segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Como é o Ensino a Distância para um estudante surdo e com baixa visão

A Covid-19 trouxe a todos a necessidade de nos adaptar-nos a uma vida à distância, a nível pessoal e profissional. Para César Casa Nova, estudante surdo e com baixa visão, que está a frequentar a licenciatura em Matemática na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), é mais um desafio que está a enfrentar e a superar, sobretudo quando falamos no Ensino a Distância.

“À distância, o ensino é para mim ainda mais lento do que o ensino presencial, dado o número de coisas a que tenho que prestar atenção ao mesmo tempo e porque vejo tudo tão pequenino”, conta o estudante.

Inicialmente, César tinha apenas um ecrã pequeno e, por isso mesmo, más condições de receção da tradução. “Quando os professores iniciaram as aulas síncronas foi muito difícil, porque não tinha condições para poder ver, ao mesmo tempo, os esquemas ou exercícios e a tradução da intérprete”, explica.

Desafios superados com soluções adaptadas

Para conseguir ultrapassar esta questão, o estudante pediu ajuda ao Núcleo de Apoio ao Estudante da FCUP e do Gabinete de Apoio a Alunos de Educação Especial da U.Porto, no sentido de se encontrarem soluções adaptadas. Hoje em dia a aprendizagem é mais fácil, pois agora tem mais um monitor. “Um segundo e maior monitor ajuda-me muito no meu trabalho”.

A ajuda dos professores do Departamento de Matemática também foi preciosa nesta fase. “Têm feito todos os esforços para que eu tenha o tempo necessário para aprender e adaptar a minha avaliação de acordo com a minha aprendizagem”, conta.

A importância da LGP Tátil

Ainda assim, e apesar da melhoria, César Casa Nova ainda sente dificuldades sobretudo devido à sua baixa visão. “Quer seja presencialmente ou à distância, a interpretação de LGP é demasiado rápida para os meus olhos. E, muitas informações perdem-se. A LGP Tátil é essencial para mim”, explica. Com a Covid-19 torna-se pouco provável, se não praticamente impossível, a LGP Tátil, uma vez que, para ver os gestos, César teria de colocar as suas mãos sob as mãos da intérprete por forma a conseguir perceber corretamente a informação.

Esta foi uma das primeiras ajudas que César, que ganhou este ano o Prémio de Cidadania Ativa da Universidade do Porto, teve de solicitar quando chegou à FCUP.

“Pedi ajuda para a tradução adaptada das intérpretes através da tradução em língua gestual tátil; dos materiais de apoio, tal como um monitor maior para ver bem os programas computacionais nas aulas práticas de Geometria e de outras UCs; de quadros brancos e ampliação de letras/imagens e a mudança de tipos de letras/gráficos nos slides dados pelos professores”, descreve.

Este jovem apaixonado pela matemática chegou também a criar códigos gestuais para serem usados pelas Intérpretes de LGP nesta área de ensino. “Assim, elas usam esses códigos gestuais para interpretação. Mais tarde, poderão ser usados para traduzir para outros surdos e surdocegos”.

Ensinar LGP na FCUP

Para além desta sua iniciativa, César ainda ensinou estudantes, professores e funcionários algumas palavras em LGP. “Senti a necessidade de mostrar que tinha uma Língua própria. Precisava de ensinar gestos básicos aos estudantes e aos funcionários, para comunicarmos. E também a alguns professores universitários, primeiro por LGP, depois aos poucos por Língua Gestual Tátil, que é a forma de comunicação adaptada para surdocegos”.

Segundo o estudante, “isto ajudou a comunidade universitária a compreender melhor as minhas dificuldades. Participei em seminários e divulgação de LGP e LGP Tátil, alertando as dificuldades sentidas pelos surdocegos”, conta.

Este trabalho está agora interrompido, mas a aprendizagem não pára…

Fonte: Por Sinal

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