quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Psicólogo em contexto escolar

Os onze anos de prática profissional na escola dão-me legitimidade para afirmar que os SPO contribuem para um melhor funcionamento das escolas e que, por isso, deveria existir pelo menos um por agrupamento.
"Sou professora e tive um caso de uma aluna que se maltratava (cortava os pulsos), devido a um ambiente familiar desestruturado. Mas este é apenas um dos muitos casos a que assistimos diariamente. Pergunto: com tantas situações destas a registarem-se nas nossas escolas, como podemos intervir? A ajuda psicológica é fundamental. As escolas deveriam ter todas um psicólogo a tempo inteiro. Porque não resolveu ainda o Ministério da Educação esta questão?"
Maria Helena Sousa
Compreendo na perfeição o desabafo desta leitora. O facto de desenvolver a minha prática profissional em contexto escolar coloca-me em plena sintonia com tudo aquilo que aqui é mencionado. No artigo "Diário de uma psicóloga escolar", da Dra. Armanda Zenhas (especialista em Educação neste site), é feito um retrato muito real da multiplicidade de actividades e solicitações de que é alvo um psicólogo em contexto escolar. Sem exagero, o técnico de psicologia que desenvolve a sua actividade na escola não tem momentos de pausa, uma vez que, mesmo quando se desloca ao bufete, é assaltado por múltiplas questões. Note-se que ele próprio aproveita este ponto de encontro com os professores, para tentar solucionar muitas das questões que vão surgindo no dia-a-dia. Não há, na afirmação anterior, nenhuma tentativa de vitimização, somente uma referência ao que realmente acontece e que, de alguma forma, mostra a necessidade da existência de psicólogos escolares. Os onze anos de prática profissional na escola dão-me legitimidade para afirmar que os SPO (Serviços de Psicologia e Orientação) contribuem para um melhor funcionamento das escolas e que, por isso, deveria existir pelo menos um por agrupamento.
No ano lectivo anterior fui confrontada com duas situações semelhantes à que é descrita por esta leitora. Curiosamente, foram-me encaminhadas por uma professora com quem a maioria dos alunos mantém uma relação excelente. Apesar de frequentemente esta docente tentar apoiar os alunos na resolução dos seus problemas, considerou que a gravidade da situação exigia a intervenção da psicóloga escolar. Imediatamente estas alunas foram atendidas, assim como os respectivos encarregados de educação. Os restantes professores do conselho de turma foram sensibilizados para esta situação e ficaram especialmente atentos aos seus comportamentos e atitudes. Uma das situações, pelo facto de apresentar indicadores claros de risco de suicídio, foi encaminhada para um técnico de pedopsiquiatria. Resta acrescentar que estas alunas passaram a ser atendidas com regularidade no SPO, tendo manifestado claro interesse em contactar-me no sentido de expressar e tentar solucionar os seus problemas.
A questão que se coloca é que em muitas escolas não existem técnicos para agir prontamente nestas situações. Neste caso, se o professor constata que existe risco de suicídio, deve agir com ponderação, sem evitar, no entanto, falar sobre o assunto. A situação deve ser comunicada urgentemente ao director de turma, no sentido de este contactar a família para que ela procure a ajuda de técnicos de saúde. Os docentes e auxiliares educativos podem ter um papel muito importante na prevenção primária, no encaminhamento destes jovens para os serviços competentes e na sua integração escolar após uma crise suicidária.
Termino com a última questão colocada pela leitora: porque é que o Ministério da Educação ainda não resolveu esta questão? Na minha opinião, por dois motivos. O primeiro é claramente economicista. O segundo deduzo-o das palavras proferidas por um elemento deste Governo, numa entrevista realizada há algum tempo atrás na RTP. Quando foi confrontado com a necessidade de outros técnicos na escola, nomeadamente psicólogos, respondeu que nas escolas existem professores muito experientes, o que leva a depreender que, segundo ele, os professores podem perfeitamente exercer a função de psicólogo...
Adriana Campos 2007-12-12

Sem comentários: