Durante a resolução de problemas matemáticos, vários processos contribuem para o êxito dos alunos. A investigação tem mostrado que a fluência matemática e o funcionamento cognitivo executivo são essenciais.
A fluência matemática implica quer a recuperação rápida e precisa de factos matemáticos da memória de longo prazo, quer a atualização eficiente de informações, a supressão de respostas incorretas e mudanças entre operações.
O funcionamento executivo designa as funções reguladoras que controlam os processos de pensamento no cérebro. Entre estas funções executivas, destacam-se três:
- a atualização designa a capacidade de armazenar, editar e processar informações armazenadas na memória de trabalho à medida que novas informações chegam; a atualização visuoespacial implica observações no espaço, ao passo que a verbal envolve informações apresentadas em linguagem falada ou escrita;
- a inibição é a capacidade de suprimir informações irrelevantes e/ou respostas inadequadas;
- o deslocamento traduz a capacidade de pensamento flexível e de alternar entre tarefas ou estratégias.
Porém, a maioria dos projetos de investigação tem estudado a resolução de problemas simples em crianças muito novas. Logo, são necessários mais estudos sobre o papel destes dois fatores — fluência matemática e funcionamento executivo — na capacidade de resolução de problemas mais avançados em crianças mais velhas.
Para explorar essa questão, quatro investigadores de universidades holandesas adotaram um desenho longitudinal para monitorizar a resolução de problemas matemáticos durante um ano letivo. Participaram 458 alunos do 4.º ano de escolaridade de escolas holandesas, com uma distribuição uniforme de discentes com desempenho baixo, médio e elevado em Matemática, com base em pontuações de testes nacionais padronizados desta disciplina. O raciocínio não-verbal foi controlado no início.
Para medir o desempenho dos alunos, os investigadores consideraram os resultados obtidos no teste nacional padronizado de Matemática, facultados pelas escolas: usaram-se as pontuações do teste no início do 4.º ano como medida de base e as do teste no final do ano como medida de resultado. Avaliou-se o desempenho da fluência matemática com um teste padronizado de lápis e papel, aplicado em sala de aula, no início do ano. Já o funcionamento executivo (atualizações visuoespacial e verbal, inibição e deslocamento em combinação com inibição) foi avaliado individualmente, também nesse momento inicial, por um psicólogo educacional, aplicando diferentes testes.
Os resultados mostram que todas as medidas se correlacionam de forma muito significativa. A fluência matemática e as atualizações visuoespacial e verbal previram o desempenho na resolução de problemas matemáticos no final do 4.º ano, o que não aconteceu com a inibição e o deslocamento combinado com a inibição.
Quanto às mudanças (ou ao crescimento) na resolução de problemas durante o 4.º ano, só a fluência matemática teve um efeito robusto e direto no desempenho dos alunos no final desse ano, e após o devido controlo, feito logo no início do estudo, da capacidade de resolução de problemas.
Contudo, a inibição e o deslocamento (em combinação com a inibição) já se relacionam indiretamente com a resolução de problemas matemáticos dos alunos no final do 4.º ano por meio da fluência matemática e, portanto, assumem um papel no crescimento discente a tal nível.
Dada a importância da resolução de problemas no ensino-aprendizagem da Matemática, estas novas descobertas sobre as contribuições de diferentes componentes envolvidos num processo tão complexo como este são relevantes para se saber como apoiar os alunos na aprendizagem desta disciplina.
Referência bibliográfica
Kaskens, J., Goei, S. L., Van Luit, J. E. H., Verhoeven, L., & Segers, E. (2022). The Roles of Arithmetic Fluency and Executive Functioning in Mathematical Problem-Solving. Elementary School Journal, 123(2), 271–291. https://doi.org/10.1086/721771
Fonte: Iniciativa Educação
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