quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Pais de sobredotados estão a emigar por causa dos filhos

A Associação Portuguesa das Crianças Sobredotadas alertou hoje que há pais a emigrar para proporcionar aos filhos uma aprendizagem que estimule as suas capacidades, que dizem não encontrar no ensino em Portugal.

O retrato é feito por Helena Serra, dirigente da APCS, em vésperas do seminário internacional "Sobredotação Mitos e Rumo", que a instituição promove, na sexta-feira e no sábado, em Lisboa.

Helena Serra admitiu à agência Lusa que há "famílias que procuram fora do país, para os seus filhos, um outro envolvimento educativo, mais enriquecido e que estimule as suas capacidades", assinalando que a associação tem recebido "inúmeros desabafos de pais que veem os seus filhos a entediar, a sofrer nas escolas por falta de desafios na aprendizagem".

A docente apontou, a este propósito, a ausência nos agrupamentos escolares de uma equipa com formação que "assuma o envolvimento psicopedagógico destes casos, identificando-os, orientando e formando professores, dando vida a programas de enriquecimento" que estimulariam e orientariam as crianças e os jovens sobredotados na sala de aula partilhada com outros alunos.

A APCS reconhece que "professores com muito alunos, eventualmente com défices e com elevadas capacidades", veem "dificultada a sua ação", pelo que sugere turmas mais pequenas e a presença de dois professores na sala, com as crianças a terem "planos de aula diferenciados".

A docente da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, no Porto, lembrou que a criança e o jovem sobredotado necessita, na sala de aula, de ser orientado para novas pesquisas, novas fontes de informação, novos desafios, sob pena de se desligar dos estudos e da escola "porque já sabe".

Para Helena Serra, não faz sentido, por exemplo, que um professor ensine repetidamente um teorema que não é novo para um aluno que o descobriu sozinho.

"Os pais sofrem, porque sentem os filhos deprimidos, talvez desencantados com a escola, agressivos, sem adquirir hábitos de trabalho, sem motivação", frisou, alertando que a falta do devido acompanhamento familiar e escolar pode levar os sobredotados a isolarem-se, a descrerem, a desinvestirem e a abandonarem a escola, ou a tornarem-se deprimidos.

Alguns, de acordo com a presidente da Assembleia-Geral da APCS, "podem cair nas dependências, tentar o suicídio, ficando pelo caminho".

Helena Serra menciona, também, os "muitos casos bem-sucedidos" de crianças e jovens, que encontraram nos pais, num professor e nos colegas "alavancas para a procura do conhecimento e adequados suportes afetivos no crescimento".

Contudo, na hora da procura de emprego, alguns recém-licenciados ou doutorados vão para o estrangeiro, porque Portugal "não corresponde aos seus anseios", advertiu.

A Associação Portuguesa das Crianças Sobredotadas promove, entre outras ações, consultas psicológicas e psicopedagógicas. Tem em curso, no Porto, em Vila Nova de Gaia, Beja, Nelas e Lisboa, um programa de enriquecimento das capacidades dos mais pequenos.

O programa, que se realiza nas escolas, aos sábados, inclui uma série de atividades ligadas às ciências e às artes que, de acordo com Helena Serra, "dão alimento à curiosidade das crianças" e promovem "a aprendizagem e a socialização adequadas".

Regra geral, as crianças sobredotadas demonstram, segundo a APCS, excecional desempenho na linguagem, rapidez de aprendizagem, avidez pelo saber, interesse extemporâneo e vincado em temas de ciência, expressão criativa, habilidades artísticas ou psicomotoras e raciocínios lógico matemáticos.
In: DN

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