Quando o seu filho Jake foi diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperactividade (TDAH), aos 11 anos, não ocorreu a Cary Colleran que ela também poderia ter a doença. Não lhe ocorreu que os compromissos de que se esquecia, as autorizações para a escola deixadas na mesa da cozinha, as datas mal lembradas das viagens de campo não aconteciam apenas porque era esquecida ou desorganizada.
Só oito anos depois de a criança ter sido diagnosticada é que se fez luz. Então, com 45 anos, Jake já estava na faculdade e, durante seis semanas foi às aulas erradas porque se esquecera de tomar os medicamentos. A mãe contou esta história ao médico, rindo e comentando que ela seria capaz de fazer o mesmo, que “quem sai aos seus não degenera” — na expressão anglo-saxónica, “a maçã nunca cai longe da árvore” — e o especialista respondeu-lhe que era possível que também ela sofresse de TDAH.
Com o aumento de crianças diagnosticadas com TDAH, nos últimos anos, pais que cresceram numa época em que esse diagnóstico era raro, começam a perceber que talvez também eles tenham o mesmo diagnóstico. Que anos de lutas focadas nos trabalhos da escola, a ser informados de que não estavam à altura do seu potencial, de aborrecimentos no trabalho ou de perda de controlo das coisas podem ser sinais desse transtorno.
“Quando falamos com os pais dos sintomas de TDAH, às vezes, olhamos para os seus rostos e percebemos o que estão a pensar: ‘Está a falar de mim. Eu não sabia que era isso. Eu não sabia como chamar ao que sentia’”, revela William Stixrud, criador do The Stixrud Group, especializado na avaliação de aprendizagens, atenção, dificuldades sociais e emocionais. “Eles pensam sobre o TDAH como fazíamos há 50 anos: que é ser hiperactivo e impulsivo o tempo todo. E algumas pessoas acham que está sobrediagnosticado.”
Para muitos pais, a sua própria jornada de diagnóstico de TDAH começa quando levam o seu filho ao pediatra porque as coisas não estão a correr bem. O filho é inteligente, mas não consegue concluir um trabalho. A filha sonha acordada em vez de fazer os trabalhos. O filho interrompe a aula e confessa que não sabe por que o fez. A filha estuda horas a fio e não obtem resultados. E os pais perguntam-se: Eu também sou assim?
“Normalmente, é assim que acontece”, continua Stixrud. “O TDAH é fortemente genético, então é extremamente comum os pais dizerem ‘eu era assim quando era miúdo’ ou ‘eu olho para ele e revejo-me’.”
Diferença neurológica
Pouco tempo depois de o pediatra ter diagnosticado Jake, a mãe esqueceu-se de o deixar no aeroporto para uma viagem da escola. Então, contou aos amigos, divertida, chorou quando ficou sozinha e decidiu marcar exames para saber se também tinha TDAH.
“Foi quando percebi que não podia continuar a ser aquela pessoa. Estava a falhar com os meus filhos”, conta Cary Colleran. “E foi aí que comecei a aceitar o meu próprio TDAH.”
Depois de uma vida inteira a sentirem-se inferiores porque acreditam que são desorganizados ou incapazes, os pais reconhecem que têm uma diferença neurológica, assim como os seus filhos. E muitos pais percebem que os seus filhos não são inferiores por isso, valorizando-os.
“Eu estava focada em obter as melhores informações e a melhor formação de pais para o defender e ajudar”, conta Jane Indergaard, cujo filho foi diagnosticado com TDAH aos 8 anos. “Estava a fazer muita investigação e o que eu lia apontava para a importância da saúde mental dos pais. Se as mães forem tratadas, seja para depressão, ansiedade ou TDAH, os filhos sair-se-ão melhor. Foi quando decidi fazer o teste.”
Existem várias maneiras pelas quais uma criança pode ser testada para identificar se tem TDAH, incluindo testes caros e detalhados com questionários e testes de computador. Existe a Avaliação Vanderbilt, de 55 perguntas, que geralmente é pedida pelo médico. As crianças também podem falar com um psicólogo e fazer os testes.
Foi o pediatra do filho que aconselhou Jane Indergaard a fazer uma versão menos intensiva da triagem detalhada de TDAH. O diagnóstico foi positivo e a mulher ficou feliz. “Sinceramente? Ouvir o resultado foi um alívio”, revela a enfermeira de 62 anos. “Porque, finalmente, tudo fez sentido.” (Continuação...)
Fonte: Público
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