impulsividade e a distração.

João Adelino Santos disse...

Ricardo, agradeço o testemunho! Abraço