segunda-feira, 25 de maio de 2015

Diferenciação pedagógica: uma lista de verificação por quinze pontos

É arriscado reduzir um problema complexo a alguns princípios. Mas é também uma maneira de chegar ao essencial, tal como eu o concebo. Tudo isso é discutível:

1. A diferenciação situa-se firmemente dentro da perspectiva de uma "discriminação positiva", de uma recusa de indiferença para com as diferenças e de uma política de democratização do acesso ao conhecimento e às competências. É, portanto, destinado principalmente a alunos com dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento. É uma escolha política antes de ser pedagógica.

2. A diferenciação pedagógica centra-se nos meios e nas modalidades de trabalho, e não nos objetivos de formação, nem sobre as ambições implícitas de que o professor desenvolve a propósito de cada aluno. Isto implica , porém, centrar-se nos objetivos essenciais numa visão estratégica do conjunto da escolaridade.

3. A diferenciação não é sinónimo de respeito incondicional das diferenças, porque o projeto da escola é o de permitir a cada um de aceder a uma cultura escolar comum, a educação de base, como por exemplo a cultura da escrita, a argumentação, a formalização matemática.

4. Não se trata de um método, nem de um dispositivo particular, mas de uma preocupação, que deveria preocupar todos os métodos, todos os dispositivos, todas as disciplinas, todos os níveis de ensino.

5. A diferenciação não pode e nem deve conduzir a um ensino inteiramente individualizado. O desafio consiste em individualizar os percursos de formação trabalhando em grupos, apoiar-se em interações sociocognitivas.

6. A diferenciação traduz-se, em última instância, pela qualidade, pela relevância, pelo significado, pela fecundidade das situações de aprendizagem ao longo da semana e do ano letivo.

7. Ela passa por outra organização do trabalho escolar, suscetível de otimizar as situações de aprendizagem, se possível para todos os alunos, com prioridade para aqueles que têm dificuldades.

8. Os ciclos plurianuais são estruturas favoráveis a uma organização do trabalho mais flexível e mais cooperativa (grupos e necessidades, grupos de níveis, grupos multietários, suporte integrado).

9. Não há diferenciação sem observação formativa, criteriosa, comparando cada aluno aos objetivos de formação em vez de aos seus colegas de turma.

10. Pode-se identificar com antecedência as necessidades e as aquisições dos estudantes para lhes administrar um tratamento ad hoc projetado anteriormente; devemos envolvê-los em situações problemáticas ou projetos que os confrontem com obstáculos, cuja superação se torna o objetivo a curto prazo e piloto das intervenções diferenciadas do professor.

11. Aumentar o tempo dos estudos não é a solução. O tempo não é o recurso principal, não se trata de aprender "ao seu próprio ritmo", mais do que aprender a um ritmo estandardizado, mas apoiado de maneira diferenciada pelos professores; o que é preciso diferencia é a parte do investimento subjetivo, da inteligência profissional, de criatividade, de ensino estratégico, de atendimento personalizado dedicado a cada aluno.

12. A diferenciação pedagógica surge qualquer que seja o currículo em vigor, mas este pode modular a distância entre a cultura escolar e a cultura dos alunos e das suas famílias.

13. A diferenciação pedagógica exige não só o domínio de dispositivos,mas uma formação especializada em didática, em avaliação, em metacognição, competências sem as quais não saberemos descartar-nos das situações mais convencionais, nem controlar os processos de aprendizagem.

14. A diferenciação deve ser pensada e posta em prática em equipa, para confrontar vários olhares sobre os estudantes, dividir o trabalho, gerir vários grupos, trabalhar os objetivos e as ferramentas em conjunto.

15. A diferenciação pedagógica pressupõe a solidariedade entre alunos e entre famílias, cuja adesão reflete a ideia de discriminação positiva.

Escusado será dizer que não há uma receita e que diferenciar é uma tarefa de profissionais reflexivos, que pensam que o fracasso não é uma fatalidade e que a sua intervenção pode "fazer a diferença".

Philippe Perrenoud 

Para saber mais:

Perrenoud, Ph. (2002). Les cycles d’apprentissage. Une autre organisation du travail pour combattre l’échec scolaire. Sainte-Foy : Presses de l’Université du Québec.

Perrenoud, Ph. (2004). Pédagogie différenciée : des intentions à l’action. Paris : ESF, 3e éd.

Nota: Texto traduzido livremente pelo autor e editor do blog.
Fonte: Terrear

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