terça-feira, 23 de agosto de 2022

A incrível viagem de Francisco dava um filme. Ele é capaz de nos dar muitos

Nas atividades diárias, nas aulas, nos desafios, Gilmário Duarte está quase sempre ali ao lado. É assistente pessoal e é um "grande amigo, muito carinhoso, que tem sido um bom apoio para preparar" o percurso de Francisco. É o próprio que o diz, numa conversa (...) que comprova a mensagem que se tem empenhado em passar: a trissomia 21 é uma condição, mas não precisa de condicionar o futuro daqueles que nasceram com ela.

Com um Curso Técnico Superior Profissional feito e a frequentar o segundo ano de uma licenciatura em Design e Produção Gráfica no Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa (ISEC), Francisco Mirão Vicente é a prova cheia de vida de que a vontade pode abrir muitas portas. E as que tem encontrado no seu caminho tem-nas cruzado ele próprio, com o apoio da família, do assistente Gilmário, dos amigos e colegas. Mas sobretudo com a sua garra.

De sorriso franco e discurso pausado, vai contando como, aos 22 anos, decidiu que devia partilhar com outras pessoas que também têm necessidades cognitivas que a trissomia 21 pode ser um obstáculo mas nunca será uma barreira inultrapassável. E se ele decidiu, desde muito jovem, que iria quebrar o preconceito e estender os limites das suas possibilidades, empenhando todos os esforços para conseguir continuar a estudar e aprofundar conhecimentos e possibilidades de futuro no ensino superior, não quis ser apenas uma exceção a confirmar as mais redutoras regras. Razão pela qual se dedicou a escrever um livro para partilhar métodos e ferramentas a que ele recorreu no seu percurso e que podem ajudar outros jovens como ele a usar o máximo das suas capacidades. Sem limitações.

Em Aprender É Para Todos, escrito a quatro mãos com o pai, Sérgio Vicente, coach de pessoas com necessidades de apoio cognitivo - e em cujo lançamento, em julho, contou até com a presença da secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes -, Francisco partilha os métodos que utilizou para estudar e trabalhar, não apenas nas aulas, mas fora delas, recorrendo à utilização de ferramentas cognitivas que se adaptam às suas necessidades.

"Se nos derem oportunidades, nós trabalhamos e aprendemos. Gostava que os jovens olhassem para mim, tenho muitas dificuldades mas tenho motivação suficiente para as compensar. Todos podem ver no meu livro", resume (...), sem esconder o orgulho no que já conquistou.

Para quem as palavras não chegam, basta passar-lhe em revista as conquistas dos 22 anos de vida para comprovar que fala muito a sério. Entre a natação adaptada no Sporting e o curso de dança, do rancho aos escuteiros, até os amigos que vai somando ao currículo, passando pela agência de modelos em que está inscrito, a Quick Casting, se há passos que ainda não deu foi porque não os quis dar.

Desde que nasceu e foi diagnosticado com Trissomia 21, os pais focaram-se nas suas capacidades, em vez de se limitarem a aceitar a deficiência, e estimularam-no desde pequeno a ultrapassar-se e a desenvolver todo o potencial que ia revelando.

Agora, é ele quem assume essa missão de levar outros mais longe? "É para ajudar, é para fazer", simplifica Francisco, explicando como as brincadeiras e as atividades na piscina, na dança e tudo o mais contribuíram para o seu desenvolvimento pessoal e admitindo que quer apoiar outros a fazer os seus percursos mais ricos.

Crescer a superar-se

Francisco Mirão Vicente respondeu a todos os desafios que a vida lhe trouxe com entusiasmo e capacidade de superação. Até tomar ele próprio as rédeas do que ambicionava para o seu futuro. "Gosto muito de estudar e dos trabalhos na área da multimédia. Aprendi ferramentas cognitivas para os fazer", conta, relatando as suas decisões e o apoio do assistente pessoal Gilmário, cuja importância reconhece em cada momento.

"Editar vídeos e áudios para praticar bastante" é uma paixão que vai repetindo nesta conversa, "trabalhar os audiovisuais diverte-me", diz, mas a independência que adquiriu, mesmo a viver com os pais, revela-a ao descrever o seu dia-a-dia. "Faço a minha cama, varro o chão do quarto, faço as várias tarefas. Também faço desporto, vou ao ginásio e é bom, é um bom exercício."

Fonte: DN

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