O mundo muda todos os dias e as crianças e jovens vivem cada vez mais ligados às novas tecnologias. Os conteúdos digitais acabaram por entrar no vocabulário corrente das escolas que têm quadros interativos, computadores com acesso à Internet, matérias que circulam por email, novas formas de expor o que é preciso aprender, pesquisas à distância de um clique. Mas isto não acontece em todas as escolas do país e as mudanças estão à espreita.
Em agosto deste ano, o Presidente da República aprovou o diploma que permite ao Governo adotar manuais digitais em formato tablet. A proposta partiu de Os Verdes e foi aprovada por todos os partidos, com a abstenção do CDS-PP, em julho passado. Um dos argumentos do partido ecologista é acabar com o peso excessivo que os alunos carregam de mochilas às costas.
“A desmaterialização dos manuais escolares constitui um instrumento capaz de contribuir significativamente para o objetivo de aliviar os estudantes dos pesos que transportam diariamente para a escola”, defende o Parlamento. A desmaterialização dos manuais escolares tornou-se assim um imperativo político e já há escolas a testar este modelo em projetos-piloto. Esta mudança, do papel para o digital, reúne um alargado consenso nas escolas, nos pais, nos partidos políticos. Mas estará o sistema preparado para essas alterações? O que vai acontecer?
Ainda não foi no início deste ano letivo que a transição do papel para o digital se concretizou. O Ministério da Educação (ME) assumiu que não havia condições para avançar com os manuais digitais e anunciou o arranque de uma avaliação nas escolas, no sentido de perceber de que forma a medida poderá ser colocada em prática. A tutela quer então apalpar o pulso à realidade dos estabelecimentos de ensino.
Em fevereiro deste ano, deu entrada na Assembleia da República uma petição contra o peso excessivos das mochilas com mais de 48 mil assinaturas, hoje tem quase 50 mil. O documento pedia uma legislação, com carácter definitivo, para que o peso das mochilas escolares não ultrapasse os 10% do peso corporal das crianças, conforme aconselhado por várias associações europeias e americanas. Pedia também a obrigatoriedade de as escolas pesarem as mochilas das crianças semanalmente para avaliarem se os pais estão conscientes desta problemática. Para isso, sugeria uma balança digital em cada sala de aula, bem como a disponibilização de cacifos para que “todos os alunos consigam deixar alguns livros e cadernos, de modo que possam deslocar-se entre as suas casas e a escola com menos peso”.
“Podendo existir a opção de os alunos utilizarem o suporte digital, segundo o critério de cada escola, exigir às editoras responsáveis pela produção de manuais escolares o seguinte: que criem livros/manuais escolares com papel mais fino, de gramagem menor, ou divididos em fascículos retiráveis segundo os três períodos do ano; que os conteúdos dos livros/manuais escolares sejam o mais concisos e sintéticos possível, de modo a diminuir o volume e o peso dos mesmos”, lia-se na petição.
Depois disso, foi criado um grupo de trabalho para apresentar medidas para que os alunos deixem de carregar, em média, cerca de 12 quilos nas suas mochilas. Fala-se na necessidade de investir mais em quadros interativos e na internet nas escolas e as editoras garantem que estão preparadas para a transição do livro em papel para o digital. A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros referiu, aliás, que essa transição já começou.
“A escola-alfaiate”, defende o ministro
O Plano Tecnológico da Educação (PTE) foi aprovado pelo Governo em 2007. Dez anos depois, o Ministério da Educação lamenta o fim desse plano e garante que quer recuperar o atraso que a opção provocou. Na opinião do atual ministro, essa foi “uma decisão errada, que criou um défice oculto nas competências de muitos alunos”. Tiago Brandão Rodrigues adianta que o Governo está a “desenvolver uma estratégia articulada, centrada na qualidade das aprendizagens dos alunos, e coerente com a Iniciativa Nacional Competências Digitais INCoDe.2030”. E explicou o que se pretende. “Esta estratégia passa pela promoção de ambientes educativos inovadores, que estimulem a aquisição de competências na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), pelo incentivo à utilização de recursos educativos digitais e pela formação de professores.”
Numa conferência em Lisboa, o ministro terminou o seu discurso dirigindo-se aos professores com uma citação de Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos. “Todos os dispositivos sofisticados e wifi do mundo não vão fazer diferença se não tivermos grandes professores nas salas de aula.” Tiago Brandão Rodrigues, nessa conferência, defendeu uma “escola-alfaiate”, uma escola à medida de todos e de cada um. “Chega agora o momento de encontrarmos a resposta que melhor nos convenha para, de uma forma longa no tempo, assegurarmos a escola-alfaiate que o mundo contemporâneo já há algum tempo nos vem exigido. Uma escola à medida de todos, de cada um, da nossa rua, como do nosso mundo”, referiu.
O ministro recuou no tempo e lembrou as conquistas de Abril. “De uma escola elitista, passámos com Abril, a uma escola democrática. De uma escola classista passámos, com Abril, a uma escola universalista. De uma escola quase que caridosa, passámos, com Abril, a um Serviço Nacional de Educação.” “Pergunto-me se haverá alguém melhor do que quem faz as escolas todos os dias para, com a liberdade cívica e com a responsabilidade profissional que os caracterizam, gerir parte dos recursos, dos tempos, dos espaços escolares e valorizar os conteúdos educativos e as práticas pedagógicas que melhor respondem ao contexto que é o seu.”
O PTE foi apresentado como o maior programa de modernização tecnológica das escolas portuguesas e com a ambição de colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados ao nível da modernização tecnológica das escolas até 2010. A infraestruturação tecnológica dos estabelecimentos de ensino e a disponibilização de conteúdos e serviços para reforçar as competências TIC de alunos e professores eram objetivos do plano que anunciava a ligação à internet em banda larga de alta velocidade, o aumento do número de alunos por computador ligado à Internet, e mais professores com certificação em TIC. “O PTE é uma oportunidade de transformar as escolas portuguesas em espaços de interatividade e de partilha sem barreiras, preparando as novas gerações para os desafios da sociedade do conhecimento”, sublinhava o então Governo há uma década.
Fonte: Educare por indicação de Livesco
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