Já nos explicaram há muito os estudiosos da cognição que nós organizamos o nosso pensamento por categorias. Ao olharmos o mundo e ao estabelecermos categorias sobre objetos, pessoas, factos, ideias, etc. fazemos uma verdadeira “operação” (no sentido de “intervenção”) sobre o mundo, operação esta que chamamos cognição. Talvez seja por este motivo que temos tanta dificuldade em pensar fora das categorias ou mesmo independentemente delas. Estamos habituados a meter o mundo em caixinhas (como as daqueles móveis contadores indoportugueses) e, se alguma coisa está fora da caixinha onde deveria estar, torna-se bizarra, incompreensível e estranha.
As categorias servem para nos organizar o pensamento, mas há situações em que as categorias não dão conta do recado, isto é, não nos ajudam a pensar. As categorias dão má conta de si quando têm que lidar com variáveis que não são “isto ou aquilo”, mas que são variáveis contínuas. Aqui o sistema de categorias fica perplexo à procura do momento, do lugar do corte. Muitas vezes perguntei aos meus alunos “Quantos cabelos é preciso perder para ser considerado careca?” ou então “Quantas boas ações é necessário praticar para ser considerado bom?”. Aqui, nestes casos o sistema de categorias mostra-se incapaz de estabelecer um limite que não seja questionável e subjetivo. E então, se são subjetivas para que servem as categorias?
A Inclusão é um destes conceitos que se dá mal com categorias estritas e delimitadas. Todos sabemos o que deveria ser uma escola inclusiva, mas, será que existe uma barreira clara delimitada entre as práticas inclusivas e as não inclusivas? Se olharmos “teoricamente” para a realidade encontraremos estas inultrapassáveis diferenças, mas se a olharmos de forma contextualizada, teremos que concluir que, muitas vezes, a inclusão se disfarça e se mostra de múltiplos e diversos ângulos.
Sempre se pergunta se somos ou não inclusivos. Lembro-me que na vida religiosa muitas vezes as pessoas são confrontadas com este dilema:” Sou crente ou não?”. Somos ou não inclusivos? Eu diria que todos nós temos momentos em que nos aproximamos mais da inclusão e outros em nos afastamos. Talvez como um crente se aproxima mais da divindade nuns momentos e se afasta mais noutros.
Gostaria de deixar aqui a ideia que a inclusão é um caminho, um processo um percurso. E que todos estamos nele: uns andando mais depressa e mais a direito do que outros. Mas estamos todos no caminho. Portanto não vale a pena perguntarmos se somos inclusivos; vale sim a pena perguntar “O que é que eu hoje fiz para que o meu trabalho me aproximasse mais de uma escola e uma sociedade mais justa, mais equitativa, enfim, mais inclusiva?” É a pergunta do hoje…
David Rodrigues
Fonte: Newsletter n.º 106, fevereiro 2017, Pró-Inclusão
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