segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"Roubaram a alma à escola e ela morreu"

Neta e filha de professores, Fátima Miranda nunca imaginou vir a fazer outra coisa na vida que não fosse ensinar. Também nunca tinha imaginado reformar-se antes do tempo, mas já não conseguia aguentar mais.
"Os últimos meses do ano passado foram de um sacrifício terrível. Em minha casa nem acreditavam como era possível eu estar tão desmotivada, logo eu que andava sempre entusiasmada", recorda. Os motivos para a desilusão? A ministra e os alunos.
"Com estas reformas, os professores, estão assoberbados de trabalho técnico e burocrático. Eu gostava imenso de ensinar mas isso deixou de ser o mais importante para a escola. Desapareceu a humanidade e a criativadade. Roubaram a alma à escola e ela morreu".
E depois há o problema da indisciplina. A professora já nem pedia que as coisas fossem como no tempo do seu pai - professor primário de Belmiro de Azevedo, a quem o presidente da SONAE "sempre se referiu com estima, gratidão e respeito" - mas, hoje, os jovens "não respeitam a figura do professor e não têm motivação". "Em termos de aula é uma indisciplina total, e quase ninguém fala disso". A política de facilitismo cortou com a exigência e as indicações são para não "chumbar" ninguém. "Os professores são pressionados, de uma forma legal, para que os alunos passem e as crianças ficam completamente desmotivadas porque já sabem que vão passar".
Reformada há um mês, a professora não tem remorsos da decisão. "Sinto-me satisfeita e leve, dediquei muito à minha profissão, acho que fiz a minha parte e consegui deixar a minha semente em alguns alunos." Agora, vai passear, fazer desporto e começar a estudar arte. No entanto, não deixa de pensar que "a ministra vai ter a tarefa facilitada porque a maior parte dos novos professores são uma massa tenra, muito maleável e estão em condições precárias. A minha geração era mais difícil de domesticar".

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