segunda-feira, 17 de março de 2008

Investigação da hiperactividade envolve diferentes avaliações

Uma equipa de investigação do Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Pediátrico de Coimbra pretende caracterizar uma população de crianças que recorre à consulta de hiperactividade, ao nível comportamental, de comorbilidade, de competências académicas e neuropsicológicas antes e após medicação com metilfenidato, que actua ao nível da atenção. O estudo "A perturbação de défice de atenção e hiperactividade na criança - impacto nas funções cognitivas e neuropsicológicas e na qualidade de vida" focaliza-se numa amostra de 100 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos - 79 do sexo masculino, 21 do feminino. "O estudo centra-se em crianças que recorrem à consulta a pedido dos pais ou dos professores, não foi feito qualquer rastreio", explica Eva Fernandes, psicóloga clínica que integra a equipa técnica, composta por dez profissionais da área da saúde, incluindo psicólogos, pediatras, um neurologista e uma professora. As crianças são avaliadas em dois momentos: quando vão à consulta e passado cerca de um ano.
"A medicação com metilfenidato vai traduzir-se em melhorias ao nível das funções cognitivas, comportamentais, executivas e escolares de crianças com perturbação de défice de atenção e hiperactividade (PHDA)". Esta é a hipótese colocada na investigação que se concentra numa avaliação comportamental, intelectual, escolar - ao nível de dificuldades específicas de leitura, escrita e matemática -, do sono e ainda neuropsicológica da memória, atenção, linguagem, função executiva e coordenação motora. "Há aqui um factor importante: estamos a utilizar uma bateria de avaliação neuropsicológica de Coimbra, que está em fase de aferição para a população portuguesa. É uma avaliação muito abrangente feita ao nível da memória, atenção, linguagem, entre outras áreas", adianta a psicóloga.
A perturbação que está no centro das atenções é conhecida por reduzir significativamente a capacidade de dirigir e manter a atenção, modular os níveis de actividade e moderar os impulsos, o que se traduz em comportamentos inconsistentes com a idade e o nível de desenvolvimento. Eva Fernandes refere que a avaliação a nível escolar é feita através do contacto estabelecido com os professores, a quem são pedidas respostas a um questionário. No entanto, quando se suspeita que haja dislexia, associada à PHDA, essas crianças são encaminhadas para uma consulta específica de forma a aprofundar essa situação.
"A PHDA é um problema crónico e com um elevado potencial de influenciar negativamente a curto e longo prazo o sucesso académico, a vida familiar, o emprego e as relações sociais", realça a equipa no resumo do projecto de investigação. "Cerca de um terço das crianças com PHDA apresentam associados um ou mais outros problemas médicos, psicológicos ou do desenvolvimento. Os mais comuns são as perturbações de oposição e conduta, as perturbações do humor e da ansiedade e as dificuldades específicas da aprendizagem, como a dislexia ou a discalculia", sublinha. Os investigadores salientam ainda que a PHDA é a perturbação neurocomportamental mais prevalente na idade escolar, afectando cerca de 5% a 10% das crianças dessa faixa etária. "Estima-se que 7% das crianças em idade escolar tenham essa patologia", adianta Eva Fernandes. Idade escolar entenda-se entre os 6 e os 17 anos, embora a PHDA se detecte habitualmente nos primeiros anos de escolaridade. E os estudos revelam que há maior prevalência no sexo masculino, três a quatro vezes superior. A investigação, financiada através de protocolos estabelecidos com duas empresas farmacêuticas, arrancou em Janeiro de 2006 e até ao final deste ano deverão ser conhecidos os resultados.
O metilfenidato entra no estudo por ser considerado o fármaco de primeira linha para a terapêutica farmacológica da PHDA, segundo recomenda a Associação Americana de Psiquiatria da Criança e do Adolescente. "O metilfenidato tem consistentemente evidenciado eficácia e segurança na melhoria da atenção e na redução dos níveis de hiperactividade e impulsividade em crianças de idade escolar. De acordo com múltiplos estudos prospectivos, 68-85% das crianças tratadas com metilfenidato apresentaram melhorias comportamentais significativas", adianta-se no projecto.

Sem comentários: