Desde o passado dia 1 de fevereiro que, com a nova lei das quotas, as empresas com mais de 100 trabalhadores são obrigadas a cumprir a quota para trabalhadores com deficiência. Mas algumas empresas já estavam, muito antes disso, a percorrer o seu caminho rumo a um mercado de trabalho mais inclusivo e que garante igualdade de oportunidades. Há quem esteja empenhada em atrair talento mais diverso, quem já esteja focada em melhorar a acessibilidade e quem trabalhe para incluir estes profissionais no mercado de trabalho. Esta terça-feira assinala-se o Dia Mundial da Síndrome de Down.
Com quase 100 colaboradores com algum tipo de deficiência ou incapacidade, num total de 3.273 pessoas, sempre que integra um novo trabalhador com deficiência, o El Corte Inglés (ECI) faz o levantamento das necessidades de adaptação do seu posto de trabalho. O objetivo é garantir que todos conseguem desempenhar a sua função sem qualquer barreira física.
“Foi através da integração de um carpinteiro, que se desloca de cadeira de rodas, que melhorámos toda a acessibilidade no armazém de Alcochete, onde se insere a carpintaria”, conta Paula Lobinho, responsável pela área da diversidade, inclusão e parcerias institucionais do ECI Portugal.
“Foi construída mais uma rampa de acesso na entrada principal de funcionários, uma casa de banho adaptada e mais próxima da carpintaria, identificado um lugar de estacionamento, e também desenhado um circuito interno para que a sua deslocação dentro do armazém fosse realizada de forma mais segura”, descreve.
Mas a realidade é distinta da vivida na companhia espanhola de retalho. Os números mostram, contudo, que ainda há muito por fazer para incluir pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho. Segundo dados Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, em 2021, as empresas privadas criaram 3.713 vagas para pessoas com deficiência, mais 65% que no ano anterior, ou seja, 1.469 vagas. Ainda assim, o número de pessoas empregadas não atinge sequer 25% do total de pessoas com deficiência inscritas nos centros de emprego.
Dados do relatório do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos (ODDH) mostram ainda que, entre 2016 e 2019, a taxa de desemprego na população com deficiência baixou 8,8%, mas com a pandemia ocorreu uma subida de 11,6%. Em 2020, o desemprego de longa duração aumentou 21,7% face a 2019 e, em 2021, aumentou cerca de 7,6% face a 2020.
Já a taxa de risco de pobreza ou exclusão social era, em 2021, de 30,5% para agregados familiares com pessoas com deficiência. Quase o dobro do estimado para a generalidade da população (18,8%), de acordo com os números publicados pelo ODDH.
Atração de talento diverso
No setor tecnológico, a Microsoft abriu 100 vagas para talento diverso no mercado nacional. A ação de recrutamento surgiu no âmbito de um programa piloto em três países – Portugal, Roménia e Egipto – e que deverá, posteriormente, “ser estendido a outros países”, explica Guilherme Castro Caldas, EMEA lead – connected support delivery e disability ERG Portugal lead na Microsoft.
“Quisemos, essencialmente, dar visibilidade ao tema. O objetivo é sensibilizar e recrutar. Através de um vídeo com testemunhos de quatro colaboradores voluntários, demonstrámos que, independentemente dos perfis, do background, das histórias de vida ou até das deficiências, há espaço para o talento diverso na Microsoft e que esta é uma organização na qual podem trazer tudo o que são para o trabalho”, detalha o responsável.
O balanço é positivo. “Temos recebido, cada vez mais, candidaturas de pessoas com perfis e talento diversos, o que nos diz que estamos no caminho certo“, acredita. Questionada sobre o número de pessoas com deficiência que emprega atualmente, a tecnológica norte-americana não adiantou valores, justificando que não tem esses números, pois as pessoas não são obrigadas a comunicar às entidades empregadoras se têm deficiência.
Por força da política fiscal em Portugal, a empresa só tem essa informação quando existe uma deficiência relativa a 60% de incapacidade. Em Portugal, contudo, o Employee Resource Group de Disability – colaboradores aliados que apoiam e promovem iniciativas dentro e fora da tecnológica – já tem mais de 80 membros. Só em 2021, este grupo informal organizou sete iniciativas internas, com cerca de 150 colaboradores a assistirem às sessões de sensibilização.
Também o Café Joyeux, que chegou a Portugal no final de 2021 para instalar o seu primeiro café fora de França, na Calçada da Estrela, em Lisboa, e que hoje já conta dois cafés em território nacional, está enfocado em captar talento diverso. O estabelecimento solidário tem um objetivo ambicioso: empregar cerca de uma centena de pessoas com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento, como a trissomia 21 ou o autismo desafios, até 2026. Pretende fazê-lo através da abertura de outros cafés-restaurantes, bem como da contratação de talento para eventos.
Esta terça-feira, para assinalar o Dia Mundial da Síndrome de Down, o Café Joyeux desafia todos os portugueses a calçarem meias diferentes em cada pé. Com este pequeno gesto simbólico, o Café Joyeux quer mostrar que a diferença é capaz de enriquecer as equipas. “E é uma mais-valia e que nos traz ainda mais alegria às nossas vidas”, assegura o Café Joyeux.
Formação. Chave para inclusão
A Gleba Moagem & Padaria uniu recentemente forças com a Academia Semear para promover sessões de formação teórico-práticas de padaria para os alunos da academia, bem como oferecer estágios de formação profissional.
“As experiências práticas em contexto real de trabalho ao longo da formação são a chave do sucesso para a confiança da pessoa e das empresas na integração socioprofissional. Portanto, nada melhor do que ‘pormos a mão na massa’ numa padaria como a Gleba, que não só valoriza e respeita os métodos ancestrais de confecionar o pão, como tem uma grande aposta na sustentabilidade, valores com os quais nos identificamos”, refere Carmen Vale de Gato, responsável pela inclusão socio-profissional da Academia Semear.
Fundada em 2014, a Academia Semear desenvolve programas que visam a inclusão socioprofissional no setor agroalimentar, nomeadamente produção agrícola, indústria alimentar e comércio, através de formação certificada, para pessoas com dificuldade intelectual e do desenvolvimento. O objetivo é proporcionar a estes jovens experiências reais em contexto laboral, contribuindo assim para a sua integração profissional.
Já a Microsoft tem também apostado na formação em diversidade e inclusão para todos os colaboradores da tecnológica. É atualmente parte do leque de formação obrigatória. Além disso, as pessoas envolvidas nos processos de recrutamento são também capacitadas com formação adicional, guias e outras recomendações para garantir que o processo corresponde a todas as necessidades dos candidatos.
Fonte: Sapo
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