quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Que educação temos em Portugal?


Portugal fez um progresso notável na área da educação nas últimas décadas.​ Antes da democracia, quase 30 em cada 100 pessoas não sabiam ler nem escrever. ​Nos dados mais recentes (2021) são três em 100.


O acesso à educação teve uma evolução significativa e há dois indicadores que o mostram claramente.​ No ano 2000, menos de metade dos jovens inscritos completavam o Ensino Secundário. Em 2023, este valor aumentou para 90%.​

Também no ano 2000, a taxa de abandono escolar precoce era de 30%. Em 2023, está nos 8%.​


Hoje, podemos dizer que Portugal já não tem um problema de acesso ao ensino. Mas andar na escola não significa necessariamente aprender.​ Quer dizer que o problema que se coloca agora é o da qualidade? Exatamente. ​

Como é que nos comparamos com outros países?​

É fundamental olhar para as avaliações internacionais, porque aí temos indicadores comparáveis da aprendizagem dos alunos. ​

Foquemo-nos em dois testes: o que avalia o desempenho na leitura dos alunos do 4º ano, chamado PIRLS, e um outro teste, o PISA, que avalia as competências em Matemática, Leitura e Ciências dos alunos de 15 anos.​

No primeiro teste, o PIRLS, a tendência tem sido decrescente desde 2011, ano em participámos pela primeira vez.​

Os últimos resultados revelam que um em cada quatro alunos que participaram tem um desempenho de leitura baixo ou muito baixo. ​Isto quer dizer que têm dificuldades, por exemplo, em identificar a ideia principal de um texto ou seguir uma sequência de ideias.


E no PISA de 2022, caímos em todos os domínios avaliados.​ Uma parte significativa dos alunos com 15 anos têm dificuldades na leitura, matemática e ciências.
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As desigualdades pré-existentes na escola

Atenção que estamos a falar de não atingirem competências básicas como identificar a ideia principal de um artigo que leem no jornal ou terem dificuldade em aplicar conceitos matemáticos do dia a dia, como comparar preços por quilo. ​

Estamos, por isso, longe de atingir a meta europeia para 2030 que é de 15%. E estas dificuldades não atingem todos os alunos por igual. Esse é um dos problemas. A escola não tem conseguido contrariar as desigualdades pré-existentes. ​

As crianças de contextos socioeconómicos mais vulneráveis continuam a ter piores resultados, menos acesso a recursos e maior probabilidade de repetir anos letivos ou abandonar a escola. Perpetuam-se, por isso, ciclos de pobreza.​

Na leitura, a diferença entre as aprendizagens dos alunos do 4º ano de meios socioeconómicos mais baixos e mais elevados corresponde a dois anos de escolaridade. Nos alunos de 15, a matemática, as diferenças de desempenho são o equivalente a quatro anos de escolaridade.

As desigualdades podem determinar quem ingressa ou não no ensino superior. ​79% dos adultos com pelo menos um dos pais com licenciatura têm, também eles, um curso superior. ​

Escolas têm acolhido cada vez mais alunos estrangeiros

Nos casos em que os pais não completaram o ensino secundário, esta percentagem baixa para 21%.​

Os desafios que a escola enfrenta não se devem apenas ao contexto socioeconómico dos alunos. As escolas portuguesas têm acolhido cada vez mais crianças estrangeiras.​


No conjunto do sistema educativo, no ano letivo passado, correspondiam a 14% do total de matriculados, eram cerca de 140 mil. É preciso garantir a sua inclusão, o que traz desafios para a organização das escolas.

O que pode a escola fazer para acomodar melhor estas diferenças e garantir que há igualdade de oportunidades para todos?​

Em primeiro lugar, importa dizer que a educação não começa com a escolaridade obrigatória aos 6 anos. Os primeiros anos de vida são decisivos e têm consequências duradouras. O acesso a creches e à educação pré-escolar em Portugal tem sido uma questão crítica, com desafios que envolvem tanto a oferta de vagas como a qualidade da resposta.​


Por isso, as creches (para idades dos 0 aos 3 anos) devem ser integradas no sistema de ensino, tal como tem acontecido com o pré-escolar (dos 3 aos 5 anos). Em 2021, por exemplo, a taxa de cobertura nacional de creches era de pouco mais de metade (53%).

Sem professores não há escola

Há ainda outro fator decisivo para a qualidade do ensino: os professores. ​Sim, sem professores não há escola. A falta de professores em Portugal é um problema que se tem agravado nos últimos anos, com impacto direto na qualidade da educação. Portugal precisa de renovar a classe docente, até porque o número de alunos está a aumentar.

Em 2022/23, os professores com menos de 30 anos eram em média 2% e os professores com 50 ou mais eram 60%.

Nos próximos anos, muitos vão aposentar-se – há estudos que apontam para a necessidade de 3.500 novos docentes a cada ano letivo. Mas faltam candidatos porque a carreira docente não é vista como suficientemente atrativa, desde logo ao nível dos salários e da estabilidade que proporciona.​

O resultado são milhares de alunos sem aulas. Só no último ano letivo, mais de 20 mil alunos chegaram ao final do primeiro período sem aulas a pelo menos uma disciplina.

Estes alunos são também os futuros profissionais e as suas qualificações têm impacto nos níveis de produtividade do país. Apesar do enorme progresso, ainda há um caminho a trilhar.​

45% das pessoas entre os 25 e os 34 anos com curso superior - esta é a meta europeia para 2030. Em Portugal, estamos perto de a atingir. ​



A via profissional

Mas o ensino superior não é o único caminho. O ensino profissional tem tido um papel crucial na qualificação dos jovens e no preenchimento de lacunas do mercado de trabalho.​

Em 2022, cerca de 4 em cada 10 alunos que completaram o ensino secundário seguiram uma via profissional.

Por último, é preciso lembrar que num mercado de trabalho em constante mudança, a formação inicial não é suficiente. A aprendizagem ao longo da vida é fundamental para garantir que os trabalhadores se adaptam às novas exigências tecnológicas, económicas e sociais. ​


Cerca de 44% dos adultos portugueses estão envolvidos em atividades de formação contínua, mas é preciso continuar este trabalho, especialmente em áreas como a digitalização e automação onde faltam profissionais qualificados.

Hoje, sabe-se, por exemplo, que países com populações mais qualificadas tendem a gerar mais start-ups tecnológicas, invenções e patentes, algo que, em Portugal, ainda temos dificuldade em fomentar de forma sistemática.​

É, em grande medida, na educação que encontramos a solução uma economia mais competitiva, mas também para uma sociedade mais equitativa e mais justa.

Fonte: SIC Notícias por indicação de Livresco

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