A revisão da legislação sobre o ensino profissional, que permitirá aos alunos do 6.º ano de escolaridade optar por esta via, está quase concluída, mas a medida preocupa especialistas em educação que temem uma "seleção precoce" dos estudantes.
"Está em curso a revisão da portaria (sobre ensino profissional) que deverá estar concluída muito em breve. As mudanças vão permitir que os alunos do 6.º ano possam integrar esta formação em alternativa à escola (tradicional). Além disso, deverá também ser alargado o limite de idade de acesso, que passa dos atuais 24 para os 30 anos", divulgou, esta sexta-feira, a diretora do Serviço do Departamento de Coordenação da Oferta Formativa do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Carla Gouveia.(...)
"O que foi hoje aqui revelado não é garantidamente o melhor caminho", alertou Augusto Pascoal, contestando a hipótese de os alunos poderem seguir para uma via profissional logo no 6.º ano.
(...) Augusto Pascoal lembrou o caso alemão para explicar os seus receios: "Na Alemanha, são as escolas que decidem se os alunos devem continuar no ensino regular ou se devem seguir para o profissional. A decisão é feita com base nas notas e os pais não têm direito a escolher ou orientar o percurso dos seus filhos. Quem decide é a escola".
O diretor pedagógico do INESETE é um defensor do ensino profissional a partir do 9.º ano, como acontece atualmente em Portugal. "Quando os alunos têm insucesso escolar, o ensino profissional é uma escolha que os pode motivar e fazer acreditar que são capazes. Mas ser uma opção logo no 6.º ano é perigoso porque poderá criar segregação de alunos", alertou.
Uma posição partilhada pela presidente do CNE, Ana Maria Bettencourt, que teme uma "seleção precoce".
(...) a presidente do CNE recordou recomendações internacionais que defendem um ensino regular, igual para todos, até ao 9.º ano. "O CNE também defende o ensino regular até ao 9.º ano. É um sistema mais equitativo. Fazer uma separação precoce de alunos é recuar em termos de equidade".
O relatório "Estado da Educação2012" sublinha precisamente que o sucesso escolar está relacionado com a origem social das famílias, ou seja, que as crianças de famílias carenciadas têm mais dificuldades em obter bons resultados escolares.
Permitir o acesso do ensino profissional "aos 12 ou 13 anos é corrermos o risco de estar a selecionar as pessoas que têm origens sociais mais frágeis", alertou Ana Maria Bettencourt.
Apesar dos alertas, o Governo prefere salientar que "Portugal precisa de técnicos intermédios para desenvolver a indústria e combater o desemprego", segundo palavras do secretário de estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho, também presente no seminário.
"O Governo está fortemente empenhado na estratégia de criar um sistema dual, mas acima de tudo em responder às especificidades dos jovens e às necessidades das empresas", afirmou João Granjo.
In: JN
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