Os professores valorizam sobretudo a formação cívica e o desenvolvimento sócio emocional dos alunos no processo de aprendizagem. Os pais e encarregados de educação olham para a escola como um veículo de transmissão de conhecimentos científicos e tecnológicos. Estas são algumas das conclusões de um estudo feito pela Universidade Católica do Porto, realizado no âmbito da iniciativa “Escola Amiga da Criança”. Entre julho e setembro do ano passado, 3284 professores e 3286 encarregados de educação, de todo o país e representativos de todos os níveis de escolaridade, responderam a um questionário com várias perguntas.
Os docentes da área das ciências exatas são os que mais privilegiam a aquisição de conhecimentos científicos e tecnológicos. A formação cívica é o ponto mais valorizado pelos restantes docentes, sobretudo pelos mais velhos e pelas mulheres. Quanto ao tempo passado na escola, 71% dos professores consideram esse período excessivo, há horários preenchidos das 8h30 às 18h30. Os encarregados de educação têm uma visão diferente: 62% acham que o tempo que os filhos passam na escola é adequado. Nesta balança, as opiniões não se equilibram.
O estudo mostra um ponto de convergência. Professores e encarregados de educação referem que a escola está mais centrada na preparação dos exames dos alunos do que propriamente na consolidação das aprendizagens. Os resultados dos questionários revelam que cerca de 60% dos alunos do Ensino Secundário têm explicações de várias disciplinas – a percentagem começa nos 20% no 1.º Ciclo do Ensino Básico e aumenta até ao 12.º ano de escolaridade. Ou seja, à medida que se avança nos anos, mais estudantes em explicações.
São os alunos com notas acima da média da turma que frequentam esse apoio suplementar fora do horário escolar. O recurso a explicações é um dado que deve merecer atenção, segundo os autores do estudo. Um indicador preocupante porque, como sublinham, “leva para fora da escola a sua missão mais importante: a da aprendizagem dos alunos”. Por um lado, a verdadeira missão da escola é questionada, por outro, aponta-se para um agravamento das desigualdades sociais. As explicações não são um recurso ao dispor de todas as famílias.
Mais de metade dos docentes e encarregados de educação questionados olham para os trabalhos de casa como uma forma de apoio ao estudo. São perto de 60% da amostra. Quase 90% dos alunos têm TPC, 96% dos professores mandam “muitas vezes ou sempre” trabalhos para casa.
O estudo sobre a missão da escola foi pedido pelo psicólogo Eduardo Sá, mentor do projeto “Escola Amiga da Criança”. “A escola que os pais e os professores falam não é a mesma. Têm visões muito diferentes”, referiu em declarações (...). O responsável lembrou ainda que a grande maioria das crianças e jovens tem uma jornada que, muitas vezes, começa às oito da manhã e termina às oito da noite. “Qual a mais-valia dos TPC, principalmente quando têm de ser feitos entre o final do dia e a hora do jantar, levando as famílias a um ataque de nervos?”, questionou. No texto introdutório do estudo, Eduardo Sá escreveu que mais importante do que tentar repetir, é aprender a perguntar. “Mais indispensável do que tirar as dúvidas, é uma criança agarrar-se a elas para aprender a pensar”.
Será a missão da escola impossível? A pergunta serve de mote a um texto de Eduardo Sá no seu blogue a propósito do estudo e das perspetivas divergentes entre pais e professores, e que podem colocar em causa o sucesso educativo. “Afinal, qual é, mesmo, a função da escola? Se preferirem, dum modo mais direto: afinal, para que serve a escola? É claro que todos temos a escola como um bem precioso e indispensável. O sítio a partir do qual o mundo se democratiza e muda; se pensa e se recria. Mas, considerando aquilo que ela é, hoje, e comparando-a com os fundamentos em que ela se alicerçou desde a sua criação, aquilo que intuímos que deve ser a escola corresponde às respostas que ela nos traz? Por outras palavras, quando falamos da missão da escola, estaremos todos a falar da mesma ‘coisa’? A escola de que falam os pais e os professores será, em suma, a mesma escola?”, escreve no seu blogue.
Fonte: Educare
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