Depois de anos de debates, petições, pareceres e opiniões sobre o uso de smartphones na escola, o Ministério da Educação anunciou a proibição do seu uso durante o 1.º e 2.º ciclos.
Tendo em conta as consequências e implicações do uso deste aparelho nas instituições de ensino – como a indisciplina, o cyberbullying, o isolamento e a diminuição do rendimento escolar – importa questionar por que motivo tantas escolas, apesar de desejarem proibi-lo mais cedo, encontraram dificuldade em fazê-lo de forma autónoma.
Lembro-me de uma reunião de pais em que a professora, com alguma hesitação, informou os encarregados de educação de que os alunos não deveriam andar de skate na escola apresentando uma longa e rocambolesca justificação que implicava um cabo de trabalhos entre seguros escolares, leis, ministério da educação, multas e feridos. Perguntei-me por que não teria dito simplesmente que não era permitido usar o skate dentro da escola. À partida as razões seriam mais do que óbvias, mas calculo que já imaginasse o chorrilho de protestos e comentários que daí adviria.
Hoje em dia, qualquer proibição, reprimenda ou advertência são assuntos absolutamente delicados que têm de ser tratados com pinças. Implicam explicações infindáveis, papeladas, pedidos de satisfações e, por vezes, visitas indesejadas ao recinto escolar.
É de lamentar que as escolas, enquanto instituições que deveriam ter autonomia na definição das suas práticas e decisões, se vejam frequentemente limitadas pela pressão externa, muitas vezes exercida por pais, encarregados de educação e demagogias, comprometendo o que consideram ser melhor para os seus alunos.
Paralelamente, também nos deparamos com pais que, apesar de reconhecerem que o uso excessivo e inadequado do telemóvel não é benéfico para os seus filhos, o oferecem em tenra idade e permitem que o usem livremente, sem orientação ou regras definidas.
É caso para pensar onde fica o diálogo, a capacidade de tomar decisões e definir estratégias. Por que razão parece que andamos todos com tanto medo uns dos outros. E por que temos tanto receio de interferir com o desejo ou a liberdade dos mais novos, mesmo quando sabemos que eles ainda não têm maturidade para decidir o que é melhor para si.
Para educar não é preciso pedir licença. A educação exige acompanhamento e diálogo, mas também coragem e firmeza. Quando os adultos hesitam em assumir o seu papel de orientadores, cedendo facilmente a pressões externas, querendo agradar ou deixando adivinhar o seu receio de represálias, desistem do seu importante papel de guias, deixando os jovens mais vulneráveis, num mundo onde ainda não têm recursos para se orientarem sozinhos.
Filipa Chasqueira
Fonte: SOL por indicação de Livresco
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